Literatura Brasileira
Quão bom seria se abandonássemos a dialética que diz que um homem é o que o outro homem o faz ser; as pessoas seriam apenas a sua própria realidade, não mais uma mera construção teórica, e quase incompreensível.
O leitor desempenha o papel mais importante em uma obra literária: o livro fala e ele sabiamente responde. Ele é o personagem invisível, companheiro ou crítico de todos os demais.
Enigmas
Um caminho longo e uma ponte que fala,
um monte gigante e uma flor sob o sol,
no coração do monte há um vulcão flamejante,
o monte está a ponto de entrar em erupção,
e já não sabe o que fazer com o seu fogo ardente,
para que ele não exploda e queime a flor,
que vive de admirá-lo em suas encostas.
Extasiada está sempre aquela pequena flor,
pelo arrebatamento que lhe causa o monte.
Imagina que a flor tem o sonho de tocar seu coração,
e o monte tem um desejo ardente de encurvar-se
até tocar em suas pétalas para ali adormecer seu coração.
Ao lado do monte está aquela ponte inquieta,
sussurrando incentivos de partidas constantes,
vem! Vem! A ponte chama a flor sem cessar.
Como se a ponte também amasse a flor,
e do pé do monte, a ponte a flor quisesse arrancar.
Mas que nada! Que nada! Somente impressão!
A ponte é apenas um enigma que abre a sua boca para reclamar,
mas seus desejos claramente, a ponte não consegue expressar.
No meio da ponte está adormecido o tempo,
que nela, a sua fadiga foi descansar.
Como pode o tempo no meio da ponte assim parar?!
Cadê a força desse tempo que não deseja mais passar?
Há um passarinho que seu bico não consegue calar,
está sempre transportando assobios entre o monte e a flor,
dia vai, dia vem, e o passarinho com seu bico cheio de assobios,
leva aos ouvidos do monte as declarações de amor da flor,
e desce de lá com o bico repleto de assobios do monte,
para entregar fielmente aos ouvidos da flor.
Mas até quando? Até quando?!
Até quando o tempo na ponte vai descansar?!
E por qual motivo o tempo não consegue despertar?!
O monte até que tenta, se esforça para encurvar,
mas o seu orgulho é ainda muito maior que o amor,
que no seu coração sente pela pequena flor.
E o tempo? O tempo até que tenta acordar,
mas a ponte sem perceber segura o tempo,
e no impulso de suas contradições e impasses,
impede o tempo de despertar e mudar as coisas para sempre.
Rozilda Euzebio Costa
Savanas
Nas savanas agrestes e selvagens dos teus olhos,
minha alma caminha solitária e amedrontada,
onde está a tua caverna aconchegante ó rei leão?
Dá-me de beber das águas de teu riacho escondido,
Tenho sede, tenho sono e tenho tanto medo!
Não vês que padeço nas trilhas de tuas perigosas savanas?
Volta os teus sentidos em minha direção,
vem me encontrar nesta penosa paisagem,
onde tudo parece querer me devorar,
até o sol se torna inimigo ao meio dia,
e o vento a ele se curva em obediência.
As noites são senhoras sombrias e misteriosas,
que me fazem os terríveis pesadelos encontrar.
Quero pão, quero vinho e quero o teu peito,
e nada mais me importa senão a minha vida junto a tua.
Nas alvoradas coloridas e refrescantes,
centenas de andorinhas passam pela minha visão,
Onde vão? Onde vão todas elas voando nesta imensidão?!
Procuram certamente novas terras e novos cenários,
porque ninguém é feliz onde não consegue criar raiz.
A planta dos meus pés procura o vaso do teu coração,
acorda rei leão! Acorda deste sono de tamanha profusão!
As feras desta fria e assustadora paisagem,
me olham obstinadas como se eu fosse um pão,
estão famintas e querem alimentar suas necessidades,
mas há uma força que me transporta e me liberta,
desta fome feroz que a vida faz atingir a todas elas.
