Liberdade

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O homem que reclama a liberdade está a pensar na felicidade.

vende a vida inteira
pelo pão de cada dia
a liberdade bóia, fria

Defendei a vossa liberdade, mas estimai a dos outros.

É possível substituir uma ideia por outra, menos a da liberdade.

Quero poder ter a liberdade, de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros, sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento, quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão, que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim, e que valeu a pena!

Adriana Britto

Nota: Trecho de um poema muitas vezes atribuído, de forma errônea, a Mário Quintana.

Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdômen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

A liberdade é o direito de fazer tudo quanto as leis permitem: e, se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, não teria mais liberdade porque os outros teriam idêntico poder

A liberdade é o nosso bem mais precioso.
No caso de ter que confrontá-la com a disciplina, se esta violentar aquela, opte pela liberdade.

Viver a liberdade, amar de verdade só se for a dois.

A abolição é a aurora da liberdade; esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o branco.

Machado de Assis
Esaú e Jacó (1904).

Cada um de nós é, na verdade, uma idéia ilimitada da liberdade.

Liberdade: Dormir com o cabelo molhado; fazer dancinhas idiotas; cantar alto e desafinado na frente do namorado; não escovar o cabelo; vestir a primeira roupa que encontrar; usar chinelo; dormir sem programar o despertador; andar pela casa mal vestida; ir ao supermercado sem trocar de roupa; não usar maquiagem; sair sem saber pra onde vai; não pintar as unhas; gastar o último resto de salário numa comida que te deu vontade; dar-se o direito de uma sessão de compras de vez em quando; assistir tv ao invés de fazer o trabalho que precisa ser entregue amanhã; tirar o sapato depois de um dia cansativo; dormir com maquiagem; uma trança; um coque; um rabo de cavalo; uma foto sem legenda. Livrar-se de tudo aquilo que parece pequeno, mas que amarra os nossos dias. Deixar pra lá quando sentimos que precisamos ficar mais leves.

A verdade é que os homens estão cansados de liberdade.

Até hoje eu não sei se o nosso grande problema é o seu apego idiota a sua liberdade, ou a minha bipolaridade maldita que na nossa história, de alguma forma, é abafada por essa sua escolha de ter a mim e ao mundo, sem abrir mão de nenhum dos dois. Também não sei se o que me prende tanto a você é justamente essa impossibilidade de sermos, finalmente, nós. Mas alguma coisa me prende, e me prende demais.

O esqueleto de nossa liberdade plena está pronto. Não lhe falta mais que a substância e as vestes, nós os criaremos.

Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconsequência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. – Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede. Talvez não tenha sido feita para as águas puras e largas, mas para as pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá ao rosto um ar de quem caça para se alimentar, talvez essa ânsia seja uma ideia – e nada mais.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Obrigado por ter se mandado.
Ter me condenado a tanta liberdade.
Pelas tardes, nunca foi tão tarde.
Teus abraços, tuas ameaças.
Obrigado
Por eu ter te amado com a fidelidade de um bicho amestrado.
Obrigado pela frase feita.
Por esculhambar meu coração
Antiquado e careta.
Muito obrigado por ter me acordado pra realidade,
Por não ter voltado
Pra buscar as coisas que se acabaram.
E também por não ter dito obrigado.
Ter levado a ingratidão bem guardada.

Cazuza

Nota: Obrigado (por ter se mandado)

Literatura é liberdade.

Susan Sontag

Nota: Discurso na Feira do Livro de Frankfurt em 2003

Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.