Lei
PRECONCEITUOSO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Discrimino pessoas que se forjam lei;
a verdade, a matriz e o espelho do mundo,
porque sei que ninguém alcançou esse grau
e ninguém está pronto para ser seguido...
É que sou imperfeito e discrimino gente
que se acha mais gente, seja por que for,
quem se traja de flor numa ilha de farpas;
o mais sábio, maduro, vivido e capaz...
Tenho mais preconceitos do que julgo ter,
mas alguns estão claros até para mim;
sou assim, por exemplo, com sonsos; fingidos...
As pessoas de toda e qualquer natureza,
que separam por classe, feição, etnia;
discrimino soberba e discriminação...
FORA DA LEI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Foi um grande gostar sem espera nenhuma;
sem desejos a mais do que podia ter;
um amor gestual, de silêncios passivos
que faziam viver do que jamais vivi...
Era só meu gostar, nenhum laivo do seu,
mas valia o meu sonho de me refletir,
de me ver nesses olhos que nunca me viram
e sentir solidão sem sentir que sentia...
Meu gostar se feriu de se avultar demais,
não caber nos limites de minha vitrine
ou da paz inquieta de minha censura...
Gostei mais do que pude, por isso calei,
pois a lei da verdade que nos formaliza
não gostava do gosto desse meu gostar...
A LEI DO AMOR AO AMOR DO PRÓXIMO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Desconsideremos o pecado amoroso em sentimento. Ele não descumpre a lei do ato. A constituição dos feitos terminais. Da mesma forma, desconsideremos esse pecado em pensamento; em fantasias; em confissões meramente gestuais, ao sabermos que só teremos respostas também gestuais. Devidamente veladas e gestuais.
Não nos culpemos pela constatação de nossa humanidade. Do nosso poder de amar e sentir desejo além das grades e permissões sociais. Isso não é fraqueza. É realmente poder. É a constatação da força de nossa existência sobre todos os dogmas sociais, quiçá divinos – para quem crê no divino – ou da natureza em um todo.
A preocupação com o próximo nos recompensa com as confortáveis migalhas remotas. E não precisamos – nem devemos – ter drama de consciência por usufruirmos dessas migalhas que não causarão sofrimentos. O direito ao pecado platônico é a brecha piedosa da lei do amor ao próximo. E do amor pelo amor do próximo.
PRECONCEITOPATIA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Você pode, sim, ser preconceituoso. Não há lei contra sentimentos, porque sentimento é doença de foro íntimo. O que você não pode é fazer seu sentimento romper as grades do foro íntimo e punir justamente o alvo. Se alguém tiver que sofrer ou ser punido pelo seu preconceito, seja na forma da lei ou na fôrma do silêncio, para não enfrentar a lei, esse alguém é você.
FORA DA LEI
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Você ama com muita hierarquia;
tem que ser do seu jeito; sem saída,
ou a vida se torna sem espaço
para duas versões de ser humano...
Poderia existir o um a um,
nossas vozes formarem um dueto,
termos algo em comum no coração
sem duelo de sonhos e vontades...
mas você nunca cede no placar,
quer ganhar e não pode ser de pouco,
porque sou desafio pro seu ego...
E me ama com tantas estratégias,
ordens régias, verdades formatadas,
que me faz parecer fora da lei...
VIVENDO CONTRA NÃO VIVER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Observando a ética e preservando a lei, decidi bem cedo jamais deixar de fazer o que me desse desejo; por mais estranho, incomum ou descabido que fosse. Como apesar de tudo, nunca desejei algo sobre-humano ou que me custasse dinheiro, até hoje cumpri meu propósito. Fiz tudo aquilo que o coração, muitas o impulso me levou a fazer.
É desnecessário dizer que foram muitos os erros cometidos. E não há como ninguém ter se magoado em alguns momentos, às vezes muito, mas nunca deixei de puxar para mim as consequências dos meus atos inconsequentes. Fato é que nunca fui de não fazer o que arbitrei para minha vida ou pelo menos para muitas fases do existir.
Sempre foi latente a minha caça de liberdade. A questão de não permitir buracos no tempo. Não deixar para trás as vontades; os projetos. Não ter sonhos limitados ao sono; à sonolência gerada pela preguiça de ousar. Houve ocasiões em que foi rotina quebrar a cara; muitas vezes ainda quebro, mas não tentar seria quebrar o espírito.
