Grandes Pensadores

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Todo os espíritos são invisíveis para os que não o possuem, e toda a avaliação é um produto do que é avaliado pela esfera cognitiva de quem avalia.

A inveja é natural ao homem. No entanto, ela é, ao mesmo tempo, um vício e uma desgraça. A inveja dos homens mostra o quanto se sentem infelizes; a sua atenção constante às acções e omissões dos outros mostra o quanto se entediam.

Quem vive no tumulto dos negócios ou dos prazeres sem ruminar o seu passado, só desnovelando a própria vida, perde a clareza de consciência. Sua mente torna-se um caos, e em seus pensamentos penetra uma certa confusão, testemunhada por uma conversação abrupta, fragmentária e, por assim dizer, picotada. Tal condição será tanto mais pronunciada quanto maior for a intranquilidade exterior e a quantidade das impressões, e menor a atividade interna do espírito.

Para viver com perfeita clareza de consciência e extrair da própria experiência toda instrução nela contida, é necessário pensar muito no passado e recapitular oque se vivenciou, fez, experimentou e, ao mesmo tempo, sentiu, e comparar o juízo de outrora com o atual, os projetos e as aspirações com o sucesso e a satisfação deles resultantes. É a repetição das aulas particulares que a experiência deu a cada um. Nossa experiência pessoal também pode ser vista como um texto, do qual reflexão e o conhecimento são o comentário.
Muita reflexão e conhecimento acompanhados de pouca experiência assemelham-se àquelas edições cujas páginas apresentam duas linhas de texto e quarenta de comentário. Muita experiência acompanhada de pouca reflexão e escasso conhecimento assemelha-se àquelas edições bipontinas, sem notas, que deixam muitas coisas incompreensíveis.
A regra de Pitágoras, de que toda noite, antes de dormir, devemos passar em revista o que fizemos durante o dia, está de acordo com a recomendação aqui dada.
Deve-se observar aqui que, após longo tempo e depois de terem desaparecido as relações e os ambientes que atuaram sobre nós, não conseguimos evocar nem renovar a disposição e a sensação outrora provocadas por eles; todavia, podemos muito bem recordar-nos das manifestações provocadas por eles na ocasião. Estas são seu resultado, sua expressão e sua medida. Desse modo, a memória ou o papel deveriam conservar cuidadosamente os momentos importantes da vida. Para tal fim, os diários são bastante úteis.

Arthur Schopenhauer
Schopenhauer - Bastar a si Mesmo

Não devo agir de modo tal que eu possa seduzir os outros através da prática de coisas escandalosas. Não é admissível, por exemplo, que eu me comporte com ostentação, elevando os outros a incorrerem em despesas que se acham além de seus próprios meios, apenas para me divertir com isso.

Os reis deixam aqui suas coroas e cetros, os heróis abandonam suas armas, […] mas os grandes gênios que estiveram submetidos a eles, que orgulhosamente apenas contemplaram com um olhar casual, os grandes pensadores que não se importavam com as coisas externas, levaram consigo sua grandeza para o além, foram eles que levaram consigo tudo o que tinham.

Você deve aceitar as pessoas como elas são. Não deve ser tão severo com elas. Você só tem a ganhar com isso. Não somente será assim melhor aceito pelos outros, como realmente vai se divertir muito mais.

Os seres humanos em geral, não se portam com maldade enquanto não se sentem atacados.

Há momentos em que pensamos na morte de forma tão nítida e com uma aparência tão assustadora que não conseguimos compreender como, com tal perspectiva à nossa frente, se possa ter um só minuto de sossego e não fiquem todos se lamentando a vida inteira pela sua inexorável aproximação. Em outros momentos, pensamos na morte como uma alegria tranquila e até mesmo ansiamos por ela. Em ambos os casos, temos plena razão.

