Inteira
Sempre fui inteira, nunca amei pela metade, nunca fui meio amiga, meio filha, ou meio irmã, nunca sofri pouco, nunca me entreguei por partes, nunca tive pouco medo, sempre chorei muito, nunca me preocupei pouco, quando eu gosto é muito, sempre foi assim, ou é ou não é, ou quer ou não quer, ou gosta ou não gosta. Sempre fui intensa, sempre pensei demais, senti demais, chorei demais, amei demais, me preocupei demais, mas a vida vai passando e às vezes precisamos nos preservar colocar os pés nos chão, pensar com a mente e não só com o coração, respirar fundo e desacelerar um pouco. Hoje continuo sendo inteira, mas inteira em doses menores, em intensidades menores. E a vida é assim cada um vai dosando o jeito de ser, de sentir, diminui aqui e aumenta ali. Assim nos conhecemos mais, nos entendemos mais, e vivemos melhor!
Janela
O sol lilás
eu esperei a chuva a manhã inteira
assim como esperei você
Nossa casa de sonhos
os lençóis sempre brancos
aquela brisa que surgi-o
desde o dia em que voltou
Uma cama espera
uma cadeira na varanda
um jardim de rosas
talvez um cão e um gato
a grama orvalhada
o sorriso mais sincero
O perfume em todo canto
Cheirinho de terra molhada
Chovendo?
O Portão!
Você chegou
Na janela a chuva também
Hoje acordei mais inteira do que nunca, mais decidida e mais forte. Inspirei todo ar que eu pude e senti entrar pelos pulmões adentro retirando todas as impurezas que deixaste em mim. O céu esta lindo, o dia esta lindo. Colori o mundo pra mim mesa, desenhei nas nuvens e espalhei arco-íris por toda parte. Me presenteei com meu coração e prometi que ia cuidar dele, e ele que ia cuidar de mim. Hoje eu fui feliz. E descobri que a minha felicidade sou eu quem faço e que pessoas, são insignificantes demais para merecer meu sofrimento.
A saudade é algo confuso quando percebemos que a distância, seja ela qual for, sempre cabe inteira dentro de nós
Aprendi a ser metade, sem ser partida.
Ser metade por inteiro...
E ser, inteiramente, inteira dentro de mim!
Se um simples minuto teve a capacidade de fazer de você uma parte inteira de mim... Dois corações vão fazer de nós, uma eternidade
Não sou metade de ninguém, sou inteira. Não preciso de alguém para me completar. Preciso de alguém pra me somar.
Hoje sei que amor que é amor, é pra vida inteira, é eterno, é amor de corpo e alma.
Aquele amor dito da boca pra fora é apenas um mero amor amado, que entra e que sai sem nenhum significado.
"Existe amor que dura uma vida inteira, assim como existe o amor que dura um momento, mas se torna eterno pra vida inteira."
Você que tem cachorro aí em sua casa... trate bem dele! Na sua vida inteira dificilmente você encontrará alguém que te ame mais que ele.
Estou deixando uma vida inteira para trás, eu sei disso. Estou desperdiçando um amor que eu talvez demore muito tempo para receber de novo. Estou tentando guardar todo o meu amor em memórias, cofres e baús.Eu realmente te amei. Com todas as minhas forças, com toda dedicação e paixão. Eu te dei o meu mundo inteiro, eu estrei no seu como se nunca mais fosse sair dele. Eu me entreguei, eu me doei. Eu fui a pessoa mais feliz do mundo e eu te fiz do mesmo jeito. Dizer adeus dói. Dói como se cada parte do meu corpo gritasse e implorasse por uma solução. Eu te quero bem, eu te amo. Só não quero mais seguir do mesmo jeito. Sinto uma necessidade de seguir em frente, e seguir sem você. Preciso estar sozinha, preciso seguir, seguir e seguir. Não me peça explicações, não me ligue num fim de dia chorando e dizendo que me ama muito e que quer voltar pra mim porque não suporta mais sofrer. Não é isso o que eu quero. Eu quero o seu bem, e quero o meu.
