Indiretas de amor: demonstre interesse com sutileza 😉

Toda separação é triste. Ela guarda memória de tempos felizes (ou de tempos que poderiam ter sido felizes...) e nela mora a saudade.

Rubem Alves
Cantos do pĂĄssaro encantado. SĂŁo Paulo: Planeta, 2017.

Se vocĂȘ nĂŁo demorar muito, posso esperĂĄ-lo por toda a minha vida.

Canção na plenitude

NĂŁo tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translĂșcida hĂĄ muito se manchou.
HĂĄ rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar Ă© mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciĂȘncia
e nĂŁo menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiĂĄvel
cujas marĂ©s — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminĂĄvel das sereias.

Do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - SĂŁo Paulo, 1997, pĂĄg. 151.

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estĂĄs como ausente,
e me ouves de longe, minha voz nĂŁo te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estĂŁo cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estĂĄs como distante.
E estĂĄs como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silĂȘncio teu.

Deixa-me que te fale tambĂ©m com o teu silĂȘncio
claro como uma lĂąmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silĂȘncio Ă© de estrela, tĂŁo longinqĂŒo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estĂĄs como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra entĂŁo, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que nĂŁo seja verdade.

Pablo Neruda

Nota: Tradução de poema de Pablo Neruda

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
NĂŁo tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela estĂĄ minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma estĂĄ ligada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

EstĂĄ no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Eu sĂł sei que amo verdadeiramente depois de ter esbarrado nas imperfeiçÔes do outro, depois de ter conhecido sua pior faceta e mesmo assim continuar reconhecendo-a como parte a que nĂŁo posso renunciar. SĂł o amor me faz conviver com o precĂĄrio da vida, com a indigĂȘncia humana.

Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou nĂŁo. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez nĂŁo se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. SeqĂŒestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada.

A escuridĂŁo nĂŁo pode expulsar a escuridĂŁo, apenas a luz pode fazer isso. O Ăłdio nĂŁo pode expulsar o Ăłdio, sĂł o amor pode fazer isso.

Que passem os minutos, dias e anos...
Todas as estaçÔes do tempo!
Que eu viva, qual tolo, todas as ilusÔes
pueris de sentimento...

Amar-te-ei, em todas as Ă©pocas,
em todo momento
Que passem as ĂĄguas por muitas pontes
e que debruce a saudade por muitas
serras e montes, amar-te-ei,
como se fosse a primeira vez e Ășnica,
apesar das tantas aventuras!
Ainda além deste céu, nas alturas.
Eternamente...
Ainda que outro alguém o tenha
entre lençóis confidentes,
mesmo que os beijos sejam molhados
e quentes,
Ă  parte, nossa alma vaga enamorada,
sobre qualquer prazer da carne ou qualquer
entrega fugaz.
Eternas, apaixonadas
Amar-te-ei, sobre qualquer dor que me pese
o orgulho ferido, o despeito revolvido!
Sobre qualquer punhalada em meu coração,
sobre qualquer distĂąncia a nĂłs imputada...
Porque sei, amor de mim , que ainda assim...
NĂŁo Ă© pequeno o nosso comprometimento.
Ah! Soubessem todos o tamanho!
Pobre carne, pequeno tempo!

Um livro aberto é um cérebro que fala;
Fechado, um amigo que espera;
Esquecido, uma alma que perdoa;
Destruído, um coração que chora.

Rabindranath Tagore

Nota: Por vezes atribuĂ­do, de forma errĂŽnea, a Voltaire.

A Duas Flores

SĂŁo duas flores unidas
SĂŁo duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves
ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870

EU PROMETO
Eu prometo te lembrar todos os dias o quanto eu te adoro
E o quanto vocĂȘ Ă© especial pra mim
Eu prometo enxugar suas lĂĄgrimas
Quando vocĂȘ estiver triste
E cantar e rezar por vocĂȘ todas as noites,
antes de eu dormir
Eu prometo que sempre ao olhar as estrelas
eu lembrarei do brilho de teus olhos
E do quĂŁo maravilhoso Ă© o sorriso teu

Eu prometo um dia estar com vocĂȘ
pra te girar e te abraçar bem forte
E vocĂȘ saberĂĄ o quanto eu amo vocĂȘ

Eu prometo nunca mais me aborrecer com vocĂȘ por besteira
Prometo que sempre vou achar vocĂȘ o maior docinho
Mesmo que vocĂȘ esteja muito, mas muito brava!

Eu prometo ser teu amigo por toda a vida
E que jamais irei magoar vocĂȘ
Porque pra mim o mundo Ă© mais maravilhoso porque vocĂȘ existe!
E vocĂȘ sempre estarĂĄ em meu coração.

NĂŁo Ă©s sequer a razĂŁo de meu viver, pois que tu Ă©s jĂĄ toda a minha vida.

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisarå ensinå-lo a amar seus semelhantes.

