Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza 😉

Aquele amor, mesmo nĂŁo retribuĂ­do, tornou-se um souvenir, lembrança de uma Ă©poca bonita que foi vivida
 Passou a ser um bem de valor inestimĂĄvel, Ă© uma sensação a qual a gente se apega.

Nossa capacidade de amar Ă© limitada, e o amor infinito; este Ă© o drama.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.

As pessoas amam bem mais a expectativa do amor possível que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, os que estão impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado. Os "grandes amores" da literatura são grandes, não por serem amores, mas por serem impossíveis.
Jå os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E esta se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação, talvez, tirasse. Na paixão impossível só estão as projeçÔes do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fåcil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados.
É por isso, aliĂĄs, que sĂł Ă© musa quem Ă© inatingĂ­vel. Case-se com a sua musa e acordarĂĄ com uma jararaca... Case-se com quem ama e serĂĄ feliz. Quer se ver livre de uma paixĂŁo colossal? VĂĄ viver com a pessoa objeto da paixĂŁo (observem, por favor, que nĂŁo estou usando a palavra amor). AliĂĄs, jĂĄ estĂĄ nos clĂĄssicos e, mesmo, antes destes, nos antigos: "A conquista enobrece e a posse avilta". Ou, como dizia Goethe: "Nas batalhas da paixĂŁo, ganha aquele que foge".
Quantas vezes as relaçÔes humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas. Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e, muitas vezes, ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o "ego".
Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, estå é alimentando a própria necessidade, seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou fantasia. Entupido de impossibilidades, ele clama. E a isso muitos chamam amor. Mas amor é coisa muito diversa... Amor não clama nem reclama: amor då.

Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
para que nĂŁo toque na tua? Como hei-de
elevå-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levĂĄ-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma sĂł nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mĂŁos?
Oh, doce canção.

Eu nĂŁo espero que vocĂȘ seja o grande amor da minha vida, parei de acreditar nisso
 NĂŁo quero que vocĂȘ me faça chorar. NĂŁo quero que vocĂȘ seja um motivo ruim na minha vida. VocĂȘ Ă© motivo de sorrisos, razĂŁo pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que vocĂȘ vai passar aqui
 NĂŁo quero te odiar. NĂŁo quero falar mal de vocĂȘ pros outros. Pras minhas amigas. Quero falar mal de vocĂȘ como quem ama. Pois Ă©, ele nunca lembra de desligar o celular antes de dormir e sempre alguĂ©m do trabalho liga. Sabe, eu quero dizer isso. Que o mĂĄximo de irritação que vocĂȘ me provoca Ă© me acordar de manhĂŁ cedo falando bobagens que parecem ser importantes no celular. NĂŁo quero que vocĂȘ me largue. NĂŁo quero te largar. NĂŁo quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu nĂŁo tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todos os outros. É sĂł que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com vocĂȘ, eu queria que desse certo. Que eu nĂŁo te largasse no altar. Que eu nĂŁo te visse com outra. Que eu nĂŁo tivesse raiva. Que vocĂȘ nĂŁo passasse a comer de boca aberta. Que vocĂȘ entendesse o meu problema com chĂŁos de banheiro molhados pra sempre. Que vocĂȘ gostasse e cuidasse de mim como disse ontem Ă  noite que cuidarĂĄ. Eu quero que dĂȘ certo, nĂŁo estraga, por favor. NĂŁo estraga, nĂŁo estraga e nĂŁo estraga. Posso pĂŽr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente nĂŁo fique junto pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por vocĂȘ. Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando vocĂȘ liga, sorri ou aparece
 Mesmo que vocĂȘ apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. É sĂł o que eu peço.

O amor Ă© formado de uma sĂł alma, habitando em dois corpos.

AristĂłteles

Nota: Adaptação de um trecho atribuído a Aristóteles.

Para vocĂȘ, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada. Para vocĂȘ, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir. Todas as mĂșsicas que puder emocionar. Desejo que os amigos sejam mais cĂșmplices, que sua famĂ­lia esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida. Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente... EntĂŁo, desejo apenas que vocĂȘ tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade.

Vilma GalvĂŁo

Nota: Adaptação do poema de Vilma Galvão, atribuído erradamente a Carlos Drummond de Andrade.

Minha saudade é prisão. Minha preocupação, chatice. Minha insegurança, problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade, insuportåvel. Meus elogios causam solidão. Minhas constataçÔes boas matam o amor. As ruins, matam o resto todo.

Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza.

Eu nĂŁo te procurei pra que a saudade fortalecesse nosso amor.

Qualquer amor hĂĄ de sofrer uma perseguição concreta e assassina. Somos impotentes do sentimento e nĂŁo perdoamos o amor alheio. Por isso, nĂŁo deixe ninguĂ©m saber que vocĂȘ ama.

Nelson Rodrigues
Coleção das Obras de Nelson Rodrigues

Amor Ă© fogo que arde sem se ver. É ferida que dĂłi e nĂŁo se sente.

Luís de CamÔes

Nota: Trecho de soneto de Luís de CamÔes.

A palavra amor anda vazia. NĂŁo tem gente dentro dela.

Se vocĂȘ ama realmente, nunca desista, a distĂąncia nĂŁo Ă© nada quando o amor Ă© tudo.

Enganar-se a respeito da natureza do amor Ă© a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual nĂŁo existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que nĂŁo Ă© possĂ­vel recuperar nem nesta vida... nem na futura!

O amor pode nĂŁo ter ciĂșme. A dor pode ser disfarçada.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a ĂĄgua implĂ­cita, e o beijo tĂĄcito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, C. D. Antologia PoĂ©tica – 12a edição - Rio de Janeiro: JosĂ© Olympio, 1978

CONFRONTO

Bateu, Amor Ă  porte da Loucura.
Deixe-me entrar, pediu, sou teu irmĂŁo.
SĂł tu me limparĂĄs da lama escura
a que me conduziu minha paixĂŁo

A Loucura desdenha recebĂȘ-lo,
sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vĂȘ-lo,
de humano que era, assim tĂŁo inumano.

E exclama: Entra correndo, o pouso Ă© teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu.

Enquanto me retiro, sem destino,
pois nĂŁo sei de mais triste desatino
que este mal sem perdĂŁo, o mal de amar.

Liberdade na vida Ă© ter um amor pra se prender. A gente reclama muito da dependĂȘncia, mas como Ă© maravilhosa a dependĂȘncia! Confiar no outro. Confiar no outro a ponto de nĂŁo somente repartir a memĂłria, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi, sem que o outro esteja junto. É talvez chegar em casa e contar seu dia e sĂł sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar Ă© uma confissĂŁo. Amar Ă© justamente quando o sussurro funciona muito melhor do que um grito...

É possĂ­vel amar muito alguĂ©m, ele pensou. Mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca vai ser pĂĄreo para o tamanho da saudade que vocĂȘ vai sentir dela.

(O Teorema Katherine)