Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza 😉

O pré-amor, que é tão mais feliz que amor.

Clarice Lispector
A paixĂŁo segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.

No entanto como seria bom construir alguma coisa pura, liberta do falso amor sublimizado, liberta do medo de nĂŁo amar...Medo de nĂŁo amar, pior que o medo de nĂŁo ser amado...

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Submetido Ă  dor,
todo amor passa pelas fases do sacrifĂ­cio,
da raiva, da revolta, da tristeza,
do sofrimento puro e simples,
até o momento em que a pessoa (que era amada)
jå não faz diferença alguma...

A paixĂŁo Ă© mentir tudo o que vocĂȘ nĂŁo Ă©. O amor Ă© começar a dizer a verdade

O verdadeiro homem de bem Ă© aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza. Se ele interroga sua consciĂȘncia sobre os atos realizados, ele se pergunta se nĂŁo violou essa lei, se nĂŁo fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguĂ©m tem nada a se lamentar dele, enfim, se ele fez a outrem tudo aquilo que queria que os outros lhe fizessem.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca serĂĄ perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.

NĂŁo existe amor minĂșsculo, principalmente quando se trata de amor-prĂłprio.

SĂł nos sobrou do amor
A falta que ficou...

É cedo demais pra desacreditar do amor. É cedo demais pra desistir. É cedo demais pra pensar que não tem final feliz.

LĂĄ no morro
De amor o sangue corre
moça chorando
Que o verdadeiro amor sempre Ă© o que morre

Encontros e desencontros do amor

Cada encontro estĂĄ carregado de perda. Ou de perdas. Às vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e sĂŁo felizes. Ao fim da felicidade, um deles chora. Ou fica triste. Ou baixa os olhos. Ou Ă© invadido por uma inexplicĂĄvel melancolia. É a perda que estĂĄ escondida no deslumbramento de cada encontro.

O encontro humano Ă© tĂŁo raro que, mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiĂȘncias de desencontros anteriores. Quando vocĂȘ estĂĄ perto de alguĂ©m e nĂŁo consegue expressar tudo o que estĂĄ claro e simples na sua cabeça, vocĂȘ estĂĄ tendo um desencontro. Aquela pessoa que lhe dĂĄ um extremo cansaço de explicar as coisas Ă© alguĂ©m com quem vocĂȘ se desencontra. Aquela a quem vocĂȘ admira tanto, que lhe impede de falar, tambĂ©m Ă© um agente de desencontro, por mais encontros que vocĂȘ tenha com as causas da sua admiração por ele.

A pessoa que sĂł pensa naquilo em que vai falar e nĂŁo naquilo que vocĂȘ estĂĄ dizendo para ela Ă© alguĂ©m com quem vocĂȘ se desencontra. AlguĂ©m que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, Ă© alguĂ©m desencontrado de vocĂȘ. Cada desencontro Ă© perda porque Ă© a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto. É a experiĂȘncia de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite. A prĂłpria vida Ă© uma espĂ©cie de ante-sala do grande encontro (com o todo? O nada?).

Por isso, talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatĂłrios da penetração na essĂȘncia do ser. Mas, por isso ou por aquilo, cada encontro estĂĄ carregado de perda. E no ato de sentir-se feliz associa-se a ideia do passageiro que Ă© tudo, do amanhĂŁ cheio de interrogaçÔes, da exceção que aquilo significa. A partir daĂ­, uma tristeza muito particular se instala.

A tristeza feliz. Tristeza feliz Ă© a que sĂł surge depois dos encontros verdadeiros, tĂŁo raros. Encontros verdadeiros sĂŁo os que se realizam de ser para ser e nĂŁo de inteligĂȘncia para inteligĂȘncia ou de interesse para interesse. Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carĂȘncias e Ă s certezas anteriores aos fatos.

É mais fĂĄcil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada. Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Felicidade estĂĄ mais prĂłxima da paz que da alegria, do silĂȘncio do que da festa. Felicidade estĂĄ perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.

É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lĂĄgrima ou aquela angĂșstia que se instala apĂłs os verdadeiros encontros. HĂĄ sempre uma despedida em cada alegria. HĂĄ sempre um "e depois?" apĂłs cada felicidade. HĂĄ sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada. Disso sĂł se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser.

Tentar outra vez o mesmo amor. Quem jĂĄ nĂŁo caiu nesta armadilha?

"Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa."

— E o amor, o amor, cara. O que eu faço com isso? (...)
— Amor não existe. É uma invenção capitalista.

Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de furta mordida, nĂłs na batida no embalo da rede, matando a sede na saliva.

Pois maior que tudo é o amor. E o tempo nem de longe consegue apagå-lo com a mesma rapidez com que apaga as lembranças.

O mistério do amor é maior que o mistério da morte.

Oscar Wilde

Nota: Peça de teatro "Salomé", 1894

O poder da vontade nĂŁo transforma o homem. O tempo nĂŁo transforma o homem. O amor transforma.

Amor nĂŁo mata. NĂŁo destrĂłi, nĂŁo Ă© assim. Aquilo era outra coisa, aquilo era Ăłdio.

O Amor Ă© uma ĂĄrvore ampla e rica, de frutos de ouro, e de embriaguez; infelizmente frutifica apenas uma vez.