É por isso que trago nas veias, nos olhos, nos traços do meu rosto e até no eventual silêncio, este grito estampado. Esta inquietação contra o deixa estar, a resignação e a obediência. Minha forma íntima de ser evoluiu para não aceitar uma fôrma de ser. Uma imposição externa para o meu comportamento pessoal; particular ou público.
Cresci sem grades. Com limites talvez, porque limites têm a ver com o próximo. Quando existem para preservar o próximo, alguns limites me detêm. Grades, não. Minha formação é livre; democrática; indignada com preconceitos, mordaças e temores. Para mim, é difícil viver nestes tempos reinaugurados em primeiro de janeiro de 2019.
TRATADOS DE AMOR, CARÁTER, GRAÇA E LEI
...
SOBRE CONVERSÃO NÃO RELIGIOSA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ninguém se torna uma pessoa melhor quando se converte a uma crença, fé ou religião. Nem é pessoa pior enquanto não se converte. Nossa essência nos segue aonde vamos e o caráter de muitos é que se arquiva por temor do possível Deus, do inferno, e pelo interesse no céu que acende as mais acirradas ambições humanas. Os eventuais e sinceros arrependimentos, dramas de consciência e mudanças de comportamento ocorrem não pela conversão religiosa. Isso mora na índole dessas pessoas que se corrigiriam dentro ou fora de um grupo, mas por questões culturais nos habituamos a vincular um evento ao outro, seguindo as orientações massificadas ao nosso redor, desde o berço.
O arquivo do caráter mediante a fôrma (fôrma, mesmo) da conversão pode ou não ser mantido, a depender do quanto as propagandas dos dois extremos do além continuem convincentes para o indivíduo. Esse temor do possível Deus e do inferno; essa perspectiva ou ambição das ruas de ouro e cristal, dos muros de puro jaspe, as mansões celestiais e a glamorosa aposentadoria espiritual tende a ser bom para a sociedade só enquanto há medo e o suposto convertido cujo mau caráter se arquivou não se julga intimo, "assim com Deus" e, portanto, merecedor da impunidade pela hipocrisia de fazer o contrário do que prega, geralmente visando vantagens pessoais.
Tudo estritamente nos moldes da velha hipocrisia política e social neste plano, gerada pela pressa de conquistar aqui mesmo as vantagens e o poder que, segundo as falácias denominacionais, hão de se perpetuar no tal de céu. Acredito no ser humano e na sua capacidade pessoal, intransferível, de resgatar o melhor de si, quando esse melhor é viável, mediante o despertar da consciência e do amor, sem nenhuma interferência sobrenatural. Esse mérito já é do ser humano que se permite mudar na vida presente. Também acredito no mau caráter que não muda. Só se adéqua e se mascara enquanto, quando e onde lhe convém.
ACIMA DA LEI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
O amor é o principio da justiça espontânea; não institucionalizada nem gerida pelo peso da culpa. Quando falha o princípio do amor, exatamente por ele não se forçar, a ética substitui o que deveria ser intuitivo, brotar livre do íntimo, pelo que vem da racionalidade; a consciência e a civilização. Isso é a ética; é o poder de nos incomodarmos com a ideia de sermos injustos, inconvenientes, maus, desonestos, abusivos, deseducados e desiguais para o semelhante.
Pela ótica da ética, nenhum ser humano é inferior ao outro. A nós. Ninguém tem o direito de oprimir, segregar, constranger, ostentar superioridade, julgar, subjugar e suprimir os arbítrios de foro intima. Não se há de admitir uma hierarquia humana entre semelhantes, nem a exacerbação das hierarquias trabalhistas, classistas, religiosas e de outras naturezas sociais.
Da falha do amor e a não incidência da ética, veio a lei como recurso derradeiro de organização social. Ela se vale de ameaças institucionais que deveriam se cumprir, por agentes instituídos via poder público. Em suma, só existe a lei porque a graça, provisão do amor, foi rejeitada e a consciência humana não foi suficiente para suprir o vácuo do amor, pela ética. E o mais assustador é que nem a instituição do medo, pela ideia de aplicação da lei, mostrou eficiência para conter os atos perniciosos da sociedade.
Nem a lei. Nem a tirania. Nem o terrorismo das religiões, pela figura lendária do diabo e as ameaças do inferno. Nada poderá conter o ser humano, porque o diabo é piada para nosso poder destruidor... os efeitos de nossas maldades. O inferno criado para outro plano é sofisma, face ao inferno que já instituímos na terra, com nosso desamor.
