Guimaraes Rosa a Menina de La

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Merece de a gente aproveitar
o que vem e que se pode,
o bom da vida é só de chuvisco.

Viver é uma questão de rasgar-se e remendar-se.

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar. Viver é muito perigoso...

Vou ensinar o que agorinha eu sei, demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro.

Fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente.

Eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobêjo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira— só meu companheiro amigo desconhecido.[...] Mas eu aguentei o aque do olhar dele. Aqueles olhos então foram ficando bons, retomando brilho. E o menino pôs a mão na minha. Encostava e ficava fazendo parte melhor da minha pele, no profundo, désse as minhas carnes alguma coisa.

E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

O de hoje é um dia que comprei fiado.

Viver de graça é mais barato.

A gente cresce sempre, sem saber para onde.

(Nenhum, nenhuma)

Guimarães Rosa
Primeiras estórias

Alegre, embora física e metafisicamente só, sentia o universo. Chovia-se-lhe.

Os outros têm uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem. Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é que fareja, todo o tempo, se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado... As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de judiar com a gente...

O passado é que veio até mim, como uma nuvem, vem para ser reconhecido; apenas não estou sabendo decifrá-lo.

O rio não quer chegar a lugar algum, só quer ser mais profundo

Representar é aprender a viver além dos levianos sentimentos, na verdadeira dignidade.

Toda saudade é uma espécie de velhice.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente.

Sertão: estes seus vazios.