Poemas de Gibran Khalil Gibran

Cerca de 109 poemas de Gibran Khalil Gibran

Divina Música!

Filha da Alma e do Amor.
Cálice da amargura
e do Amor.
Sonho do coração humano,
fruto da tristeza.
Flor da alegria, fragrância
e desabrochar dos sentimentos.
Linguagem dos amantes,
confidenciadora de segredos.
Mãe das lágrimas do amor oculto.
Inspiradora de poetas, de compositores
e dos grandes realizadores.
Unidade de pensamento dentro dos fragmentos
das palavras.
Criadora do amor que se origina da beleza.
Vinho do coração
que exulta num mundo de sonhos.
Encorajadora dos guerreiros,
fortalecedora das almas.
Oceano de perdão e mar de ternura.
Ó música.
Em tuas profundezas
depositamos nossos corações e almas.
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
e a ouvir com os corações.

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

Prefiro que minha vida permaneça uma lágrima e um sorriso: uma lágrima que purifique meu coração e me faça compreender os mistérios e segredos da vida, e um sorriso que me aproxime dos meus semelhantes e simbolize minha glorificação aos deuses...
Prefiro morrer de muito desejar a viver na indeferença. Quero sentir nas minhas profundezas fome pelo amor e a beleza, pois observei e verifiquei que os satisfeitos são os mais infelizes dos homens e os que mais se assemelham à matéria inanimada; e escutei e descobri que os gemidos de saudade do apaixonado são mais embaladores que as melodias dos violinos.
Quando a noite cai, a flor fechas as pétalas e dorme abraçada aos seus desejos; e quando rompe a madrugada, descerra os lábios para receber o beijo do sol. A vida da flor é desejo seguido de união: uma lágrima e um sorriso.

A Alma...

... E o Deus dos deuses separou de si mesmo uma alma e a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal e o perfume das flores do campo e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe: "Só poderás beber desta taça se esqueceres o passado e não te preocupares com o futuro." E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo: "Bebe dela, e compreenderás a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria ao primeiro suspiro de saciedade, e uma meiguice que a abandonaria à primeira manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu, um instinto que lhe revelaria os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas uma visão que vê, o que não se vê.
E criou nela sentimentos que deslizam com as sombras e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão que os anjos teceram com as ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida, que são as sombras da luz.
E tomou fogo da forja do ódio, e ventos do deserto da ignorância, e areia do mar do egoísmo, e terra pisada pelos pés dos séculos e amassou todos esses elementos e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama nas horas de loucura e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida, que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses, e chorou, e sentiu um amor incomensurável e infinito e uniu o homem e a alma

[Sobre o matrimônio]

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho.
As cordas de lira estão separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Vim para dizer uma palavra e devo dizê-la agora. Mas se a morte me impedir, ela será dita pelo amanhã, porque o amanhã nunca deixa segredos no livro da Eternidade. Vim para viver na glória do Amor e na luz da Beleza, que são reflexos de Deus.

Estou aqui, vivendo, e não me podem extrair o usufruto da vida porque, através da minha palavra atuante, sobreviverei mesmo após a morte. Vim aqui para ser por todos e com todos, e o que faço hoje na minha solidão ecoará amanhã entre todos os homens.

O que digo hoje com apenas meu coração será dito amanhã por milhares de corações.

Todo saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor.
E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios
e uns aos outros, e a Deus.

Ainda ontem pensava que não era mais
do que um fragmento trêmulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera, e a vida inteira
em fragmentos rítmicos move-se em mim...

Deus não trabalha mal. Ele nos dá razão e o conhecimento de modo a que possamos estar sempre em guarda contra as armadilhas do erro e da destruição. Abençoados são aqueles a quem deus conferiu o dom da razão.

E agora vou-me, como outros crussificados se foram. E não penseis que estamos cansados da crussificação. Precisamos, ainda, ser crussificados por homens maiores em maiores terras e em maiores céus.

Prece de:
Khalil Gibran,
by Nilton Mendonça

Se somente escutardes na quietude da noite,
Podereis ouvi-los dizerem silêncio:
Deus nosso, que és nosso Eu-Alado,
É tua vontade em nós que quer,
É teu desejo em nós que deseja,
és impulso em nós que pode transformar,
Nossas noites, Que te pertencem,
Em dias que também te pertencem...
Nada podemos te pedir, Pois
conheces nossas necessidades,
antes mesmo que nasçam em nós.
Tú és nossa necessidade, e,
Dando-nos mais de ti,
Tú nos dá tudo!

