Inutilidade
UMA DICA DO JAZZ
"O que há de belo na velhice é a poesia da inutilidade." É claro que esta ideia ou ponto de vista não é de um velho, mas pode bem ser de uma jovem que tenta interagir com um velho em profunda decadência física e mental...
Contudo, o velho tem a seu favor a experiência, conhece os atalhos por onde teve que passar, atalhos estes que certamente um jovem ainda não trilhou e nem conhece...
Sempre há uma justificativa para o absurdo, uma causa, um efeito e, a despeito do que podem pensar o velho e o jovem, ambos estão trilhando a mesma estrada, escrita pelo caos. Todavia, como no Jazz, aproveita melhor a falta de harmônia aquele que souber improvisar. A propósito, sou velho e toco jazz.
Evan do Carmo 14/12/2016
Cada parte do meu passado são só lembranças... mas ignorá-las seria a vitória da minha inutilidade !!!
Nem tudo que está em 'baixo', indica fraqueza ou inutilidade, pois para todo desenvolvimento é necessário ter a 'base' para conquistar a felicidade.
Dentre as coisas mais difíceis no envelhecer, sem dúvida, a inutilidade é a pior delas. Consequentemente, a segunda coisa mais difícil é esconder que você não está bem. Alguns se apiedarao de você se vier a descobrir que você está doente, mas logo te darão as costas porque ninguém investe no que não tem futuro. Outros ao descobrirem teus problemas, entenderão que isso é fraqueza ou um drama que se faz em busca de alguma vantagem, e logo se afastarao e sequer se lembrarão que você existe. Por isso, é muito angustiante ficar fingindo para que ninguém saiba da tua precoce inutilidade.
Penso na inutilidade do ser, e me pego em pensamentos desconstruídos sobre como gastar meu tempo com o conhecimento.
✍️Quando terminar a tua utilidade e começar a tua inutilidade, caso aconteça, você saberá quem ficará com você, se te ama verdadeiramente ou está ali apenas por obrigação imposta por uma sociedade hipócrita que somente vive de interesses materiais.
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Quanta inutilidade atravessam meus caminhos... São jogadas ao acaso, e as vezes atrapalham meus passos, tropeço e caio.
A inutilidade não está relacionada apenas ao não fazer nada, mas sutilmente se oculta atrás de toda ocupação que não produz nada.
NÃO sobrecarregais teu coração Com coisas vãs, NEM guarde tua alma Na inutilidade das horas ansiosas. "Tudo" coopera para que a vontade do Senhor seja feita. Então, que em mim. Em ti. E, muito em nós Haja o entendimento do que ocorre Em nosso cotidiano. Assim, desfrutaremos de uma Paz indestrutível, E, por mais árdua que seja, ou, está sendo Nosso momento a superação e a resposta virá, Com o que, a de mais importante nesta terra. A Benção do Senhor Deus nos sobrevirá SEMPRE que nos mantivermos na confiança que O Senhor Deus é Todo-Poderoso pra Cumprir sua palavra e suas promessas em Nossas vidas, e, ALCANÇAR o Milagre que necessitamos URGENTE. Fique com Deus
O Galo
Impotência, inutilidade, medo, pequenez. Chame como quiser. A verdade, é que as palavras jamais conseguirão expressar com exata precisão o que eu sinto ao ver aquilo. O que? Um galpão. Um imenso, fedorento e decadente galpão. Milhares de olhos tristes emolduram os rostos grandes. Bolas negras de inocência dilaceram meu coração em bilhões de pedaços. São os olhos da carne. É a comida demonstrando sentimentos adversos, tentando impor, de forma inútil, a vida que nunca lhes pertenceram.
O que acontecerá depois de hoje? A quem pertencerão?
