Lealdade
VESTÍGIO
Dizei-me qual fora a dor que te formara,
ou se apenas és feito de sonho e ilusão...
Ventos ásperos de tanta indelicadeza,
alma de muitas luas e de muitos luares,
estrelas feitas de longitude e de frieza,
por que há tão rude e tão severo coração?
Por que existem tão ilusórios lábios?
E por qual motivo, tão triste boca?
Dizei o segredo mais longe dos sábios:
tristeza e pensamento – quando entenderão?
Dizei-me qual fora tua árdua finalidade,
e por onde é que teus passos se vão...
EXPIAÇÃO
A tua memória nasce como a água,
e corre pela pedra monótona da vida.
Só as folhas que te tocam não sabem:
tu és só distância longa, sem medida.
E tudo que vai por ti, não tem destino.
Apenas bruma beijar-te-á, minha criança.
E tudo que te ama, conhece do teu fado...
(Só eu que ainda te tenho na esperança).
ASTRONOMIA
Vós vindes dos tempos mais antigos que se formam,
antes mesmo da formação da Constelação de Órion.
Astrolábio, sextante, quadrante, balestilha, o que significarão?
Nenhum instrumento astronômico compreende
o teu sagrado ângulo ou a tua divina localização.
E não importa quanto tempo se passe...
Vós sempre sereis uma das estrelas na amplidão:
só que o mundo humano não compreenderá da tua vida,
como nunca soubera realmente da tua representação.
E assim será do teu destino corpo celeste na elusiva noite
dormindo numa simplória e longínqua constelação:
e eu morrerei de tristeza, sem ter visto-te nunca,
em nenhum longo céu onde soubera a solidão.
Eu vi o menino no lixo,
Eu vi o urubu...No luxo.
Que prato vai comer o bicho?
A carne ou o lixo?
Quem é lixo?
Quem é carne?
Quem é bicho?
Quem viu adiante o destino,
Tendo a frente um futuro nu?
Terá sido o urubu-menino?
Ou foi o menino-urubu?
Altair Leal/ direitos reservados
poesia publicada no livro
Marginal Recife vol.05