Me deixa ir[...] me odeie, mas me deixe ir embora. Mas difícil do que ficar está sendo ir embora.
A saudade sempre me vem num sonho, numa tarde de sol ou quando chove à noite. Eu desabo em lágrimas, em soluços, em lembranças. Fico me perguntando se realmente tem de que ser assim. Mas não posso voltar atrás, não tem como, não tem mais saída.
Sei que vai levar um certo tempo para você me entender, e talvez você realmente nunca entenda. Eu te peço desculpas por esse fim, eu sei que a gente nunca pensou que terminaríamos desse jeito. Mas você acha que eu pensei que seria assim? Que a vontade viria de mim? Eu acho que não dá mais pé, acho que preciso sair disso tudo, que estou em outra fase, outro momento, com outras necessidades. Me dói dizer isso, dói muito. Mas é o que eu sinto e não quero negar sentimentos.
Acredito que vai demorar muito pra alguém te amar tanto quanto eu, tenho essa certeza em mim. Tudo o que eu vivi e senti foi intenso e sincero. Não se esqueça disso, não me odeie.
Eu queria te ligar, dizer que te amo, que você faz parte da minha vida até depois do fim do mundo, e eu só quero o seu bem, sempre e sempre. Queria parar de chorar[...] parar de ouvir essas músicas que lembram nós dois. Queria que o fim fosse fácil. Mas não é, nunca será.
Rezo pra que tudo isso passe. Rezo toda noite. Eu vou aguentar, eu tenho que aguentar.
Passava a vida inteira a espera de um momento de atrito ou impulso que acabasse com aquela inércia estática. Mas esse momento não vinha e continuava ali... parada.
POIS É
A verdade pode durar uma vida inteira, perseguir uma mulher madura, assaltada de lembranças provocadas por uma amiga que mexe com uma varinha "o fundo lodoso da memória". E, de repente, a avó percebe uma convulsão na sua realidade, porque de repente outra verdade se sobrepõe. Explica. Reduz. E ao mesmo tempo amplia. Pois é. A verdade, em Lygia Fagundes Telles, é tão crua quanto esclarecedora. O que está em seus contos é a vida, sua própria e de outros, tão real e tátil como o chão áspero de cimento.
Reli, com assombro renovado, seu Papoulas em feltro negro, que ela incluiu no livro "Meus contos preferidos". Em onze páginas, Lygia roteiriza, organiza, sumariza, romantiza, anarquiza e enfim suaviza e cicatriza uma vida inteira.
Ojeriza.
Fuga.
Medo.
Ansiedade.
Mentira.
Não foi sem intenção que a narrativa das memórias suscitadas por um telefonema se concentre na latrina do colégio. Era o ponto da tangência. O ponto da fuga. A casinha fedorenta era melhor do que a sala de aula, com aquela presença esmagadora, opressora da professora castradora. Mentira! Tão bem dissimulada que pareceu verdade, por cinqüenta anos. E a verdade, um dia, lhe atinge a face como a aba de um chapéu de feltro, ornado de papoulas desmaiadas.
A memória é sinestésica. E os elementos formais estão ali, polvilhados no conto de Lygia, a declarar a ação dos sentidos. O tato da memória traz a aspereza do giz, o suor das mãos, o pé que esfrega a mancha queimada de cigarro no tapete. A audição da memória pede que se repita a Valsa dos Patinadores, como se repetiu a lembrança pela voz da companheira sessenta e oito, da escola primária. Mas o cheiro da memória remete, primeiro, a urina. A latrina escura. E eis a visão da memória a denunciar a obliteração. Negro quadro-negro. Trança negra. Saia negra. Feltro negro.
