Lareira
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...
Quando estiveres velha e grisalhas,e cabeceares
De sono à beira da lareira,pega este livro,
e lentamente o lê,e sonha com a aparência suave
Que tinham outrora teus olhos,e suas sombras densas;
Muitos amaram teus momentos de alegre graça,
e tua beleza,com falso ou vero amor,
Mas um homem amou a alma peregrina em ti,
E a mágoas de teu rosto sempre a mudar.
Quando você quiser que a lareira não te aqueça mais, apenas parar de colocar lenha não funciona, é preciso se afastar
Nada normal
Lareira pra acender
Um céu pra se olhar
E tudo está tranqüilo por aqui
Você vai me vencer
Eu vou me apaixonar
Não há mais o que decidir
Dos nossos lábios todas as palavras
nada dizem
Aos nossos olhos tudo que já vimos
foi vertigem
E tudo é tão real
Mas nada normal
Te lembro e já me sinto ao seu lado,
no seu mundo
Me identifico com você de um jeito
tão profundo
E é tudo tão real
Mas nada norma
Degusto os teus olhos
como vinho
bebo,
no chão, na lareira...
como,
me aqueço
me embriago
rolo em músicas,
como
me esquento...
me entrego em abraços teus.
A navegação da casa
Detenho-me diante de uma lareira e olho o fogo. É gordo e vermelho, como nas pinturas antigas; remexo as brasas com o ferro, baixo a tampa de metal e então ele chia com mais força, estala, raiveja, grunhe. Abro: mais intensos clarões lambem o grande quarto e a grande cômoda velha parece regojizar-se ao receber a luz desse honesto fogo. Há chamas douradas, pinceladas de azuis, brasas rubras e outras cor-de-rosa, numa delicadeza de guache. Lá no alto, todas as minhas chaminés devem estar fumegando com seus penachos brancos na noite escura; não é a lenha do fogo, é toda a minha fragata velha que estala de popa a proa, e vai partir no mar de chuva. Dentro, leva cálidos corações
Quando o frio do afeto de alguém é constante, deixo o agasalho de lado e fico perto da lareira de quem quer me aquecer.
Um dia frio é tudo que eu espero. Um dia frio com tudo que dias frios têm direito, com uma lareira, um tapete felpudo e uma coberta, também um bom vinho pra aquecer o corpo e um grande amor pra aquecer a alma e sem o qual dias frios não teriam graça.
Perto da lareira, ao calor do fogo, guardo as labaredas! Línguas de fogo... Vistas assim, consumindo meu pensamento no tempo, lembram-me uma hidra comendo vida, oxigênio! Onde deixei aquela ferramenta? O cutelo? Não, o dicionário! Creio que ele seja mais apropriado para dissecar a língua da flama!
Quero lareira nos olhos para aquecer os teus
Quero fogueira no corpo para incendiar o teu
Quero fogo, quero brasa...
Quero chamas...
Eu me deitei na lareira do seu colo
E o calor me aqueceu
Quando minha mão no seu braço tocou
Eu me queimei
Quando sua boca com seus lábios vermelhos na minha encostou
Sugou minha alma
Me usou, me manipulou
Abusou da minha masculinidade
Friamente, metódicamente
E me deixou
Hoje sangra minha boca, com as minhas próprias mordidas
Sinto o gosto e a dor da saudade.
Mensagem para mim em 2071
Quando estiver na sua sala com lareira, tomando chocolate quente aos seus 90 anos e seus netos perguntarem como foram os anos de 2020 e 2021, responda com um sorriso no rosto que foram os anos mais desafiadores e de aprendizagem que você havia vivido até então... Só isso! Outras informações eles encontrarão na internet.
Eu quero uma casa de madeira com a cozinha de tijolos, uma sala com lareira, localizada em uma fazenda, com meus cavalos, cachorros e gatos
Quando imagino meu futuro, me vejo exatamente nesse lugar, com três crianças correndo para lá e para cá, sem se cansar
Vejo também uma casa na árvore, com estantes e tapetes pelúciados, onde minhas crianças lêem seus livros sossegados
O mais estranho da minha imaginação, é que eu não me vejo com ninguém e não sinto nenhuma solidão, talvez seja esse o futuro que me reserva? Porque se for, eu não poderia pedir um melhor.
Quando o inverno passar
Você vai lembrar
Daquela lareira
Nossos corpos entrelaçados
Inebriados de ardor
Fugitivos ávidos
Da gelidez febril
Obstinada a nos consumir
Você vai perceber
Que aquele refúgio
Será sempre o nosso amor.
