Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza đ
Mais uma festa
Um a um foram chegando, e eu somando a quantidade de amor que tenho no mundo. Mais ou menos 50 pessoas foram, somando com mais um monte de e-mails e mais um monte de ligaçÔes, é⊠atĂ© que sou bem amada. Calma, vocĂȘ Ă© amada, tĂĄ vendo? NĂŁo precisa mais ficar em casa de pijama assistindo Woody Allen, vocĂȘ Ă© amada. Ă que dĂĄ uma preguiça de existir.
Comemoro que estou viva, no meio da confusĂŁo que Ă© comemorar ter amigos, comemorar a blusa nova, comemorar que tenho emprego e, por isso, amigos e roupa nova, comemorar que fiz progressiva na franja, comemorar que nĂŁo sou um alien e consigo socializar, comemorar que existo dentro de uma comunidade que me aceita e atĂ© sai de casa pra tentar achar uma ruazinha difĂcil pra caramba.
Sorri em todas as fotos, esgotei minhas piadas, desfilei abraços, toquei em muita gente, ganhei alguns presentes, fiz bem meu papel de âolha que legal, estou aqui, mais um ano se passou e eu continuo achando que vale a pena estar aquiâ.
Um a um vĂŁo embora, e eu somando a quantidade de amor que vai embora.
Sobram os loucos e suas insĂŽnias, sobra o garçom cansado que nĂŁo agĂŒenta mais os loucos e suas insĂŽnias. Sobra uma latinha num canto, seis cadeiras solitĂĄrias formando uma rodinha animada, muitas bitucas que insinuam um animado papo que nĂŁo existe mais. Sobro eu, novamente.
A vida, a noite, as festas, tudo continua igual. O mesmo fedor de cigarro no cabelo, o mesmo homem bonito me olhando de longe, o mesmo homem bonito que, quando chega perto e abre a boca, eu gostaria que tivesse permanecido longe. O mesmo ùnimo em pertencer, a mesma alegria em comemorar, a mesma festa em se encontrar. Mas ninguém sabe exatamente ao que pertence, o que comemora e muito menos o que encontra.
Atravesso a rua sozinha, carregando uma sacola cheia de presentes e cartinhas. Entro sozinha no meu carro, ouço de novo a mĂșsica da semana, sigo em frente. Carrego o afeto que ganhei numa sacolinha rosa, mas dentro do meu coração Ă© sempre esse saco furado e negro.
Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente nĂŁo precisar de vocĂȘ, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa Ă© sempre pela metade.
Ă vocĂȘ quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque Ă© preciso festejar, com a minha solidĂŁo cansada de se enganar.
NĂŁo agĂŒento mais os mesmos papos, os mesmos cheiros, as mesmas gĂrias, os mesmos erros, a volta por cima, o salto alto, o queixo empinado, o peito projetado pra frente. NĂŁo agĂŒento mais fingir com toda a força do mundo que tudo bem festejar sem saber quem Ă© vocĂȘ.
Eu nĂŁo acredito mais em sumir do paĂs, em trocar de emprego, em mudar de religiĂŁo, em ficar em silĂȘncio atĂ© que tudo se acalme, em dormir atĂ© tarde, no fim de tarde na Praia Preta, na nova proposta, no novo projeto, no super livro, no filme genial, na nova galera, na academia moderna, no carinha atĂ© que bacana que gosta de jazz e restaurantes charmosos, no curso de histĂłria, em comprar o novo CD mais master animado do mundo, em ler John Fante longe de tudo, em ser dondoca, em fazer progressiva, em fazer boxe, em fazer torta de verdura, em ser batalhadora, em ser fashion, em nĂŁo ser nada. Mas eu continuo acreditando na gente, eu continuo acreditando que tudo sem vocĂȘ Ă© distração e tudo com vocĂȘ Ă© vida.
Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna. Como eu queria saber seu nome, seu cheiro, sua rua.
Assim como um dia um samba saiu procurando alguĂ©m, este texto tem a missĂŁo de sair em sua busca. Eu nĂŁo escrevo por dinheiro, vaidade, pretensĂŁo ou inteligĂȘncia. Eu escrevo porque eu sei que Ă© assim que vou te encontrar. Eu escrevo porque nĂŁo posso mais agĂŒentar que a festa acabe.
