Histórias de Tragédia
A análise não é um tema unificador, mas o papel do analista é um sujeito impotente no palco da tragédia.
Estamos sem rumo, sem concordância com a ciência, alimentando coisas que são inverdades e dizimando a classe trabalhista, essa mesma que impulsiona toda engrenagem. Esse looping parece não ter fim.
Olhos alucinados visam superfície rosada
Lacrimejando meu espasmo nervoso
Por que é penoso
Quando aprecio de seu ouro?
Lorde clemente, não suporta intenção divina
O presente que me foi dado, tomado para mim
Santificada sob mãos cautelosas
Agasalhada angelical
Longe dos indignos
A felicidade esbelta platina
Marcada desde nova em sua inocente serventia
Chacoalhava tempo a tempo em seu balanço na pradaria cinza
Sem o tempo importar
A quem mais importaria?
Um paraíso preso a um jardim cinzento
Carregava consigo seu reflexo primaveril
Refletida em carne e sangue
A alma dividida unicamente igual
Uma imperativa garota ao rumo da outra
Razões existênciais que vibram
Construindo sem parar meu mártir ensandecido
O caminho criado a base de prazer sem fim
Sou o guia desta viagem lasciva
Rumando direção contrária dos valores
Ó destino incolor marcado por mim
Trajando vestes brancas como marfim
Leva-me aos céus, minhas flores do pecado
Não vivemos distantes do holocausto
Não somos tão diferentes à indiferença e a crueldade dáqueles
Vivemos a caçar bruxas, tatuar uma estrela de Davi no peito de um culpado
Mesmo quando a natureza nos pega de surpresa a raça humana nos surpreende
"Foi você o responsável pela nossa desgraça"
E assim caminhamos como se o passado nada tenha a nos ensinar.
Nosso Rio Doce.
Hum...chegamos, a porteira estava fechada,Maria desceu do carro e a abriu,a abertura se fez rapidamente, foi só livrar a tramela e a porteira deslizou cantando feito um coral em dissonância.
O carro que era branco estava marrom, era como chocolate em pó tamanha a poeira.
Começamos a andar na estradinha de terra dentro da fazenda.Ao longe víamos a sede,os cachorros viam correndo nos receber com os rabos eriçados, balançando de alegria e reconhecimento. Estávamos ávidos pela chegada queríamos esticar as pernas que estavam grossas de tamanho inchaço. O outono havia chegado .Na varanda as folhas cobriam o piso de cimento vermelho batido feito um tapete persa,com beleza imensurável. Olhávamos tudo com imensa curiosidade e vontade de descansar , algo não estava bem.
Na frente da casa, o velho pé de Pequi curvava-se como se chorasse por algo que não sabíamos. As araras gritavam um som em desespero como se a revolta tomasse conta das emoções. Os sapos coaxavam um som como se estivessem a discutir alguma situação em descontrole. Maria também percebia tudo,era como se o tempo andasse devagar nos preparando para uma má notícia .Entramos na casa ,a quietude nos incomodava e eu gritei:
-Oh de casa !
Ninguém veio nos receber,algo estava muito errado. Maria repetidamente dizia:
-Tem algo errado!
-Cadê o povo dessa casa?
-É cedo e hoje não tem missa.
Fomos até o galinheiro,de certo haveria de ter alguém lá pra nos receber, mais nada! os ovos do dia ainda não tinham sido recolhidos,estavam em prontidão alegrando os ninhos.
Aproveitamos e chegamos até a pocilga o cheiro estava insuportável, sinal que ninguém ainda tinha passado por lá. Fomos ao lado oposto, lá no curral ainda estavam mimosa e malhada e muito pouco a comer,olhei as tetas de ambas e estavam cheias de leite,arrebentando prestes a estourar, assim era claro que o leite ainda não tinha sido tirado. Não nos restava mais nada,não podíamos voltar sem apurar o acontecido. A cada local que chegávamos a paisagem nos mostrava que algo não estava bem.Maria estava exausta e eu preocupado com ela queria lhe proporcionar o descanso merecido,ela era de idade avançada e haveria de estar querendo uma xícara de café quente.
A medida em que descíamos o planalto mais intrigados ficávamos.Se continuássemos daquele jeito íamos nos encontrar com o rio e de certo, lá ninguém estaria. Não tínhamos costumes de ir ao rio naquele horário, entretanto nossos pés e nossos corações nos direcionavam às águas do rio.Nosso grande rio, aquele que nos alimentava e alegrava com sua fartura e sua cabeleira longa .
oh Deus! quanta beleza e generosidade. Avistamos nosso mestre , de longe já se via um aglomerado de pessoas que rezavam fervorosamente e choravam em compulsão. Eu triste cheguei arredio, timidamente e desconfiado e com medo de uma má notícia perguntei :
-Cadê mamãe?
-Cadê papai ?-
E ioiô, -
mãe branca?
-Cadê meu povo gente !
-Aconteceu alguma coisa grave?
-Morreu alguém?
-Me diga gente ! Porque a missa? O chororó?
-Quem morreu?
-Sinhô Bento então saiu do meio do povo,arregaçou as mangas ,olhou bem pro meio do rio e disse:
-Ainda pergunta quem morreu seu moço?
-Não enxerga não?
E tristemente pediu ao povo pra abrir caminho.Apontou para o rio e falou:
É nosso doce rio doce que está indo,morrendo! Mata e morre !
- É nosso agora amargo Rio doce.que morre aos poucos; respirando seus últimos momentos ...
-É nosso Rio doce!
Lupaganini
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