Poemas de J. G. de Araújo Jorge
São muitos os momentos que gostaria de te-lo comigo. Mas só venha, quando sua vinda significar sua felicidade.
Terias razão ,afinal pra não acreditar na grandeza do meu amor,
se eu fosse capaz de traduzi-lo em palavras.
"
Quantos anos!...Meu Deus!...È esquisita esta vida...Depois que a nossa estrada em duas foi partida em uma novamente, o mundo as quis juntar...Mas de nada serviu...De que serviu nos vermos, se o presente tornou nossos sonhos ermos, se não podes me amar!...se não posso te amar..."
Livres nos encontramos , e algo acima de nós nos fez um do outro e nos escravizou...
Agora, livres novamente
somos dois pássaros que já não sabem voar fora da gaiola...
Tão grande este amor, entretanto frágil ...
um tênue sopro de vento o derrubou, e
eis-nos infelizes...
tão depressa cresceu, que não teve tempo sequer de criar raízez.
" Solilóquio Nº 4 "
Aperto a cabeça contra as mãos, e penso que ainda há pouco
tu a apertavas contra o seio.
Ficou em minhas mãos o cheiro de teu corpo
e estás em mim, e no ar que me acompanha
És um halo ao meu redor, que eu sinto e vejo
e quase apalpo com as minhas mãos vazias
que ainda te aguardam...
Aperto a cabeça contra as mãos, como se ainda
pudesse apanhar-te no pensamento.
Angústia
Há uma estranha beleza na noite ! Há uma estranha beleza !
Oh, a transcendente poesia
que verso algum traduz...
A via-láctea, inteiramente acesa
parece a fotografia
de um tufão de luz !
- Quem seria,
quem seria
que pregou lá no céu aquela imensa cruz?
Que infinita serenidade...
Que infinita serenidade misteriosa
nesse infinito azul dos céus e em tudo mais:
nos telhados, nas ruas, na cidade...
( Só os gatos gritam na noite silenciosa
sensualíssimos ais !)
Meu Deus, que noite calma... E aquela trepadeira
feminina e ligeira
veio abrir bem na minha janela
uma flor - como uma boca rubra e bela
que não terei...
- E ainda sinto nos lábios um travo nauseante
do amor que faz bem pouco, há apenas um instante,
paguei...
E o céu azul assim... E essa serenidade!
Silêncio- A noite, o luar ... Tão claro o luar lá fora...
Juraria que há alguém, não sei onde que chora...
Oh, a angústia invencível que me prostra
invade
e me devorar ...
ORDEM DO DIA
Não chegaremos ao livro, sem o leite e o pão,
nem chegaremos ao pão sem à terra e sem o teto,
nem chegaremos à terra sem liberdade e justiça,
nem chegaremos à liberdade, sem coragem e honestidade,
oh! a indispensável coragem para essa luta.
Lutemos pois, - todos nos, -brancos, pretos e amarelos,
que choramos e comemos, que crescemos e estudamos,
que sofremos e construímos, como homens sem cor,
todos nos que precisamos do mesmo leite branco
e do mesmo livro, e da mesma terra, e da mesma liberdade
para Viver. Viver. Ou ao menos morrer, mas lutando.