Genuíno
Élcio José Martins
A INCENSATEZ DO NADA
A vida atribulada,
Meio atrapalhada,
Mesmo toda governada,
Fica algo pra outra jornada.
Pra tudo falta um fim,
Tiro de festim,
Lâmpada de Aladim,
Aspirante com espadim.
Tempero sem sal,
Ego do bem e de mal.
Escada em espiral,
Lapso temporal.
Cheiro de relva seca,
Cozinha sem receita,
Febre de maleita,
À espera da colheita.
Juízo sem juízo,
Lábios, boca e sorriso,
Jardins do paraíso,
Lágrimas de sobre aviso.
Busca de algo, será o quê?
Sem resposta, qual o porquê?
Mas tudo teima em querer,
Quer um novo caminho a percorrer.
Poeira levantada,
Berros da manada,
Camisa suada,
Pedras na calçada.
Porta estreita e selada,
Desvios de encruzilhadas,
Doutrinas empilhadas,
Vestes esfarrapadas.
Honestidades descarrilhadas,
Nádegas sem palmadas,
Cócegas de risadas,
Mandatários de privadas.
O brio sem brilho,
Egos afiados no esmerilho,
Dedos firmes no gatilho,
Pátria mãe perdeu seu filho.
Águas turvas da incerteza,
Contar notas com destreza,
Cueca perdeu nobreza,
Virou baú da esperteza.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O BOM ENCONTRO
O que seria um bom encontro,
No meio de tantos desencontros?
Tens que achar o eixo e o ponto,
De agregar tantos e tontos.
O bom encontro pede cautela,
Pede portas e janelas.
Pede cores em aquarelas,
Pede a leveza e a sapiência de Mandela.
O bom encontro é saboroso,
Tempero de um papo gostoso.
Gesto de homem generoso,
Gosto de sabor garboso.
O bom encontro é paciência,
Pede ao raivoso a sua ausência.
Pede decoro e decência,
Dispersa discursos verborrágicos sem eloquência.
O bom encontro nutre de grandeza,
Alimenta o amor na sobremesa.
Rega as flores de beleza,
Jorra fruídos, incensos de gentilezas.
O bom encontro não reclama,
É o esmero no vestir da Dama.
É o gentleman de ternura,
O cavalheiro da postura.
Para ter um bom encontro,
Exige-se estar pronto.
Afasta-te a taça do espanto,
Erga alto o troféu do doce encanto.
Se esta mal ou triste, fique em casa,
Mesmo que queime em brasa.
Treine a arte da conquista,
Faça de sua conduta o poder do alquimista.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
EM BUSCA DA PAZ
Caminhei por caminhos certos,
Obscuros e incertos,
Fui água nos desertos,
Insensatez de espertos.
O tempo é a cura,
Ou a espera de bravura.
Semente de ternura,
De aventura e desventura.
O que busco ainda não sei,
O que achei por certo conquistei.
Acho que um dia amei,
Com firmes passos, não desanimei.
Ouço boleros de saudade,
Do tempo de mocidade,
À espera da idade,
Pra encontrar felicidade.
Cada encontro, um desencontro,
Preciso entender do ponto,
Pra não deixar sabor do espanto,
Suspiro calmo, ao ritmo do canto.
O que tem atrás da curva,
Espero parreira e uva.
A mão que pede a luva,
Ara a terra e espera a chuva.
O peito tá apertado,
Da dor do corpo atropelado.
Delírios de sonhos manchados,
Desejo louco do sonho sonhado.
Ao som romântico, um recital,
De Juan Gabriel e Rocio Durcal,
Afaga a alma e adormece o mal,
Da dor que chora o emocional.
Até quando! Até Quando!
Sem rumo e sem mando,
Destempera a alça do comando,
A solidão na multidão, uma luz se apagando.
O tempo passou,
Nas alegrias por vezes trafegou,
Das fatias fatiadas, pedaço ficou.
No quarto escuro a alma chorou.
Nas desventuras da vida,
Pede-se uma nova partida,
De coragem atrevida,
Conquistar a paz distraída.
Não sei se é agrado ou desagrado,
Não sei se é leve o peso do fardo,
Que por tantas vezes carregado,
Fez escaras no coração magoado.
Chorar por dentro é água represada,
É a mentira da alegria deslavada.
A busca da conquista conquistada,
Das muitas portas abertas, uma delas está fechada.
No entardecer da vida,
Ainda há tempo e sobrevida.
A hora pede compreensão e decisão,
Mudar de vez pode agradar o coração.
O respeito não pode faltar,
É o espelho e o espelhar,
É amigo do olhar,
É o sabor que enfeita o paladar.
Reclamar de tudo,
É aparar barba de barbudo.
