Inspiração
Entre as estrelas brilhantes e o silêncio noturno, Ivo encontra paz e inspiração para escrever as páginas da sua história.
Mulher é a inspiração que transcende e transforma. É a chama divina que move o sagrado. Mulher é emoção, música tocada pelo coração. É a fluidez da vida que não se opõe aos obstáculos. É a luz do nascimento e conhecimento do amor.
Toda a arte, no futuro,
há-de ter na inspiração
qualquer coisa de obscuro
para ter aceitação.
I
Do modo que a evolução
toma conta dos humanos,
de pouco valem os planos
por obséquio à união…
e no meio da confusão
vai-se o génio do ar puro
para o negro quarto escuro,
onde a arte pouco medra,
e será feita de pedra
toda a arte, no futuro…
II
Meu perdão às esculturas,
de talento absoluto,
oposto da pedra em bruto
que citei nas conjecturas
destas linhas mal seguras
ao fim da premonição,
dedicada à multidão
que me mostra, na remessa,
o que o monstro, sem cabeça,
há-de ter na inspiração…
III
E haverá num só poeta
muitos ais enfurecidos,
como os cromos repetidos
da mais longa caderneta…
bramirá todo o planeta
os rugidos que auguro,
de cabeça contra o muro
da fronteira irracional
Deixando ver, afinal,
qualquer coisa de obscuro…
IV
Nas árias inteligentes,
as notas são escusadas,
se o barulho das cabeçadas
são graves e estridentes...
os sinais são evidentes,
ante a turva ebulição,
destinada à profusão
do humano em estado bravo,
e o artista será escravo
para ter aceitação...
António Prates
Encontro
Inspiração, agarrei-te
Pelo cangote da poesia
E, contigo, nesse deleite
Ri, chorei, e na ousadia
Dei ao meu eu devaneio
Que a imaginação fantasia
E os versos, dela recheio...
Delirei passo a passo
E tão pouco sabia
Que ali seria laço
Que a alma quisera
Ter como compasso
E a cada trova, nova era
De colher cada meu pedaço
Que vivia em espera
Em segredo no coração
Assim, então, achei-te
Ó poesia, Divina criação
E para cada afeite
Uma emotiva razão!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/04/2020, 07’37” – Cerrado mineiro
Embate
À volta de incerta inspiração
Ocupei as minhas mãos.
.... e foi a poesia sua combinação!
Brinquei de poetar a vida
Só por tê-la.
Ai! como é incontida
Misteriosa e bela
Cheia de medida!
Em rima discreta, branda
Fui poetando, fui poetando
O que a emoção manda...
E, o que o fado me foi dando
Talvez fiquei devendo à poesia
Um canto de delírio, trovando
Ou talvez mais alegria!
Quiçá! Uns versos amando.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/04/2020, 17’52” – Cerrado goiano
Cantinho...
Sabe aquele lugar no cantinho, bem seu
onde a sua inspiração habita
Pois bem: é ali que fico eu,
os sonhos, pedaços da minha escrita.
Longe da vista de tudo e de todos...
- meu cantinho, que a quimera edita
os rodapés da página são sem lodos
e, a poesia mais bonita...
Ali tento ser melhor. Sem engodos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Sertão da Farinha Podre
Triângulo Mineiro, junho, 2020
IMPRECAÇÃO (soneto)
Se por falta de inspiração, numa furna escura
Me vejo adormecido no vazio e na imprecação
- Agora, solitária e inerte, cheia de amargura
Minha poesia suspira e rascunha sem demão
E, em versos tortos e com uma certa loucura
Devaneia nas linhas sem qualquer emoção
Onde o silêncio escreve agonia que tortura
Em trovas choradas e sangradas do coração
Maldita sejas pelo lampejo sem sentido
Pelo vão que toma conta do meu prover
Pelo romântico versejar no falto perdido
Pelos amores deixados sem deles ser
Pelo prazer que passou a rimar doído
Pela poética essencial tirada do viver
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24/06/2020, 10’43” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CAOS (soneto - II)
Do fundo da minha poesia, ouço e canto
Uma inspiração em suspiros e peugadas
Da imaginação, nas sofrências magoadas
Em um pélago de devaneio e de encanto
Às vezes, um torpor de o meu pranto
Escorre pelas rimas e pelas calçadas
Dos sonetos, são saudades coalhadas
Clamor da dor que retintim no tanto
Da alma ... assim agonia, glória e luto
Poetam choro e hosana, no meu fado
Numa fermentação de um senso bruto
Então cá pelas bandas do seco cerrado
Os uivos do peito que aqui então escuto
Transforma o caos em um poema alado
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29, junho de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
NUMA MANHÃ DE INVERNO (soneto)
Inverno. Defronte a inspiração. Cato por quimera
Sobre os sentimentos calados, e a agasta solidão.