A cada vez que respiramos, estamos rechaçando a morte, mas nem por isso ela deixa de retornar; de tal modo que temos de lutar com ela a cada segundo; em extensões temporais mais amplas, lutamos com a morte a cada refeição que nos renova, e cada momento de sono que nos descansa, a cada vez que nos aquecemos contra a frialdade e assim por diante. Contudo desde o dia de nosso nascimento fomos votados a ela sem remissão e nossa vida inteira não é senão um adiamento da morte.

Dois rostos bastavam para ele: um voltado para dentro de si mesmo e o outro contemplando o mundo exterior; o interior se afundava no coração das coisas, enquanto o exterior contemplava ceticamente a maneira como essas coisas transcorriam materialmente enquanto girava o mundo e a forma como poderiam estraçalhar seu próprio ser, caso se deixasse levar por elas.

Devemos encarar com tolerância toda loucura, fracasso e vício dos outros, sabendo que encaramos apenas nossas próprias loucuras, fracassos e vícios. Pois eles são os fracassos da humanidade à qual também pertencemos e, assim, temos os mesmos fracassos em nós. Não devemos nos indignar com os outros por essas fraquezas apenas por não aparecerem em nós naquele momento.

⁠O que está em jogo não é a verdade, mas a vitória.

Arthur Schopenhauer
A arte de ter razão. São Paulo: Edipro, 2020.

⁠Só notamos os dias felizes da nossa vida passada depois de darem lugar aos dias de tristeza.

Arthur Schopenhauer
As dores do mundo. Lebooks Editora, 2020.

⁠Não contente com os cuidados, as aflições e os embaraços que o mundo real lhe impõe, o espírito humano crê ainda num mundo imaginário sob a forma de mil superstições diversas.

Arthur Schopenhauer
As dores do mundo. São Paulo: Edipro, 2019.

⁠Se não existissem cães, não gostaria de viver.

Arthur Schopenhauer
As dores do mundo. São Paulo: Edipro, 2019.

Os acontecimentos da vida assemelham-se às imagens do caleidoscópio, no qual a cada volta vemos algo diferente, mas em verdade temos sempre o mesmo diante dos olhos.

Se a marca da primeira metade da vida é o anseio insatisfeito pela felicidade, o da segunda é o receio da desgraça, pois, a essa altura, reconhece-se mais ou menos nitidamente que toda felicidade é quimérica, enquanto o sofrimento ao contrário é real.

Apenas de que o auge da capacidade intelectual se dá por volta dos 35 anos, a velhice tem suas compensações. É apenas nesse momento que a experiência e a erudição se tornam de fato ricas: teve-se tempo e oportunidade para considerar e refletir as coisas sob todos os aspectos, comparando-as entre si e descobrindo os seus ponto de contato e membros conectivos; por conseguinte, apenas nesse momento as compreendemos bem em toda a sua concatenação. Tudo foi esclarecido; por isso, conhece-se mais profundamente até mesmo aquilo que já sabíamos na juventude, visto que há muito mais provas para cada conceito. Aquilo que nos anos de juventude só acreditávamos saber, sabe-se de fato na velhice, e muito mais, porque possuímos conhecimentos meditados em todas as direções e, portanto, inteiramente coerentes, enquanto na juventude nosso conhecimento é sempre lacunar e fragmentário. Apenas quem envelhece adquirir uma ideia completa e pertinente da vida, pois tem uma visão geral do seu conjunto e do seu curso natural, e sem especial, porque não a ve como os outros, ou seja, apenas a partir do ponto de entrada, mas tamb[em a partir do ponto de saída, reconhecendo, assim, toda a sua nulidade, enquanto os outros sempre se encontram na ilusão de que o que é realmente bom ainda ocorrerá.

⁠Há alguma sabedoria naquele que, com um olhar sombrio, considera este mundo como uma espécie de inferno.

Trabalho, tormento, desgosto e miséria, tal é sem dúvida durante a vida inteira o quinhão de quase todos os homens. Mas se todos os desejos, apenas formados, fossem imediatamente realizados, com que se preencheria a vida humana, em que se empregaria o tempo?

Arthur Schopenhauer
As dores do mundo. São Paulo: Edipro, 2019.