Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza 😉

Amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas a amar. Hå sempre alguma loucura no amor, mas hå sempre também alguma razão na loucura.

A IDADE DE CASAR
30 de junho de 1998

O amor pode surgir de repente, em qualquer etapa da vida, Ă© o que todos os livros, filmes, novelas, crĂŽnicas e poemas nos fazem crer. É a pura verdade. O amor nĂŁo marca hora, surge quando menos se espera. No entanto, a sociedade cobra que todos, homens e mulheres, definam seus pares por volta dos 25 e 30 anos. É a chamada idade de casar. Faça uma enquete: a maioria das pessoas casa dentro dessa faixa etĂĄria, o que de certo modo Ă© uma vitĂłria, se lembrarmos que antigamente casava-se antes dos 18. PorĂ©m, nĂŁo deixa de ser suspeito que tanta gente tenha encontrado o verdadeiro amor na mesma Ă©poca.

O grande amor pode surgir aos 15 anos. Um sentimento forte, irracional, com chances de durar para sempre. Mas aos 15 ainda estamos estudando. NĂŁo somos independentes, nĂŁo podemos alugar um imĂłvel, dirigir um carro, viajar sem o consentimento dos pais. Aos 15 somos inexperientes, imaturos, temos muito o que aprender. Resultado: esse grande amor poderĂĄ ser vivido com pressa e sem dedicação, e terminar pela urgĂȘncia de se querer viver os outros amores que o futuro nos reserva.

O grande amor pode, por outro lado, surgir sĂł aos 50 anos. VocĂȘ aguardarĂĄ por ele? Aos 50 vocĂȘ espera jĂĄ ter feito todas as escolhas, ter viajado pelo mundo e conhecido toda espĂ©cie de gente, ter uma carreira sedimentada e histĂłrias pra contar. Aos 50 vocĂȘ terĂĄ mais passado do que futuro, terĂĄ mais bagagem de vida do que sonhos de adolescente. Resultado: o grande amor poderĂĄ encontrĂĄ-lo casado e cheio de filhos, e vocĂȘ, acomodado, terĂĄ pouca disposição para assumi-lo e começar tudo de novo.

Entre os 25 e 30 anos, o namorado ou namorada que estiver no posto pode virar nosso grande amor por uma questĂŁo de conveniĂȘncia. É a idade em que cansamos de pular de galho em galho e começamos a considerar a hipĂłtese de formar uma famĂ­lia. É quando temos cada vez menos amigos solteiros. É quando começamos a ganhar um salĂĄrio mais decente e nosso organismo estĂĄ a ponto de bala para gerar filhos. É quando nossos pais costumam cobrar genros, noras e netos. Uma marcação cerrada que nos torna mais tolerantes com os candidatos Ă  cĂŽnjuge e que nos faz usar a razĂŁo tanto quanto a emoção. Alguns tĂȘm a sorte de encontrar seu grande amor no momento adequado. Outros resistem Ă s pressĂ”es sociais e nĂŁo trocam seu grande amor por outros planos, vivem o que hĂĄ pra ser vivido, nĂŁo importa se cedo ou tarde demais. Mas grande parte da população dança conforme a mĂșsica. Um pequeno amor, surgido entre os 25 e 30 anos, tem tudo para virar um grande amor. Um grande amor, surgido em outras faixas etĂĄrias, tem tudo para virar uma fantasia.

Martha Medeiros
CrĂŽnica "A idade de casar", 1998

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas GĂȘmeas, a 30 de junho de 1998 .

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(...) Todo sentimento precisa de um passado para existir
O amor nĂŁo, ele cria como por encanto um passado que nos cerca
Ele nos dĂĄ a consciĂȘncia de havermos vivido anos a fio
Com alguém que hå pouco era quase um estranho
Ele supre a falta de lembranças por uma espécie de mågica...

Benjamin Constant
"Adolpho", Benjamin Constant, Imago, 1992

O amor faz o ser humano ser capaz de superar os seus limites. NĂłs somos rĂĄpidos para exigir e lentos para compreender.

NĂŁo chamo meu amor de idolatria
E nem de Ă­dolo vocĂȘ a quem eu amo.
Sei que nĂŁo posso exigir seu amor
Assim como proclamo meu amor galante.
Dou-lhe apenas algumas razÔes para que goste de mim
Inalteradamente eis o que exprimo.
Deixo a cargo do acaso a confiança na vida
Pois todo meu cantar a vocĂȘ se alia.

