Goias
Politicamente incorreto,
Adormece minha alma,
Ditosa lira,
Desperta na madrugada,
Ressaqueada,
Do pudor que a poluíra.
como para Drummond,
há uma pedra em meu caminho,
e uma quadrilha na qual
sempre acabo sozinho.
quero ir embora como Bandeira,
para uma terra na qual sou amigo do rei,
onde por poetas e filósofos é guardada a entrada,
e o amor das mais belas prostitutas provarei..
Poesia feita de pó de histeria,
com pitadas de revolta e anarquia,
duas colheres de insatisfação coletiva,
untada com distorções e microfonia
dissolvidos em um megafone que berra
contra o inerte e apático padrão de vida pseudo estético
e esta pronta a receita de um Vandalismo Poético...
Febre da alma,
tarde de cama,
um trago no café sem sabor -
inflamação na garganta.
Manoel Bandeira
me acompanha,
pelas horas entre cobertas,
no rádio noticias me atingem
de falcatruas descobertas.
presos políticos de outrora
são políticos presos de agora,
e nada mais me surpreende
nem a desilusão cada vez mais frequente.
dormente,
não vejo nada que mereça meus versos com urgência,
a não ser um maldito mosquito
Com quem travo uma luta por conveniência...
Não da para ficar falando
das palmeiras de nossa terra,
quando o povo não tem acesso a ela,
para sobreviver ou se enterrar.
Não da para ficar falando
do canto do sabiá,
quando a saúde pública é saúva,
e aquilo que a pátria recebe
não é o que a pátria nos dá.
É em noites como essa que pessoas se matam,
noites de insight's, noites de insonia,
noites que não se acabam.
Noites em trevas,
Em uma cidade que é um cú,
e nós, suas pregas.
Nós que nos esbarramos,
em grupos, como gados,
acorrentados ao cotidiano,
nós nos encurralamos.
Noites em que a vida, sem via,
segue seu plano,
enquanto nós ingenuamente acreditamos,
que somos nós que a planejamos.
Memória
A memória que desnuda profunda
Mas sobressalta e flutua
Na boca do abismo do esquecimento.
Esquecimento
O esquecimento que sôfrego
Enlaça um combate
Que ao menos almeja um empate
Mas que falha e se cobre
Com o véu de maia do perdão.
Perdão
O perdão que martiriza a alma
Que internaliza a ferida
Ao tentar apagá-la
Mas que não cumpre sua promessa.
Promessa
A promessa criadora de elos,
Passível a traições tal como Eros,
Que busca manter o acordo
Mas não controla a revolta,
Do que dentro pulsa latente,
Memória.
Estou por ai,
No pantarei da vida,
Na sociedade alternativa,
Viajando no transe intransitório
Da minha maionese artesanal.
O cotidiano é afronta
À minha potência intuitiva
Mas meu córtex trabalha
Ininterruptamente
À margem do real.
Toda manhã faço I Ching,
não por brincadeira,
até porque o Tao Te Ching
é meu livro de cabeceira.
sempre que possível,
tento praticar o tantra,
e quando em desespero me sinto,
entoar um mantra.
O Bhagavad Gita escolhi
para canção de minha vida,
E a doutrina de Siddharta Gautama
faz minha alma instruída.
Para a paz no amor
e o oposto dela,
me guio em Sun Tzu
e sua arte da guerra.
toda energia negativa
que até a mim vem,
tento devolver
de uma maneira Zen.
aceito de bom grado
o que o Yin e Yang
vem me reservado
e para a fluidez desta vida
que efêmera vai,
tento imortalizar o momento
nos três versos de um Haikai.
Vim de dois partos,
O materno e o mundano.
Duas criações distintas,
Não sei qual a correta.
Por minha mãe
Seria eu padre,
Mas o mundo me quis poeta.
O verdadeiro poeta
É aquele que sabe
Expressar seus sentimentos
Não em palavras,
Mas sim com a boca
Entre as pernas de sua amada.
Somos gados humilhados,
Carnívoros ou não,
Bípedes, até que se prove o contrário,
Às vezes,
Quadrúpedes por educação.
Assim bem eu quis,
Agradar gregos e goianos,
Com ideais ascéticos, arsênicos, românticos,
Um certo lirismo de raiz.
Após ter atingido,
Meu ilícito objetivo
Agora viro o disco,
Correndo o risco,
Por um triz:
De ser entendido
Visto e sentido,
Como indigno,
Um estoico aprendiz.
Nada mais parecido com um conservador
Do que um ato revolucionário.
Para métricas quantitativas,
Poema didático, texto prosaico.
Deus não dá asas a cobras,
Mas elas sempre conseguem obtê-las,
Todos com as mãos sujas, cada um com sua sujeira.
A alma move meu corpo pela cidade dos anjos caídos,
O êxtase para quem não sabe,
É só um vácuo preenchido.
Da descoberta
A independência,
Do ideológico indício,
A histórica evidência...
Da derrota em casa
Na copa de cinquenta.
Do herói sem caráter,
De Macunaima,
Povo herdeiro
Da baixa auto estima.