A mesma cara do carrancudo,
Fere aos poucos. É pedrada sem escudo.
Choro por dentro,
Choro de dentro.
Quero o alento,
Por mais um pouco não aguento.
Quero a paz no medo,
Quero o amor e o aconchego.
Subo aos céus e peço arrego,
Dê-me a paz, o caminho e o sossego.
Livre-me dos apegos do passado,
Livre-me das promessas, o pecado.
Anjos meus tragam um recado,
Escrito bem grande como AMAR E SER AMADO.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O TEMPLO DO TEMPO
O templo edificado,
De luta e suor sagrado,
Extirpa nódoas do passado,
Do teatro representado.
A vida que descerra,
A bandeira branca na terra,
Corta o verde da serra,
De sangue vermelho encerra.
No teatro da ilusão,
Faz poesia o coração.
Encanto d’alma sem razão,
Do cárcere sem prisão.
Julga o júbilo ao avesso,
Sem nome e endereço.
Rasga seda de adereços,
Das vindas e recomeços.
A lua da madrugada,
Rítmica e desvairada,
De holofotes e camaradas,
Das fronteiras desarmadas.
Na construção do saber,
Reluz um amanhecer.
Anoitece no escurecer,
Vislumbra o conhecer.
Do pecado consumado,
Do delírio rebuscado,
Encanta a alma do famigerado,
Brinda o brado redobrado.
Chora o peito magoado,
Do sentimento esmagado.
Das promessas do passado,
Aspas fechadas do cérebro brindado.
Vem do sol a esperança,
Do seu brilho a confiança,
Do seu calor a temperança,
De sua beleza a perseverança.
Contrasta força e educação,
Dá namoro solução e precisão.
Enlace de poder e decisão,
Lua de mel pedem os filhos da nação.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
LIBERDADE! LIBERDADE! LIBERDADE!
Quero uma
Quero a Liberdade de escolha,
Quero a escolha da liberdade.
Não quero a régua da obrigatoriedade,
Por aqueles que se dizem os donos da verdade.
Quero que me ensinem a ler,
Mas nunca o que devo ler.
Quero que me ensine ser,
Mas nunca me dizer o que fazer.
Quero sapatos com laços,
Sempre andar com meus passos.
Na escola quero conhecimento,
Ideologia cabe ao meu discernimento.
Quero livros que separem o bem do mal,
Acender vela com a proteção do castiçal.
Aprender bem a lição,
Comer meu pão com o poder da minha mão.
Poder comprar e produzir,
E ter coragem pra fazer.
Ter saúde pra comer,
Sempre ter por merecer.
Não quero troca de favores interesseiros,
No bonde da história, viajantes e passageiros.
Andar no vagão de preferência,
Ser educado e a Deus pedir licença.
Respeitar hierarquias,
Abominar deboches e anarquias.
Leis que protegem o coletivo,
Rechaçar o poder mais abusivo.
Que o País vire Nação,
Acabe com o poder da corrupção.
Prenda os larápios de ocasião,
Elimine o político enganação.
Liberdade quero como vizinha,
Como o cardápio do chef de cozinha.
Faces rubras e felizes,
Erros apenas por deslizes.
Chico disse que amanhã vai ser outro dia,
No verso codificado escondeu o que pretendia.
Quem manda quer o direito da partilha,
Fechou em submarino e lacrou a escotilha.
Aprender falar,
Mas não o que falar.
Aprender andar,
Mas não pra que lado andar.
Quero infância sadia,
Ao lado da mãe, do pai e da tia.
Quero o direito da família decidir,
Quais os caminhos deve o filho seguir.
Liberdade! Liberdade! Liberdade!
Sem discurso barato e muita sinceridade.
Liberdade! Liberdade! Liberdade!
Dançando cidadania e plantando dignidade.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
MÃE 2017
Mãe 2017 é soma dez,
Dois mais zero, mais um, mais sete,
Resultado dez.
Soma vinte mais dezessete,
Resultado trinta e sete,
Que somados ficam dez.
Mãe é nota dez,
Não tem desvio e nem revés.
Cuida de sua cria com maestria,
Na escola da vida é mestra da bateria.
Mas o mundo mudou,
Cuidar só da casa no passado ficou.
Hoje é: uma, duas, três,
Família, trabalho, lazer às vezes.
Mesmo nesse mundo diferente,
A mãe tá no batente.
Nem a liberação dessa nova geração,
Tirou do peito seu amor e devoção.
Nesse mundo conturbado,
Cheio de vícios e pecados,
De gostos fritos e assados,
De pais ausentes, despreparados.
Filhos mal educados,
Na rua são formados.
Nas drogas, aliciados,
Sobra pra mãe os seus cuidados.
