Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza 😉

Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor...

VocĂȘ gostaria de ter um amor que fosse estĂĄvel, divertido e fĂĄcil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira jĂĄ estaria mais do que bom. VocĂȘ quer um amor assim. É pedir muito? Ora, vocĂȘ estĂĄ sendo atĂ© modesto.

O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos. Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fåbrica não podem faltar. O seu amor tem que gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é? Ninguém estå pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.

AĂ­ a vida bate Ă  sua porta e entrega um amor que nĂŁo tem nada a ver com o que vocĂȘ queria. SerĂĄ que se enganou de endereço? NĂŁo. EstĂĄ tudo certinho, confira o protocolo. Esse Ă© o amor que lhe cabe. É seu. Se nĂŁo gostar, pode colocar no lixo, pode passar adiante, faça o que quiser. A entrega estĂĄ feita, assine aqui, adeus.

E agora estĂĄ vocĂȘ aĂ­, com esse amor que nĂŁo estava nos planos. Um amor que nĂŁo Ă© a sua cara, que nĂŁo lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa vocĂȘ em pĂąnico e em ĂȘxtase. Tudo diferente do que vocĂȘ um dia supĂŽs, um amor que te perturba e te exige, que nĂŁo aceita as regras que vocĂȘ estipulou. Um amor que a cada manhĂŁ faz vocĂȘ pensar que de hoje nĂŁo passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussĂ”es que vocĂȘ nĂŁo esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fĂŽlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto nĂŁo encontramos o certo, e o certo era aquele outro que vocĂȘ havia solicitado, mas a vida, que Ă© pĂ©ssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que vocĂȘ desconfia que nĂŁo lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, nĂŁo apareceu. Olhe pra vocĂȘ vivendo esse amor a granel, esse amor escarcĂ©u, nĂŁo era bem isso que vocĂȘ desejava, mas Ă© o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em vocĂȘ no elevador, o amor que era pra nĂŁo vingar e virou compromisso, olha vocĂȘ tendo que explicar o que nĂŁo se explica, vocĂȘ nunca havia se dado conta de que amor nĂŁo se pede, nĂŁo se especifica, nĂŁo se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho!

Aquele amor corretinho por vocĂȘ tĂŁo sonhado vai parar na porta de alguĂ©m que despreza amores corretos, repare em como a vida Ă© astuciosa. Assim sĂŁo as entregas de amor, todas como se viessem num caminhĂŁo da sorte, uma promoção de domingo, um prĂȘmio buzinando lĂĄ fora, mesmo vocĂȘ nunca tendo apostado. Aquele amor que vocĂȘ encomendou nĂŁo veio, parabĂ©ns! Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.

SerĂĄ sempre amado e estarĂĄ sempre enamorado do amor. Uma grande paixĂŁo Ă© privilĂ©gio de quem nĂŁo tem nada que fazer. É a Ășnica ocupação das classes ociosas de um paĂ­s. NĂŁo tenha medo. Coisas deliciosas o aguardam. Isto Ă© somente o começo.

E vocĂȘ nem sonha que eu sou meio bipolar, quero ser mĂŁe e acredito no amor da vida. Acredito no amor pra sempre. Acredito em alma gĂȘmea. VocĂȘ nem sonha com essas coisas porque sĂł conversamos coisas leves e engraçadas.

O amor Ă© um crime que nĂŁo pode acontecer sem cĂșmplice!

Eu queria ser seu Ășltimo amor. Mas sabia que nĂŁo era. Sabia e a odiava por isso. Eu a odiava por nĂŁo se importar comigo. Eu a odiava por ter me deixado naquela noite. E odiava a mim mesmo por tĂȘ-la deixado ir embora, porque, se eu tivesse sido suficiente, ela nĂŁo teria querido ir embora. Simplesmente teria se deitado comigo, conversado e chorado. E eu a teria ouvido e teria beijado as lĂĄgrimas que caĂ­am dos seus olhos.

(Quem Ă© vocĂȘ, Alasca?)

John Green
Quem Ă© vocĂȘ, Alasca?

Ninguém deixa de amar:
o amor Ă© que muda de objeto.

