Junior frases
Tenho percebido ultimamente que a minha poesia tem entrado em estado de carne. Seu cheiro já não é o mesmo de outrora. De quando eu exalava aroma de terra molhada, limão fresco e alecrim.
Desordem
[...]
Pedaços de corpo dispersos sobre a grama verde. Noite de respiração ofegante, de desejos como mel deslizante. A boca se lambuza a degustar o mel que do corpo vaza.
Os olhos ardidos de sono avistam o movimento percorrido pelo vento matinal. Tenho desejo de cama diz o corpo, de coberta, de ser coberto por sua cálida pele.
Há memórias que aprisionamos para revisitá-las por alguns instantes enquanto há vida. As guardamos bem no fundo, lá onde fica os nossos segredos mais secretos. Tais memórias fazem o corpo se desfazer nos instantes que as revisitam.
O tempo nunca se perde. Dá voltas e mais voltas até desmanchar-se no ar e cair sobre os corpos como chuva quente. Ao escorrer pelo chão, o tempo-chuva emana cheiro de pele derretida.
O corpo precisa comer borboletas verdes e beber água de cachoeira, só assim, preencherá seus lugares vazios. Quando preenchido, lança-se no fogo em busca de aquecer o próprio coração feito de madeira.
Beijar o vento por vezes refrigera a alma. Beijar a boca de um beija-flor faz nascer borboletas no estômago. Cair de um abismo é leve, se ele não tiver fim. O fim mata o corpo, come sua carne e vomita os despojos no mar.
Arrancar a pele, a carne, tem se tornado uma constância na vida deste humano que vos escreve. Procuro asas ao invés de ossos.
Senta-se no vento, ao som das nuvens toca o peito; pouco a pouco extrai o coração - lança-o no ar para amor espargir: derramar, espalhar em gotas, borrifar, difundir.
No dia último as lembranças repousam, no silêncio, declamam as alegrias tristes de um tempo perdido no bolso da calça do corpo.
Desejo cantar nos teus ouvidos a canção produzida pelos pássaros matinais. Desejo falecer nos teus braços olhando-te profundamente nos olhos até minha alma ser arrancada de junto de ti. Invadir o teu corpo é o meu desejo último, assim como a faca rasga as vísceras de um corpo.
[...] é como se as borboletas estivessem todas, produzindo um vendaval: no interior daquele que nega o desejo.
Deita-se sobre a noite, aconchega-se na negritude; inala o eflúvio das estrelas. Sem urgência elas riscam o céu, o deixa riscado de luz.