E no abstrato contexto de minhas razões,
surgem os gigantes pensamentos em discussão,
decidem entre eles o que fazer de minha desolação,
e me carregam para longe das bocas devoradoras de sonhos.
Reclina-te sensivelmente à altura do meu olhar ó rei leão!
Olha dentro dos meus profundos e cansados olhos,
neles, está o mapa que nos levará rumo ao paraíso.
Pegue o mapa sem demora e o decifre,
para que esta viagem não fique perdida na vegetação de alguma curta estação.
Rozilda Euzebio Costa
Papo mais que reto, necessário.
“Seja uma pessoa melhor a cada dia
Acessando a sua essência.
Por que a estória do “ eu sou assim”
Não ti leva a lugar nenhum...”.
A essência da poesia
Está nas rochas
No som que o mar revolto produz
No silêncio falante da natureza
Naquilo que só o coração sensível o suficiente consegue perceber.
Uma história nada mais é que uma mentira. Uma ilusão. E essa ilusão só funciona se confiarmos nela.
O perigo de entrar apaixonadamente no mundo dos livros é o de nos tornarmos, nós próprios, num aglomerado de pequenos excertos literários.
Vagalumes brilhantes
Tantos vagalumes tentando brilhar,
E suas existências serem reconhecidas.
Sim é um direito natural.
Possuem essa consciência.
Em maior e menor compreensão.
Do que seja vida.
Como atribuir culpar em desejar
Apresentar seus melhores atributos.
Durante percorrem. De um ponto para
Para outro ponto no tempo.
Já sabem que é breve esse momento.
E apenas buscam perpetuar-se.
E o que sobra. Apenas o acumulo de
Conhecimento que servira para embasar
Conhecimentos maiores no futuro para
Controlar a natureza. Que na sua passividade.
De tempos em tempos . Coloca tudo ao seus
Lugares. Apreendemos a sobrevivermos
Pela união dos esforços em nos protegermos.
Das intempéries da vida. E de nossas fraquezas
Também. Alguns já conseguiram unir e partilharem
Mais. Outros continuam escravos das ideias que
De singularidade e medos. O que leva a falta de
Controle dos egoísmos. E ficam vampirizando
Tudo o que enxergam pela frente. Decorrente
Da falta de auto estimas. Ou segurança o que se
Denomina narcisismo. E assim segue a humanidade.
Não somos os primeiros e nem seremos os últimos.
Muito foi alcançado. Vários foram os fatores que nos
Trouxeram até aqui. E já não me importo. Os fatores
Que nos irão , remover-nos daqui.
Sei que a Vida seguirá. Com homem, insetos o anfíbios.
Mas tenho certeza. Esse planeta não é do homem.
O homem é desse Planeta. Querendo ou não.
E antes de se prostra ao Deus de sua Compreensão.
Precisará tratar todos os membros da natureza,
com referencia e respeito.
Viver dentro do lixo que o homem próprio produz
É um contrassenso que a própria natureza já identificou.
A cada agressão da natureza. Menos uma chance do homem
Em serem hospedes desse mundo. E que irar chorar por isso....
Agora vários animais e plantas estão tolhido de suas
Vidas. E alguém esta sofrendo por isso.... O mesmo será
Pelo homem.
A necessidade de acumulação de conhecimento até chegar
A uma consciência do todo. Precisa de algum tempo.
E ao invés de usar da consciência do todo.
Preverem a chibata do poder a todo o custo.
Da Auto referencia e alcança da eternidade por feito.
Que perecerão com o tempo. E daí. O fracasso
Na distribuição dos méritos . E do crescimento da
Vaidade do poder. Que não dura oitenta anos.
Se repetindo o carnegão de geração a geração.
Como pecado original . Daqueles que sobrepõe,
E subjugam as leis do mercado da vida.
Onde, quando se retira alguma coisa de algum lugar,
Que não deveria. A natureza precisará preenche-la.
com outra energia com a parte material é consumida.
Para redenção de todos. Porem a própria energia voltará,
A cobrar a energia faltante. E não se separa daquele que
A possuiu sem direito. Até o último pagamento.
