Literatura Brasileira
Ser convidado a ler o rascunho de outro escritor é o equivalente literário de ser convidado para ajudar um amigo a mudar o sofá para um novo local.
Eu meio que criei um personagem odioso. Nesse conflito dele com a natureza, eu torceria pela natureza. Tive um certo receio de que essa antipatia pelo personagem prejudicasse a leitura, que os leitores abandonassem o livro por isso. Mas fico feliz que os leitores têm apreciado o livro, mesmo detestando o personagem, e que alguns até conseguem ter simpatia ou atração por ele.
Meus temas e meu universo não são convencionais no meio literário. Minha aparência também não. Por um lado, essa desconfiança vem diminuindo, porque já tenho mais de dez anos de carreira, oito livros, não sou mais um garotinho. Mas também me sinto mais confortável para ousar, tanto no discurso, na aparência, quanto no texto.
Separo-me, porém, de ti; já passou o tempo. Entre duas auroras, me iluminou uma nova verdade. Não devo ser pastor nem coveiro. Nunca mais tornarei a falar ao povo; pela última vez falei com um morto.
Pesquise. Alimente o seu talento. A pesquisa não só vence a guerra contra o clichê, é a chave para a vitória sobre o medo e a sua prima, a depressão.
As histórias são a conversão criativa da própria vida em uma experiência mais poderosa, mais clara e mais significativa. Elas são a moeda do contato humano.
sabe
meus versos são tristes
não importa onde eu
esteja
ou sobre o que esteja
escrevendo
são tristes, banhados na
mais pura melancolia
carregam em sí a dor de
um poeta medíocre
mal resolvido
que desconta sua raiva
naqueles versos
pobres versos..
mas afinal, o que posso fazer?
não posso os soltar
não posso deixar com que
essa tragédia se espalhe
por aí
essa tristeza, essa raiva, esse medo
pertencem a mim, apenas a mim
são os meus versos, a minha tragédia
e ficaram presos aqui, nesse poema
para sempre
Olhei o céu e era tarde,não para recomeçar e sim para pensar que era fim. Já não se pode ter fim, quando se vive em reticências! A'Kawaza
Néctar
Hoje de fato sei o que é amar, sou escravo fiel de um amor que me domina a alma,trazendo em mim a essência da minha mais desconhecida existência.
Cada vez que ouço sua voz, seja dizendo o que for, me causa um tremor, me arrepiando a pele causando um rubor, rubor esse que me deixa desorientado, sem rumo, sem lógica, sem paredes,sem fronteiras.
Todos os dias acordo sendo feliz, com a doce amargura de amar, todos os dias durmo sendo infeliz com o gosto do fel, que é o medo de perder você e então enquanto durmo, sinto seus braços cruzando meu peito,me aninhando a você, me tornando seu.
Sinto o cheiro da madrugada chegando, fria, calma, transmitindo a sua habitual tranquilidade, enquanto a madrugada chega serenamente, seu corpo encontra o meu e como se fossem dois meteoros se põe a viajar um no outro no mesmo mundo, um só mundo, esse mundo, nosso mundo!
O que seria de mim se não tivesse conhecido o amor verdadeiro? O que será de mim se um dia esse amor for embora? Rezo ao universo que eu só perca pra morte e se for pra morrer que eu morra primeiro, pois a dor de viver sem você me soa infinitamente pior que a morte. A morte pra mim é como a madrugada, só que dessa vez não teria seu corpo quente ao meu lado e nem seus braços me tornando seu.
É muito bom provar desse sabor, sabor esse que achei que conhecia, depois de ter matado os meus heróis, de ter destruído os meus castelos e sim, deixado viver somente os meus dragões. Você surge e me faz provar do néctar que é esse sentimento, que vai além da paixão, é uma paixão a cada dia e pela mesma pessoa. Aqui estou eu disposto a construir novos castelos, transformei você no meu herói por ter me resgatado do fundo do abismo chamado solidão, por ter estendido a mim a corda da crença, por ter com seus lábios, olhar e mãos me elevado ao mais puro e continuo êxtase, o seu Amor.
A'Kawaza
Ruínas
Tento eu reconstruir a mim, tento superar a ausência dele sem nem ao menos ele ter partido. Enquanto ele corre atrás de seus sonhos libidinosos, assim dito por ele, eu libidinosamente o desejo ainda, mesmo sendo esse desejo desaconselhável e avassalador. Um turbilhão de palavras chegam aos meus ouvidos, oriundas das bocas que me amam e o escarnecem. A razão me leva a mim e o coração sangrando de tantas feridas abertas por ele me leva, só me leva! E agora? Onde estarei? Pra onde vim? De onde eu saí? Eu saí?
Esse emaranhado de perguntas me fazem lembrar do que eu sempre tive certeza, eu o Amo!
Ele, seco em possuir o mundo, deixa com que o mundo o possua, lembra e sabe, descobre e retorna, ao lar que estranhamente sempre foi seu e volta a mim e não para mim, que ainda, mesmo que não queira, quer e é seu. Sua destruição e seu desejo infringiram a única regra que não se podia quebrar, não viole a fidelidade dos sentimentos.
Seu desejo de ser do mundo , o fez esquecer da fidelidade dos próprios sentimentos, o fez esquecer o que se sente, só a sua putrefação o fez lembrar que um mal ou bom filho à casa torna! Agradeça a seus Deuses e Demônios. E lembre-se tu és mortal, não precisas testar a durabilidade de tua carne!
A'Kawaza
Sobre o que você faliu.