Albert Schweitzer

Nota: Citado em "Contos da carochinha para gente grande: e outras histĂłrias", Elena Arkind - Editora Iluminuras Ltda, 2002

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Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?

Ai, amar Ă© uma viagem com ĂĄgua e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar Ă© um combate de relĂąmpagos e dois corpos
por um sĂł mel derrotados.

Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delĂ­cia

corre pelos tĂȘnues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

Pablo Neruda
Cem sonetos de amor

CONSOLO NA PRAIA

Vamos, nĂŁo chores...
A infĂąncia estĂĄ perdida.
A mocidade estĂĄ perdida.
Mas a vida nĂŁo se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
NĂŁo tentaste qualquer viagem.
NĂŁo possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cĂŁo.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tĂ­mido.
Mas virĂŁo outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas ĂĄguas.
EstĂĄs nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

CASAMENTO NA IGREJA

Tem gente que acha careta, tem gente que acha um luxo. A verdade Ă© que ninguĂ©m Ă© indiferente a uma cerimĂŽnia de casamento realizada na igreja, com direito a tapete vermelho, marcha nupcial, vĂ©u e grinalda. A maioria das garotas sonha com esse momento, o de ser entregue ao noivo pelas mĂŁos do pai e de vestido branco, mesmo que essa simbologia tenha perdido o significado. Os futuros cĂŽnjuges podem estar dividindo o mesmo teto hĂĄ meses e atĂ© ter um filhinho, quem se importa? A verdade Ă© que casamento na igreja Ă© um rito de passagem, um momento de bĂȘnção e de satisfação Ă  famĂ­lia, aos amigos e Ă  sociedade. O amor pode prescindir desse ritual todo, mas um pouco de pompa e circunstĂąncia nĂŁo faz mal a ninguĂ©m.

JĂĄ que o casal optou pelo sacramento do matrimĂŽnio e quer fazĂȘ-lo diante de Deus, o mais seguro Ă© nĂŁo inovar. Nada de entrar na igreja sob os acordes da trilha sonora do Titanic, casar de vermelho e decorar a igreja com cactus. VocĂȘ nĂŁo estĂĄ numa passarela do Dolce & Gabanna, estĂĄ na capelinha da sua parĂłquia: Mendelssohn, velas, copos-de-leite e uma boa Ave-Maria na saĂ­da, quer coisa mais chique e inatacĂĄvel?

Se eu tivesse casado na igreja seria a mais convencional das noivas. SĂł uma coisa eu tentaria mudar, ainda que levasse um sonoro nĂŁo: o sermĂŁo do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saĂșde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe atĂ© os fins dos seus dias?" Nossa, nĂŁo Ă© tempo demais? Bonito, mas dramĂĄtico. Os noivos saem da igreja com uma argola de ouro no dedo e uma bola de chumbo nos pĂ©s. Seria mais alegre e romĂąntico um discurso assim:

Ela: "Prometo nunca sair da cama sem antes dar bom-dia, deixar vocĂȘ ver os jogos de futebol na tevĂȘ sem reclamar, ter paciĂȘncia para ouvir vocĂȘ falar dos problemas do escritĂłrio, ter arroz e feijĂŁo todo dia no cardĂĄpio, acompanhar vocĂȘ nas caminhadas matinais de sĂĄbado, deixĂĄ-lo em silĂȘncio quando estiver de mau humor, dançar sĂł pra vocĂȘ, fazer massagens quando vocĂȘ estiver cansado, rir das suas piadas, apoiĂĄ-lo nas suas decisĂ”es e tirar o batom antes ser beijada".

Ele: "Prometo deixar vocĂȘ sentar na janelinha do aviĂŁo, emprestar aquele blusĂŁo que vocĂȘ adora, nĂŁo reclamar quando vocĂȘ ficar quarenta minutos no telefone com uma amiga, provar a comida tailandesa que vocĂȘ preparou, abrir um champanhe no final de tarde de domingo, assistir junto o capĂ­tulo final da novela, ouvir seus argumentos, respeitar sua sensibilidade, nĂŁo ter vergonha de chorar na sua frente, dividir vitĂłrias e derrotas e passar todos os Natais do seu lado".

Sim, sim, sim!!!

Martha Medeiros
CrĂŽnica "Casamento na igreja", 1998.

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas GĂȘmeas, a 26 de maio de 1998.

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Te amo, beijo em tua boca a alegria.

Pablo Neruda
Cem sonetos de amor

Nota: Trecho de "Soneto LXXVIII"

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Amar Ă© breve, esquecer Ă© demorado.

Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada

Nota: Trecho do "Poema 20"

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Como expressar nas palavras,
os gestos que queria fazer,
as coisas que gostaria de ver,
os belos amanhecer e entardecer,
e o sombrio morrer...
faltam-se falas.

Mas ao expressar
o simples fato de escrever, falar,
nada existe para preocupar...
nada pode deturpar,
na essĂȘncia pelo chorar,
no gesto por beijar,
comover e alavancar
o puro e simples "amar".