No meio do negrume, o sol reflete o seu fulgor majestoso na vidraça. É o esplendor do flagrante descobrimento. "O sol incendiava os vidros e ainda assim adivinhei em meio do fogaréu da vidraça a sombra cravada em mim." Dissimulação - mesmo em meio a tanta luz, há uma sombra. É uma sombra que persegue a personagem até o reencontro com a professora. Sombra, por definição, é uma imagem sem contornos nítidos, sem clareza. Como a professora, morta-viva, "invadindo os outros, todos transparentes, meu Deus!" E Deus, que sombra é esta a que chamamos Deus?
Pois é. Neste conto de Lygia, o gosto da memória, ou a memória do gosto, está ausente. Não se manifesta o sabor. Por que não se manifestou o saber, é por isso?
O conto é partícula de vida. É meio primo da História. Mais do que eventos, registra caráter, caracteres, costumes, clima, ambiente, formas, cores, preferências, gostos. O conto é uma das modalidades da história feita arquivo. Por isso conto, contas, contamos. O conto oral é o livro em potência, a história em potência. Ambos pertencem a quem os usa, e a quem de seus exemplos faz uso.
A escola deve ensinar a ler. Mas também deve ensinar a ouvir. Por isso, também na escola, que é um complemento da família, é preciso haver quem conte histórias. Como Lygia, que nos faz lembrar que é preciso haver a lembrança de uma infância vivida, o acalanto de uma voz querida, contando histórias, ilustrando a vida.
Lygia é de uma franqueza pontiaguda.
Este conto, em especial, é uma escancarada confissão de humanidade. A personagem é Lygia, ou qualquer um de nós. A personagem é frágil. Conquanto pensasse, a vida inteira, que era forte. Imaginava-se executora. Conquanto pensasse, a vida inteira, que era executada. Humana, enfim. Eis a verdade. Eis Lygia. Pois é.
Jornal das Letras, edição de agosto de 2007
Já dizia Caio Fernando de Abreu: “A gente passa a vida inteira achando que é imortal”.
E nessa de achar imortal, a gente acaba se privando de sentir, fazer e falar certas coisas por medo do que as pessoas irão dizer.
Deixamos de fazer o que mais queremos por medo de julgamentos.
Deixamos de falar o que sentimos por medo da resposta da pessoa ou do ceticismo dela.
E, às vezes, nos privamos até de sentir. Como se isso fosse possível...
Sendo certo ou errado, bom ou ruim, o fato é que sempre seremos julgados. E se passarmos a nossa vida dando ouvidos a esses comentários, esqueceremos de viver.
Porque viver é isso: Cair e levantar, acertar e errar... E, às vezes, viver significa errar mais e acertar menos, até porque não recebemos manual de instrução da vida quando nascemos.
Precisamos errar, seguir alguns caminhos tortos, fazer escolhas não muito boas, mas, algumas vezes, precisamos fazer isso por nós mesmos. Precisamos cair, errar, chorar, ver o erro assim: cara a cara. Necessitamos ver se é realmente ruim para então dizer que não vale à pena. Isso é que é viver: fazer escolhas erradas e certas. Precisamos acreditar na mentira para sabermos que ela ser trata de mera ilusão. Precisamos desperdiçar uma oportunidade para sabermos dar valor àquelas que irão aparecer. Precisamos buscar nossa felicidade da maneira que quisermos sem passar por cima dos outros.
Nós não somos gatos, que na teoria, têm sete vidas. Não dá pra dizer "vou deixar isso pra amanhã" porque o amanhã não nos pertence e hoje pode ser o nosso último dia aqui na terra.
Precisamos viver para saber o que é a vida.
Te louvo.
Mesmo que eu passe a minha vida inteira
Prostrado aos teus pés te agradecendo.
Mesmo assim seria pouco, por tanto que fazes a mim
Meu coração não se cansa de louvar e te bendizer.
Te louvo meu senhor, te louvo em verdade.
Jesus manso e humilde de Coração
Fazei o meu coração semelhante ao teu.