Devaneios, perturbação. E a sensação na espera
No frio... tudo solitário, e desgarrado da emoção
A vidraça da janela, embaçada, úmida atmosfera
Tal uma tela em branco, aguardando uma demão
De imaginação, e perfume da delicada primavera
Aí, assim, adornar a epopeia devotada ao coração
E logo, ao vir do vento, gelado, ao abrir a janela
Invade a alma a sensação dum vazio subalterno
No horizonte cinza e tão sem uma luzida estrela
E eu olho o céu deserto, e vejo com o olhar terno
Absorto, com uma oca ideia de uma cor amarela
Que priva o estro poético, numa manhã de inverno
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 julho de 2020 – Triângulo Mineiro
Olavobilaquiando
A ESCULTURA (soneto)
Idealizada, em traços no pó de mármor
Num luzidio de inspiração e de talento
Nas minúcias de fêmea em movimento
Fixas em forma rara, de delicado primor
Transpirando volúpia, vida e portento
Do pó de pedra forjada com tenro amor
Surge a forma e, prostrada em fomento
Abrigo imortal, num cendal esplendor
Do albor da imaginação, dos desejos
Surge assim esquia e férteis latejos
Ante a estátua feita, minha ovação
E o espanto avido do meu espreitar
Põe a beleza e delicadeza no olhar
Dela, a escultura amoldada a mão
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/08/2020, 11’41” – Triângulo Mineiro
Inspirada na escultura de Eliete Cunha Costa
Um bule cheio de inspiração...
café com leite em ebulição,
ao tomar com poesia...
amor e emoção!
Luciano Spagnol - poeta do cerrado
TORMENTO
Em enturvados cruéis, tal a dor
Num ritmo triste, que não alivia
Chamar a inspiração da poesia
Fria: - é qualquer ode de amor
E ver o choro do penar que for
Ali presente, na rima. Se fazia
Em um vagar d’alma cativa, ia
Crendo neste causar pecador
A quem não fará crer a culpa?
De tais os versos no tormento
Bem sei, minha, sem desculpa!
Pois, até lástima na poética tem
E vem o versar meu, sem alento
Com suspiros na prosa também.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08/11/2020 – Triângulo Mineiro
A SÚPLICA
Inspiração, há um tempo, um certo dia
Ideei amor, que eu ainda não houvera
Ideado, uma paixão que fosse sincera
Na poética, tal a uma emotiva poesia
E eu aqui na tocaia do que não viria
Poetando de primavera a primavera
Crédulo, insistia na furiosa fantasia
Onde meu sonho vive à sua espera
Ó má sorte, porque toda essa sofrência
Na alma que só deseja ter a inocência
Dum amor? E não mandas dos perversos
Sentimentos. Que cava a meta da vida
Numa dor da prosa atroz e desmedida.
Então, suplico por graça, fazendo versos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2021, 12”01” – Triângulo Mineiro
PROTESTO
Ah! Cessai, que este redizer enfastia
estorva a inspiração e me importuna
e, embora com as sofrências se reúna
loa, não tem o frescor que eu queria
Chega de apertura unhando a poesia
cato um versar de amor e de tribuna
se com agrado o bem viver coaduna
então, venha mais prazer na melodia
Queixa, suspiros, tudo mais em estio:
noites longas, horas eternas, horrível!
onde está a trova que ao viver renova
Vem sempre versos do mesmo feitio
ou negro, piedoso, choro indefinível
ah! quem me dera uma treta nova!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/04/2021, 05’05” – Araguari, MG
...PAI
Se eu pudesse escrever um poema
Duma história, nossa, verso a verso
Na melhor inspiração no melhor tema
De um pai reto, sério, bravo, diverso
No seu jeito amoroso, coração bondoso
Nestas singelas estrofes... pois, nada seria
Tão completo... grato, e tão mais generoso
Que tua proteção, pouco é a minha poesia
Pra te reverenciar e, tão valeroso!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08/08/2021, 05’50” – Araguari, MG
SONETEAR
Uma constante inspiração de agrado
Por ti, soneto, o meu versejar sente
Que outra, tal como tu, indiferente
É. Somente em ti eu fico inspirado
Como em um estímulo imaculado
Com os versos da ilusão da gente
A cada poesia o poema reluzente
De beijos, desejos, e sonho alado
Em ti não tenho sombria fronteira
Pois em ti confio a quimera inteira
Nas horas tristonhas e de encanto
E nos jardins dum poetar majestoso
Esvoaçam, o tal sonetear impetuoso
Das tantas fantasias do meu canto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 13/08/2021, 11’58”
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