O amor está sobre todos os atributos capazes de salvar o mundo. Entretanto, ele nunca obriga. Deixa que a própria natureza humana encontre seu caminho. Serão necessárias muitas outras gerações, à base de muito sofrimento, não por lei, mas por consequências naturais, para que a humanidade, já cansada, reate com o amor e construa o próprio paraíso, que não será em outro plano. Esconde-se aqui mesmo, sob nossos pés enlameados.
Diz o livro de cabeceira dos cristãos, que pelo visto, cujo conteúdo ainda não foi absorvido, que só o espírito santo pode quebrantar e convencer o coração humano. É concebível para mim, pela minha profunda concepção além dos livros e das liturgias, de que o espírito santo é simplesmente a fachada ou o nome fantasia do amor.
SOB A REGÊNCIA DO AMOR
Demétrio Sena, Magé – RJ.
A Bíblia, que não é o meu livro de crença e regra, diz que Deus é amor. Minha visão do possível Deus tem suas reservas, mas do amor, este não. Nenhuma reserva, porque vejo nesta virtude a solução para os grandes problemas da humanidade. O amor extinguiria todos os sentimentos que geram guerra, fome, abandono, medo, raiva, opressão e desigualdade social. Sem todos esses resultados da falta de amor, nenhum país tentaria subjugar o outro; todos os países seriam bem governados, e seus povos, felizes.
Amor gera solidariedade, união, respeito, aceitação e acolhimento. Pessoas governam. E quando pessoas que governam se reconhecem pessoas, seres humanos iguais a todos os outros, a sociedade progride sem tragédias. Amor é sinônimo de sucesso coletivo; crescimento social; pessoa, família e nação bem sucedidas. É também o caminho, a verdade, a vida, e ninguém vai a lugar nenhum se não for por ele, o legítimo salvador da humanidade. Talvez não seja O Criador Direto e Mantenedor de tudo; que ninguém sabe quem foi, senão pelo sentimento intuitivo, inexplicável da fé... mas com certeza, é o legado insubstituível do poder de gerir o mundo, se o mantivermos em nós.
Pela minha ótica; pálida, insuficiente ótica, Deus não é amor; Deus é o amor, no sentido de o amor é Deus... em suma, não me refiro à Pessoa de Deus, mas ao substantivo abstrato que traz em si os atributos do que se convencionou como O Criador. Se na máxima ‘Deus é amor’ um é sujeito e, outro, predicado, eu diria que o amor é o sujeito; Deus, o predicado do amor. Ou se um é substantivo, e adjetivo o outro, afirmo que o Amor, agora também com ‘A’ maiúsculo, é o substantivo próprio. Deus é a qualidade do Amor.
VERDUGOLATRIA
Demétrio Sena - Magé
Não é crime o que a lei decidir que não é;
serão santos demônios, após aclamados;
quando a fé diz que foi, terá sido milagre
um alívio volátil das dores de sempre...
O carrasco é bom rei pra quem teme seu jugo,
a nação é perfeita pra quem se acomoda
com a moda servil de louvar um tirano;
exaltar as correntes, mordaças e cangas...
É um vício terrível de certas nações,
aclamar como herói quem lhes dá pão e água
e lhes pune por mágoa que possam nutrir...
Será sempre pecado perceber o mal
do normal de sofrer; de sorrir por chorar;
fanatismo se torna razão de viver...
... ... ...
Respeite autorias. Isso é lei
META HUMANA
Demétrio Sena - Magé
A mentira está livre pra ser difundida;
é verdade por lei; certamente por moda;
tem a sua guarida oficial imposta,
sua nódoa virou logomarca sagrada...
Estão livres as raivas insanas e fúteis;
esse ódio gratuito pelas diferenças;
os inúteis que geram violência e guerra
ditam crenças e suas fobias humanas...
Nesse mundo covarde na palma da mão,
é preciso criar um atalho pro sol;
contramão das barbáries da brutalidade...
Vale tudo; então vale fazermos o certo;
acharemos a flor no deserto inumano
e teremos as mudas de florir mais almas...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
Marginal é quem vive as margens da lei.
Levanta calúnias ou faz uso de fake news, rachadinhas, intolerância, racismo, sonegação de impostos, golpismo, milícias, xenofobia, intolerância, atenta contra a democracia ou instituições. Quem defende ou concorda com isso é também marginal ou cúmplice, como preferir.
Eu somente kamorreio (batalho) pra garantir a lei e a ordem. Qualquer treta fora disso, eu tô fora!