Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza đ
Quando vocĂȘ quer alguma coisa, todo o universo conspira para que vocĂȘ realize o seu desejo.
Escrever Ă© esquecer. A literatura Ă© a maneira mais agradĂĄvel de ignorar a vida. A mĂșsica embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretĂȘm. A primeira, porĂ©m, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, nĂŁo se afastam da vida - umas porque usam de fĂłrmulas visĂveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Quem sabe um dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem Ă© que
Quem Ă© macho
Quem Ă© fĂȘmea
Quem Ă© humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nĂłs
Sabe ser um!
Um dia
Um mĂȘs
Um ano
Um(a) vida!
Adoramos a perfeição, porque nĂŁo a podemos ter; repugna-la-Ăamos se a tivĂ©ssemos. O perfeito Ă© o desumano porque o humano Ă© imperfeito.
O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso.
A amizade Ă© um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.
No fim tu hĂĄs de ver que as coisas mais leves sĂŁo as Ășnicas
que o vento nĂŁo conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o prĂłprio vento...
SONETO LXXXVIII
Quando me tratas mal e, desprezado,
Sinto que o meu valor vĂȘs com desdĂ©m,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus prĂłprios erros,
A te apoiar te ponho a par da histĂłria
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
EntĂŁo, ao me perder, tens toda a glĂłria.
Mas lucro tambĂ©m tiro desse ofĂcio:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefĂcio,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim Ă© o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
Pela luz dos olhos teus
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso Ă© meu Deus
Que frio que me dĂĄ o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus sĂł p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus jĂĄ nĂŁo pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais larĂĄ-larĂĄ
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que sĂł se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
Dialética
Ă claro que a vida Ă© boa
E a alegria, a Ășnica indizĂvel emoção
Ă claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
Ă claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
NĂŁo Ă© amigo aquele que alardeia a amizade: Ă© traficante; a amizade sente-se, nĂŁo se diz...
Como fica forte uma pessoa quando estĂĄ segura de ser amada!
A maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir Ă© viver e pensar Ă© saber viver. Para mim, pensar Ă© viver e sentir nĂŁo Ă© mais que o alimento de pensar.
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta Ă© um fingidor.
Finge tĂŁo completamente
Que chega a fingir que Ă© dor
A dor que deveras sente.
E os que lĂȘem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
NĂŁo as duas que ele teve,
Mas sĂł a que eles nĂŁo tĂȘm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razĂŁo,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.