Eu sem vocĂȘ
sou sĂł desamor
um barco sem mar
um campo sem flor.
Algumas pessoas procuram os padres; outras a poesia; eu os meus amigos.
E quero a desarticulação, só assim sou eu no mundo. Só assim me sinto bem.
Até que o sol se vå, eu ainda tenho uma luz.
Antes eu até sorria, hoje vejo os copos cheios e as pessoas vazias.
Se o que eu sou é também
o que eu escolhi ser, aceito a condição.
Eu sabia que vocĂȘ era idiota, mas nĂŁo a nĂvel executivo!
Gosto de fazer as pessoas felizes, mesmo quando eu estou triste.
E, antes de aprender a ser livre, eu aguentava â sĂł para nĂŁo ser livre.
Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Nota: Trecho da crÎnica Medo da libertação.
...Mais Sejamos diretos para nĂŁo sermos idiotas: eu te quero.
Porque eu, sĂł por ter tido carinho, pensei que amar Ă© fĂĄcil.
Eu cheia de saudade de vocĂȘ, mas aguentando firme.
Clarice Lispector
CorrespondĂȘncias. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
Nota: Trecho de carta ao filho Paulo Gurgel Valente, de 25 de abril de 1969.
...Mais Meu fado Ă© de nĂŁo entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo nĂŁo sabendo amar.
Eu sei, sou uma pessoa fria muitas vezes. Minha frieza é minha proteção.
Eu sou apenas um pobre amador apaixonado, um aprendiz do teu amor.
Deus Ă© mais belo que eu.
E nĂŁo Ă© jovem.
Isto sim, Ă© consolo.
Eu acordo toda manhĂŁ. Abro os olhos e penso: lĂĄ vamos nĂłs de novo.
Nunca falhei com ninguém em quem eu acreditasse.