Eles pareciam saber que quando o amor era grande demais e quando um nĂŁo podia viver sem o outro, esse amor nĂŁo era mais aplicĂĄvel: nem a pessoa amada tinha a capacidade de receber tanto. LĂłri estava perplexa ao notar que mesmo no amor tinha-se que ter bom senso e senso de medida. Por um instante, como se tivessem combinado, ele beijou sua mĂŁo, humanizando-se. Pois havia o perigo de, por assim dizer, morrer de amor.
Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa da paixão, serå surpreso que o olharås agora, porque ele nada sabe de seu poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre tornå-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos.[...]
Mas Ă© engraçado, o amor nĂŁo dĂłi. E nĂŁo, nĂŁo me faça essa cara de espanto, eu repito: o amor nĂŁo dĂłi. O ciĂșme, a insegurança, a desconfiança, a falta de, o medo de perder a pessoa amada, o medo de amar, o medo de nunca ter sentido tamanha felicidade na vida inteirinha, isso sim dĂłi. O amor, amor como sentimento, amor como coisa plena, amor como som no peito, amor como sorriso no olho, amor como poesia na boca, amor como amor, esse nĂŁo dĂłi.
O amor Ă© cheio de armadilhas. Quando quer se manifestar, mostra apenas a sua luz â e nĂŁo nos permite ver as sombras que esta luz provoca.
O amor nĂŁo pode expressar a ideia por trĂĄs da mĂșsica, enquanto a mĂșsica pode dar uma ideia do amor.
Geralmente, quando uma pessoa exclama âEstou tĂŁo feliz!â, Ă© porque engatou uma novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. HĂĄ sempre um porquĂȘ. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que nĂŁo Ă© seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor Ă© ser feliz por nada.
âDe alguma forma eu sabia que seria amor. Eu nĂŁo sei, mas acho que a gente olha e pensa: 'Quero pra mim'. Mas dĂĄ um frio na barriga, um tremor, um medo de depender de alguĂ©m, de sofrer, de escolher errado, de lutar por algo que nĂŁo vale a pena. Porque o coração nem sempre Ă© mocinho. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, nĂŁo adianta, Ă©...
Embora amor dentro de mim eu tenha. SĂł que nĂŁo sei usar amor: Ă s vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, Ă© porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.
Ser capaz de se entregar inteiro e completamente a outra pessoa Ă© a melhor coisa da vida. O amor verdadeiro começa aĂ, nessa entrega incondicional. A vida pessoal sĂł vale a pena quando se acredita na dependĂȘncia do outro. Querer sempre estar junto, cuidar, aquele telefone bobo no meio da noite pra saber se estĂĄ bem. Com a gente foi assim... Ă© assim.
Não sou contra a banalização do amor.
O amor tem que ser banalizado, mesmo!
Tem que estar em toda parte, em todo lugar,
a toda hora, com qualquer pessoa.
O que nĂŁo pode ser banalizado Ă© o Ăłdio,
a frialdade, a indiferença,
tudo aquilo que Ă© ruim e causa dor.
Mas o amor?
O amor nĂŁo deve ser guardado como uma pedra preciosa
que vocĂȘ esconde egoisticamente para oferecer
apenas a este ou aquele alguém.
O amor deve ser espalhado como o mais doce e sublime perfume, para que inspire e inebrie todas as pessoas do mundo,
a todo instante, por todo o sempre!
As coisas, os acontecimentos, a felicidade, o amor e o sofrimento restariam frustados, se se conservassem mudos e a gente se limitasse a saboreĂĄ-los e experimentĂĄ-los.
Eu não quero alguém que morra de amor por mim, só preciso de alguém que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu amo, quero apenas que me ame como eu amo não me importo com que intensidade. Quero poder fechar os olhos e imaginar alguém e poder ter a certeza de que esse alguém também pensa em mim quando não estou por perto.
Nota: Trecho de um poema muitas vezes atribuĂdo, de forma errĂŽnea, a Mario Quintana.