Um futuro incerto, recheado de crescimento econômico está sendo pactuado em contratos legais de compra e venda. Eles não são animais, são coisas. Bens que nos pertencem e podem ser vendidos, assassinados, comidos ou amados. Nas jaulas frias, flashs de câmeras fotográficas inibem uma psique descontrolada. O bico frenético do galo negro morde, com demasiada ansiedade, meus dedos trêmulos.
“Você vai ficar bem”, tento dizer de forma inútil, enquanto percebo a mentira que escorre pela minha fina linha de voz. Falo como um sopro. As lágrimas me veem aos olhos, transformando diversos sentimentos em uma gota de agua palpável, a matéria da minha subjetividade não compreendida. O galo tem o olho esquerdo machucado, as patas são enormes, o corpo beira o absurdo. Hormônios. O animal foi vendido por quinhentos reais, as placas indicam que ele é o vencedor no quesito de reprodução de matrizes. Misturar raças e rações é o segredo para essa geração de aves mutantes. Claro, precisamos de galinhas fortes, recheadas com proteínas induzidas para nos dar alguma dose de energia. Mas ele não sabe, não percebe. Seu instinto diz que precisa reproduzir, seu corpo pede por comida, seus olhos ardem. O estresse diminui sua produtividade como galo. Meu Deus, será que o galo sabe que é galo? Acho que não. Está perdido na escola do professor Xavier para super dotados. O galo é um super galo. O galo me bica, pra tentar impor sua grandiosidade. O galo é apenas o galo que engole medalhas pela garganta e, ainda assim, não deixa de ser galo. Mas eu, a garota de fora que esconde o choro, sei que ele é apenas um galo que foi induzido a ser, literalmente, grandioso.
Vou embora, me despedindo daquele ser perturbado. Dobro à direita e encontro mais jaulas. Gaiolas pequenas enfestadas de animais sensíveis de pelugem branca reluzente. Eles são os melhores no quesito de pelugem, os melhores no quesito de carne, os melhores no quesito de venda. São coelhos. As orelhas pontiagudas saem por fora dos buracos minúsculos, os flashs desafiam a capacidade visual dos animais, induzindo-os a um estado de torpor. Os corpos trêmulos demonstram fragilidade. As placas brancas de madeira rústica, demonstram preços. Eles são separados de acordo com seus quesitos mais impressionantes. Crianças se amontoam à minha frente, com os dedos pequeníssimos a tocar-lhes o pelo premiado. Mães sorriem, tiram fotos, explicam a vida do ser que está enjaulado como algo banal, um destino certo, uma beleza que está ali para ser vista e depois esquecida. Nada de nos aprofundarmos. Corações tão rasos quanto seus interesses. Eles são a base sólida de um mundo já corrompido, a ignorância em massa que carregará para sempre os mais aptos nos ombros. A ignorância que alimenta a violência, que educa com cegueira, que vive em vão, que morre sem orgulhos.
Ao lado, uma loja de roupas vende casacos de pele, paralelo a uma loja de filhotes de chinchila. Mais fotos, mais crianças. O peso de não se ser ignorante em uma terra enfestada de burrice. Tento sair dali, trancar minha respiração, fechar meus olhos. Temo não suportar o abismo que se abre em frente aos meus passos febris. Mas suporto. Suporto o suficiente para chegar até o galpão ao lado, onde o meu principal destino se encontra: os bovinos.
Nada de jaulas, nada de flashs. Aqui, há somente vacas, bois e cheiro de estrume. Placas enormes indicam os melhores matadouros, a melhor vaca para alimento, o melhor touro para reprodução. Cartazes esplendorosos exibem, com certa soberba, o orgulho de um boi em especial. Não lembro com exatidão o nome dele, mas sei que era muito, muito especial. Seu Sêmen foi vendido para dois continentes. Sua espécie, sua raça, ou sei lá o que, eram do mais alto escalão de linhagem bovina. Se você quer carne macia e animais dóceis, venha até mim. Se você quer animais submissos e uma linhagem mais rápida, venha até mim. Meu boi é o melhor e maior reprodutor do mundo. Venha até mim.