Que Ă© o amor?
A necessidade de sair de si.
O homem Ă© um animal adorador
Adorar Ă© sacrificar-se e prostituir-se
Assim, todo amor é prostituição.

A flor e seu nome

Mas o que impressiona mesmo no amor-perfeito Ă© o nome. Que responsabilidade, meu filho! HĂĄ por aĂ­ uma planta chamada de amor-de-um-dia, que nĂŁo carece muito esforço para ser e acontecer, como doidivanas. Outra atende por amor-das-onze-horas e presume-se como sua vida Ă© folgada. HĂĄ tambĂ©m amor-de-vaqueiro, amor-de-hortelĂŁo, amor-de-moça, amor-de-negro... muitos amores vegetais que desempenham função limitada. Mas este aqui nĂŁo tem ĂĄrea especĂ­fica, nĂŁo se dirige a grupo, ocasiĂŁo, profissĂŁo. É absoluto, resume um ideal que vai alĂ©m do poder das flores e dos seres humanos.
Que sentirå o amor-perfeito, sabendo-se assim nomeado? Que tristeza lhe transfixarå o veludo das pétalas , ao sentir que os homens que tal apelação lhe dera não são absolutamente perfeitos em seus amores? Que aquele substantivo, casado a este adjetivo, sugere mais aspiração infrutífera da alma do que modelo identificåvel no cotidiano?
A tais perguntas o sĂłbrio amor-perfeito nĂŁo responde. O outono tampouco. Talvez seja melhor nĂŁo haver resposta.

Acredito, sim, em amores para toda a vida e, além da vida, pois seria um tipo de amor unido à própria alma, e sem alma a vida não tem razão.

Vencido estĂĄ de amor

Vencido estĂĄ de amor meu pensamento
o mais que pode ser vencida a vida,
sujeita a vos servir e instituĂ­da,
oferecendo tudo a vosso intento.

Contente deste bem, louva o momento
ou hora em que se viu tĂŁo bem perdida;
mil vezes desejando a tal ferida
outra vez renovar seu perdimento.

Com essa pretensĂŁo estĂĄ segura
a causa que me guia nesta empresa,
tĂŁo estranha, tĂŁo doce, honrosa e alta.

Jurando nĂŁo seguir outra ventura,
votando sĂł por vĂłs rara firmeza,
ou ser no vosso amor achado em falta.

Luís de CamÔes
Obras completas de Luis de CamÔes II (1843).

Nota: Soneto CLIX.

...Mais

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atençÔes. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

Se uma pessoa ama sem inspirar amor, isto é, se não é capaz, ao manifestar-se uma pessoa amåvel, de tornar-se amada, então o amor dela é impotente e uma desgraça.

NĂŁo mexa com o amor de um diferente. A menos que vocĂȘ seja suficientemente forte para suportĂĄ-lo depois.

Se tiver amor e compaixĂŁo por todos os seres sencientes, em especial por seus inimigos, este Ă© o verdadeiro amor e a verdadeira compaixĂŁo. O amor e compaixĂŁo, nutridos por seus amigos, esposa e filhos, nĂŁo sĂŁo verdadeiros em sua essĂȘncia. SĂŁo apego, e esse tipo de amor nĂŁo pode ser infinito.

A emoção acabou, que coincidĂȘncia Ă© o amor, a nossa mĂșsica nunca mais tocou...

Dar ou fazer amor??

... Afastarei vocĂȘ com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor nĂŁo me toca nem me comove e que sua precisĂŁo de mim nĂŁo passa de fome...

Um Ășnico momento de beleza e amor justifica a vida inteira.

Rubem Alves
Palavras para desatar nĂłs. SĂŁo Paulo: Papirus. 2012.

Eu encontrei-a quando nĂŁo quis
mais procurar o meu amor
e o quanto levou foi pra eu merecer
antes um mĂȘs e eu jĂĄ nĂŁo sei
e atĂ© quem me vĂȘ lendo jornal
na fila do pĂŁo sabe que eu te encontrei,
e ninguém dirå
que Ă© tarde demais
que Ă©, tĂŁo diferente assim
do nosso amor
a gente Ă© quem sabe, pequena...