Você veio de uma vida de corpos, drogas e boa música, as letras verdades, poemadas e ritmadas, nunca foram tão vazias, quanto as palavras faladas por ti, sim prefiro o escritor. Aquele poeta meia boca que me seduziu e engoliu inteiro sem nem me deixar respirar. Mas, eu como diz suas letras formadas, me debatia em ti e sim me debatia demais.
Me debatia demais porque conheci além do poeta, porra, que merda que eu fiz. Conheci além do faz de contas, sobrevivi ao encantamento, trouxe o pior de você, para que tu mesmo pudesses conhecer, ensinei que pra ser bom, não se precisa sofrer ou fazer sofrer.
É você não aprendeu, tornou a ir e sem nem o ter aprisionado o soltei. Voa folha, voa e caia na água, pois folha solta sem caule, morre de fome. O que esperar de um homem folha?
Ele vive de sugar pra se alimentar. Suga a força do sol e os nutrientes da terra, não iria sugar a mim, árvore fincada e com raízes sólidas, árvore de valores invertidos e concebidos?
Não se trata apenas de libertar a folha para a morte, mas quis tanto que a folha apenas aprendesse algo quando ela fosse.
Ela/Ele se foi e me deixou no silêncio da ignorância, no bloqueio frio de algo que poderia nos conectar, mas eis-me aqui conectado a ti pelo que jamais te largou, desejando intimamente que tu caias na água e brote de novo.
Desejando aqui que tu brotes e vire árvore e que lembre-se que o tempo passou e trouxe consigo o enigma da metamorfose, agora sou água e posso sua fome matar.
A'Kawaza
Uma seiva de cinza
A cidade cinza não atrapalhava ver o brilho de cada olhar morto, aliás, tudo era tão fúnebre, quanto o sorriso de uma criança. Crianças, elas normalmente são felizes, ou deveriam ser, talvez seja por que elas não saibam que vão crescer, que terão que pagar contas e gastar o dinheiro pra se alimentar, talvez elas não saibam que vão passar 08:00, 12:00 horas trabalhando, é elas não sabem.
A inocência então é a fórmula da felicidade? Ou será a ignorância? Se for a ignorância, porque será que "conhecimento não ocupa espaço"?
Cair na ignorância ou voltar a ser inocente é algo que não sei se me deixaria feliz, me alimentei tanto de conhecimento, de corpos de línguas e seus sucos, bocas e suas palavras.
Não quero deixar de comer, nem de me embriagar de cada ser que eu poder tocar. Enveredo-me em um labirinto de corpos e mentes que eu sugo até o último sumo, até a última gota, engordando assim minha "feliz" solidão, vivendo assim a minha feliZcidade.
A'Kawaza
Sobre o tempo...
Três décadas atrás comecei a contar meu tempo, tempo que eu conheci Cronos, tempo que conheci Tempo, tempo que conheci Kitangana.
Sobre o tempo, ainda é pouco tempo pra que eu escreva sobre ele, nem sei se é perda de tempo, me ajuda Tempo.
Parei de ter crise existencial, Tempo mostrou-me que eu o estava perdendo, parei de contar o tempo, agora conto com ele.
Atento-me ao tempo, tempo que não para, tempo que não começa, tempo que não termina é tudo é sempre.
Então Tempo de todo tempo, tempo que embala tempo, tempo que badala tempo, me ajude a ter mais tempo, não me faça o perder, apenas quero aproveitar você! E no tempo de minhas três décadas Zara Tempo!
*Kitangana e Tempo Nkisi de matriz Africana
A'Kawaza
Tu pra mim.
Era Julho, deveria estar frio e frio nunca ficou, me aqueci ao te ver e ao saber que iria te encontrar e sim te encontrei e tudo doei.
Doei e doei a ti tudo o que um pobre e solitário mortal poderia doar, achei que tudo estava morto e que nada em mim poderia estar vivo além de minhas crenças, além do meu sagrado.
Sim, tudo estava em uma espécie de transe e ao sentir a saliva de tua existência, tudo acordou e vi que o céu voltara a ser azul e que o mar voltava a me sorrir, sim era inverno e mesmo assim consegui ver o azul dos céus.
E você veio, me olhou com a cara de um menino, com seus olhinhos infantis e sua pouca idade.
Você nada tem de menino, seus olhos já viram mais do que os olhos de muitos anciãos, seu corpo já viveu mais do que o corpo de muitos experientes, sua boca já conheceu mil outras bocas.
É eu estava errado, não era você quem eu queria e mesmo assim sua fala, sua voz e seu toque contido em uma timidez inexistente, me fez querer mais e assim fui me viciando no teu eu, deixando que o meu eu fosse teu e somente teu, sem nem ao mesmo ser meu, meu próprio eu.
E agora vejo que teu eu é meu e esta contido em mim. E como faremos agora que estamos contidos um no outro?
Sendo meu eu teu, seu eu meu, ambos contidos em si!
Ai eu olho mais uma vez aqueles mesmos olhos infantis com vivência anciã e digo: nada tenho que fazer, amor só é bom se doer.
Olhos escuros como a noite, que me fazem penetrar em suas trevas, burlando a minha luz, bagunçando a minha claridade, mexendo com o eu que um dia foi meu. Será que um dia eu tive um eu? O eu só existiu depois de tu?
Hoje que somos um, bebamos um do outro, até que nosso líquido acabe e se acabar, vamos nós produzir mais e mais, porque a eternidade está no fim, onde tudo começa. A morte diária, é todo dia um começo e em resumo te digo: Apaixono-me por ti todos os dias, começando e terminando, nascendo e morrendo, morrendo sendo tu meu, sendo eu teu e sendo Eu's nosso!
A'Kawaza