Em cada interação no universo. O homem precisar
Sair justificado. Aí o grande desafio.
Se não poder realizar o bem. Precisa sair neutro de uma
Interação. E isso se faz do julgamento que possui.
Se interpretar e julgar errado. O Criador é neutro.
E a medida que julga irá incorpora o julgamento na
Própria carne. E na medida que mede. Será medido.
Está aí o grande desafio da vida. O resto e liturgia.
Adereço e egoísmo decorrente do medo.
E fechando-se os olhos para isso. Entrega-se
A cegueira espontânea e convencional.
Ignorando que a Vida é um sopro divino.
Que mantém a consciência.
E faz questão de ignorar o homem,
Com o desenvolvimento do sentido de
Humanidade. Só conseguirá evoluir coletivamente.
Havendo , ou não a chance de entrar na linha de
Reencarnação. Ou não. Mas se consegue sair de
Cada inteiração de modo neutro. Mais leve de
Torna o caminha por esse período de tempo
Nesse planeta. Senão ficará pregado na própria
Cruz que criou. Durante a Vida, os anos, dias, horas,
E minutos. Constantemente, até que venha o livramento.
Com o desligamento dos fios que o mantem vivo.
A matéria que volta para terra. E a Vida que continua
Animando todos os seres desse planeta.
E o homem.... Pergunte aos que se foram.
Marcos fereS
Exercício
Não posso ver
Mas posso sentir
Não posso tocar
Mas posso vibrar
Não posso falar
Mas possuo imaginação
Não posso caminhar até você
Mas posso voar até você
Não posso vociferar seu nome
Mas posso flutuar em suas palavras
Posso
Posso
Posso
Até que tudo passe
Vire outra paisagem
E nesta
Miragem
Você ainda
Me pertence.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Meu Deus
Quero ir embora
Quero ir para o meu Goiás
Lá ando nu
Pelas savanas
Escondo-me no capim dourado
Vestido de bicho bravo
Quero ir embora, meu Deus.
Quero ir para o meu Goiás
Ficar debaixo do sol
Manobrando meus instintos
Atento aos ruídas do dia
Beber água do absoluto Araguaia
Ficar lá só e somente
Onde nada toca insistentemente
E tudo roça levemente
Ai, meu Deus,
Quero ir embora
Quero ir para o meu Goiás
Onde a lua cheia
Clareia as queda d’água
E polvilha de choro
Que as avista
Quero ir embora, meu Deus.
Mergulhar à noite
Em seus grãos dourados
Sentir-me empoeirada
De ventas de todo Brasil
E neste batismo
Quero ir para o meu Goiás
Chegará planície
E nesta lonjura
Avistar a chuva
Esconder nas vielas
Cheirar outros tempos
Amainar a saudade.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Inverno Intenso
Não era verão
Mas choveu
Era inverno
E a água desceu
Não era hora
Mas agora
Aconteceu
E com a terra encharcada
O que há de se fazer?
O frio seria intenso
Com a terra molhada
Brota
Tudo brota
E eu nesse sentimento
Nesta terra sem tempo exato
Vou trocar de roupa
Viver outros sentimentos
Outros tempos
Passar
Outras horas
Até que tudo se resolva
No tempo exato
Do coração.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Espera
Você me cozinhou
Não sei dizer se
Por aflição
Ou compaixão
Cozinhou
Verbalizou
Sentiu e
Aconteceu
Do seu lado
Do meu lado
Aqueceu
Dourou sentimentos
Te esperou
Te agradou
E escorreu
Pelo meu rosto
Subscrição
Apalermada
Abalada
Assustada
Do seu rosto
Ousado
Audacioso
Arrojado
Atrevido
Abalanceado
E no tremor
Do quebra-luz
Aquém
Do subornável
No agitar dos sedimentos
Estremecimentos
Nós
Apesar de tudo
Vivemos o todo.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
A árvore da ignorância
Precisa do Machado
Pra ser cortada.
Para que haja luz
Do conhecimento...
Eu sou uma mistura de
Machado de Assis e Carolina de Jesus.