Tenho diante de mim, uma vida que quero grande e bela,
uma vida que antecipe a chegada do homem de amanhã e
mereça seu respeito e sua afeição.

Quando alcançares
o coração da vida,
encontrarás a beleza
em todas as coisas,
até mesmo nos
olhos que estão cegos
para a beleza.

Sete vezes desprezei minha alma
Quando a vi disfarçar-se com humildade para alcançar a grandeza
Quando a vi coxear na presença dos coxos
Quando lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e escolheu o fácil
Quando cometeu um mal e consolou-se com a idéia de que outros cometem o mal também
Quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu sua paciência à fortaleza
Quando desprezou a fealdade de uma face que não era, na realidade, senão uma de suas próprias máscaras
Quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.

Que hajam espaços na vossa junção,
E deixem que os ventos dos céus dancem entre vocês.
Se amem um ao outro mas não façam do amor uma prisão.
Deixem que seja antes um mar em movimento entre as margens das vossas almas.
Encham as taças um do outro mas não bebam de uma só taça.
Podem dar um ao outro do vosso pão mas não comam do mesmo pão.
Cantem e dancem juntos e sejam alegres, mas deixem que cada um de vocês fique só,
Tal como as cordas da lira estão separadas e no entanto vibram na mesma harmonia.
Entreguem os vossos corações, mas não à guarda um do outro.
Porque só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
E estejam juntos, mas não demasiado juntos:
Porque os pilares do templo se erguem separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem na sombra um do outro.

O entusiasmo é um vulcão
em cuja cratera não nasce
a relva da hesitação.

Tanto a semente intacta, como aquela que está rompendo sua casca tem as mesmas propriedades. Entretanto, só a que está rompendo sua casca é capaz de lançar-se na aventura da vida.
Esta aventura requer uma ousadia única: descobrir que não se pode viver através da experiência dos outros, e estar disposto a entregar-se. Não se pode pegar os olhos de um, os ouvidos de outro, para saber de antemão o que vai acontecer; cada existência é diferente da outra.
Seja o que for que me espera, eu desejo estar com o coração aberto para receber. Que eu não tenha medo de colocar o meu braço no ombro de alguém, até que ele seja cortado. Que eu não tema fazer algo que ninguém fez antes, até que seja ferido. Deixe-me ser tolo hoje, porque a tolice é tudo que eu tenho para dar esta manhã; eu posso ser repreendido por isso, mas não tem importância. Amanhã quem sabe, eu serei menos tolo.

Khalil Gibran
Carta escrita em 10 de setembro de 1920.

Teus filhos não são teus filhos
Eles são filhos e filhas da Vida
Com saudade de si mesma.
Eles não vêm de ti, mas através de ti
e, embora estejam contigo,
não te pertencem...

Podes dar-lhes teu amor, porém não os teus pensamentos,
uma vez que eles têm seus próprios pensamentos.
Podes abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois elas
vivem na casa do amanhã, que não podes visitar,
nem mesmo em sonhos.

Podes esforçar-te em ser como eles, mas não faça-nos
à tua semelhança, porque a vida não anda para trás e não
se detém no passado.

Adotarei o Amor

Adotarei o amor por companheiro
e o escutarei cantando,
e o beberei como vinho,
e o usarei como vestimenta.

Na aurora o amor me acordará e me conduzirá aos prados distantes.

Ao meio dia conduzir-me-á à sombra das árvores onde me protegerei do sol como os pássaros.

Ao entardecer conduzir-me-á ao poente, onde ouvirei a melodia da natureza despedindo-se da luz, e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço.

À noite o amor abraçar-me-á, e sonharei com os mundos superiores onde moram as almas dos enamorados e dos poetas.

Na Primavera andarei com o amor lado a lado!
E cantaremos juntos entre as colinas!
E seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas!
E beberemos a água da chuva, acumulada nos poços, em taças feitas de narciso e lírios.

No Verão deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas, tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras.

No Outono irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar!
E contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar.

No Inverno sentar-me-ei com o amor diante da lareira!
E conversaremos sobre os acontecimentos dos séculos e as histórias das nações e dos povos.

O amor será...
Meu tutor na juventude!
Meu apoio na maturidade!
Meu consolo na velhice!

O amor permanecerá comigo até o fim da vida!
Até que a morte chegue, e a mão de Deus nos reúna de novo!

A verdade de outra pessoa não está no que ela te revela, mas naquilo que não pode revelar-te. Portanto, se quiseres compreendê-la, não escute o que ela diz, mas antes, o que ela não diz.