Eu vou.
Vou até o boi de quem tanto falam e não vejo nada além de um boi. O boi que, de tanto ser exaltado como boi, também pode se ter esquecido de que era boi. Mas eu... Ah, eu sabia que ele era um boi. Ele não me vê, estava ocupado demais regurgitando aveia. Mas eu estava lá. E eu via. O tamanho anormal, o pelo excessivamente penteado. O principal objeto de consumo, a melhor propaganda possível do objeto mais caro. O capitalismo agindo na sua forma mais pura para manipular a pecuária de que tanto dependemos. Continuo olhando e vejo apenas um boi. Um boi lotado de compromissos, fotos, folders, medalhas, filhos e linhagens inteiras de comida. Ao lado, mais bois. Todos os tipos de bois. Não conheço raças nem nada, mas sei distinguir cores. Bois brancos, bois marrons, bois pretos. Todo tipo de boi. E todos os bois que eu vi, devolviam o olhar meio incerto. O destino que nada lhes trazia, a compaixão que não lhes era devida. Olhos tristes. Bolas negras, repletas de mistérios e amores não percebidos. Bolas negras que continuavam a perfurar meu coração.
Será que o galo sabia que era galo ou apenas se convencia do contrário?
Por que estou começando a perceber falhas na minha identidade que não condizem comigo mesma. E, talvez, também ache que sou um galo. Na minha fraqueza, na minha pequenez. A indústria que consome meu dinheiro, de forma indireta. A pecuária que me engole pelas pernas contra a minha vontade. O mundo gira, enquanto acho que sou galo. E, nesses giros em descompasso, me perco numa identidade já não tão natural. Sou um galo que não se reconhece como galo, e, talvez por isso, me intitule como humana.
Nada soa mais ridículo que a inutilidade da vida. Talvez não da vida por completo, mas do papel inútil que desempenhamos nela. É até meio deprimente pensar nisso; no entanto, depois de um tempo analisando para que razão fazemos tudo o que fazemos enquanto vivos cheguei a essa conclusão. Ok, nos formamos no ensino fundamental com mérito, no ensino médio com esforço, e na faculdade depois de 10 anos. Mas cumprimos tudo, como manda o script. No meio disso tudo, saímos a festas, nos divertimos, conhecemos pessoas, viajamos e etc. Nós fazemos tudo como deve - e não deve - ser feito, orgulhamos nossos pais, arranjamos um emprego que paga bem e estamos "bem na vida". Contudo, existe um certo vazio e um questionamento que permanecem: para quê? Parece que vamos ser sempre escravos da vida. Almejamos aquela liberdade tão utópica, e, aos poucos, percebemos duramente que ela nada mais é que MERAMENTE utópica. Estamos presos ao nosso ciclo perfeito de vida, que parece nos sufocar cada vez mais, e não conseguimos nos libertar disso. De que adianta termos um emprego legal se, por muitas vezes, o que devemos fazer é só seguir ordens? De que adianta viajar e ver o mundo se voltamos para o nossa realidade que é tão mediana? De que adianta obedecer a tudo para poder "estar bem na vida" se não é isso que queremos? E, o mais intrigante: de que adianta filosofar tanto se nada vai sair do papel?
O que eu vou fazer depois de terminar de escrever isso? Dormir, acordar cedo, estudar e trabalhar. O ciclo perfeito, que permanece e permanecerá imperfeito por bastante tempo.
A inutilidade lhe dirá "não mude".
A mediocridade lhe dirá "se acostume".
A inteligência lhe dirá "leia bons livros".
O líder lhe dirá "estamos juntos".
O chefe lhe dirá "quem manda sou eu".
O conhecimento lhe dirá "ainda não é o suficiente".
A paixão lhe dirá "você está cego".
O amor lhe dirá "decida amar".
Reflexões. Resende, 15 de Dezembro de 2016.