William Shakespeare

Nota: Trecho adaptado de poema encontrado no livro "Sonetos", de William Shakespeare.

Onde acaba o amor, tem inĂ­cio o poder, a violĂȘncia e o terror.

Nada do que eu jå fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crĂŽnica Dies irae.

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Amar sem penar Ă© bem raro. O verbo cumprir custa caro. Amor Ă© bem fĂĄcil achar. O que acho mais difĂ­cil. É saber amar.

Às vezes tento nĂŁo ser eu, porque se eu nĂŁo for eu, eu nĂŁo sentirei essa dor. Mas o amor Ă© tanto que atĂ© as outras todas que eu posso ser tambĂ©m o sentem.

Faça amor e não guerra! Pois não precisamos de problemas. O que precisamos é de amor.

Cartas de amor

Ah! As cartas de amor!
NĂŁo existem poemas mais belos,
nem cançÔes mais lindas do que as cartas de amor!

E elas podem ser simples,
podem ser descoladas,
podem nĂŁo ter mais que quatro ou cinco linhas,
mas sempre serĂŁo lindas,
perfeitas,
maravilhosas,
e sublimes,
pelo simples fato
de serem Cartas de Amor!

Liberdade na vida Ă© ter um amor para se prender.

No amor, um mais um Ă© igual a um.

Jean-Paul Sartre

Nota: Citado em Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais Vol.6, Paulo Bonavides, Editora del Rey

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Eu jĂĄ nĂŁo tenho mais vida!
Tu jĂĄ nĂŁo tens mais amor!
Tu sĂł vives para o riso,
eu sĂł vivo para dor.

Castro Alves

Nota: Trecho do poema "Adeus"

É sĂł vocĂȘ que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

O amor Ă© uma companhia.
JĂĄ nĂŁo sei andar sĂł pelos caminhos,
Porque jĂĄ nĂŁo posso andar sĂł.
Um pensamento visĂ­vel faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausĂȘncia dela Ă© uma coisa que estĂĄ comigo.
E eu gosto tanto dela que nĂŁo sei como a desejar.

Se a nĂŁo vejo, imagino-a e sou forte como as ĂĄrvores altas.
Mas se a vejo tremo, nĂŁo sei o que Ă© feito do que sinto na ausĂȘncia dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro
“O Pastor Amoroso”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946.

Nota: Poema de Fernando Pessoa (heterĂŽnimo Alberto Caeiro).

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Oh, não se assuste muito! Às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro!

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crĂŽnica A princesa (Final).

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O caminho que eu escolhi Ă© o do amor. NĂŁo importam as dores, as angĂșstias, nem as decepçÔes que eu vou ter que encarar. Escolhi ser verdadeira. No meu caminho, o abraço Ă© apertado, o aperto de mĂŁo Ă© sincero, por isso nĂŁo estranhe a minha maneira de sorrir, de te desejar o bem. É sĂł assim que eu enxergo a vida, e Ă© sĂł assim que eu acredito que valha a pena viver.

Paulo Roberto Gaefke

Nota: Trecho do poema "O caminho que eu escolhi Ă© o do Amor" de Paulo Roberto Gaefke. É muitas vezes atribuĂ­do de forma errĂŽnea a Clarice Lispector.

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Amor verdadeiro
É fĂĄcil amar o outro na mesa do bar, quando o papo Ă© leve, o riso Ă© farto e o chopp gelado.
É fĂĄcil amar o outro nas fĂ©rias, no churrasco, nas festas ou quando se vĂȘ de vez em quando.
DifĂ­cil Ă© amar quando o outro desaba, quando nĂŁo acredita em mais nada e entende tudo errado. Quando paralisa, perde o charme, o prazo, a identidade e a coerĂȘncia. Nessas horas que se vĂȘ o verdadeiro amor, aquele que quer o bem acima de tudo. É esse o amor que dura para sempre, na verdade, esse Ă© o Ășnico tipo que pode ser chamado de amor.

Ana JĂĄcomo

Nota: Trecho de um texto de Ana JĂĄcomo, muitas vezes atribuĂ­do erroneamente a Pedro Bial.

No amor, fiquem juntos, mas nĂŁo tĂŁo juntos, pois os pilares do templo ficam bastantes afastados e o carvalho e o cipreste nĂŁo crescem um na sombra do outro.