Mães de ferro desesperadas,
Viagem sem freio e sem estrada.
Do coração que era morada,
Chocou feio na encruzilhada.
Mãe não desiste jamais,
Por seus filhos tudo faz.
Não tem chuva, nem hora, nem sono,
Capaz de tirá-la de seu trono.
Mãe representa Deus na terra,
É nela que tudo se encerra.
Pra ela filho não tem defeito,
Como Maria, seu Jesus, sempre perfeito.
Mãe é doce e suave,
É a pena que adorna a ave.
Mãe é pluma de leveza,
É rainha de ternura e beleza.
Mãe é o alicerce e o telhado,
Dá o abraço e sempre deixa o seu recado.
Sua força e valentia são inexplicáveis,
Suas ações e seus atos irretocáveis.
Salve esse dia sagrado,
De presente, sorriso e agrado.
Na terra ou no céu fez bem feito o seu papel,
É abelha que para os seus produz o mel.
Amor de mãe é sagrado;
Amor de mãe é açúcar no melado.
Amor de mãe é puro;
É empréstimo de beijos sem cobrança de juros.
Nove meses de gestação,
À espera da emoção.
No colo ou no berço, muita dedicação,
Na saúde ou na doença, um sofrido coração.
Saudade do colo da mãe amada,
Mesmo com as marcas das palmadas.
Um sorriso e um afago na chegada,
Na partida, lágrimas de enxurrada.
Que as têm, ame e cuide,
Que as têm no céu ore e agradeça.
Quem vai ser mãe, bom parto,
A todas as mães meus Parabéns...
Élcio José Martins
Élcio José Martins
AUSÊNCIA
O distraído tropeçou,
No lapso da consciência.
Sentiu a dor da ausência,
Da total inexistência.
A apartação do distanciamento,
Foi escasso desaparecimento.
Do sumiço privativo,
Pede a carência o curativo.
A exiguidade do tempo,
Desse seu alheamento,
Fez da vida esquecimento,
Do apertado apartamento.
Esse mundo de apartação,
Unido na separação,
Traz no bojo privação,
Paz e amor, abstração.
Absentismo da carência,
Foge do raio a coerência.
Na exiguidade do tempo,
Trouxe ao indivíduo o esquecimento.
O distraído tropeçou,
No lapso da consciência.
Sentiu a dor da ausência,
Da total inexistência.
A escassez do nada,
Faz o caminho da manada.
Chama os seus de camarada,
Tenda e lona, sua morada.
O distraído tropeçou,
No lapso da consciência.
Sentiu a dor da ausência,
Da total inexistência.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
POEMA DE AMOR
Fazer poema sem falar de amor,
É como a praia nos dias sem calor.
Falar de amor cura no ser a dor,
Eleva a alma e destempera o rancor.
No jardim do amor,
Rega com perfume à flor.
Inspira o compositor,
Traz luz e magia ao cantor.
O amor é razão de tudo,
É luva de veludo,
É a cura do homem bruto,
É a árvore que dá bom fruto.
Sem amor não sei viver,
Melhor seria morrer.
É plantio pra ter o que colher,
É ternura em cada amanhecer.
Nasci sem pedir e sem querer,
Vim do céu ou da noite de bem-querer.
Beijo a lua ao anoitecer
Espero o sol em cada amanhecer.
Sou luz na escuridão da dor,
Sou afeto no parto encantador.
Sou a voz do animador,
Sou o caminho na construção do amor.
Na conquista sou jogador,
Faço cantigas, sou cantador.
Faço meu mundo velejador,
Trago ao meu lado meu grande amor.
No palco do desamor,
Não tem aplauso nem ouvidor.
Quem navega no mar do amor,
Vive a vida com bom humor.
É mais feliz quem ama,
Na sala, na cozinha ou na cama.
Cabeça erguida nunca reclama,
Colhe o lírio que sai da lama.
Sem amor o mundo pira,
Rasga o pano e solta a tira.
É o ato de amar que me inspira,
Se o amor é brega, sou caipira.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
UM OLHAR PRA DENTRO
De agora em diante olhe pra dentro.
Olhe bem lá dentro,
Enxergue que existe sentimento,
Não aumente o desalento.
Use a bússola do encantamento.
Faça uso do GPS do contentamento.
Radiografe sentimentos e
Ultrassonografias de ressentimentos.
O esforço da convivência que cada um trás,
Esconde do outro a tristeza fugaz.
O julgamento atroz,
Contempla a fúria do algoz.
Olhar pra dentro da gente,
Esquece o alheio de repente.
Frustra a alma contente,
Joga soda na aguardente.
Cada qual com seu problema,
Cada um com seu dilema.
Julgar faz a alma pequena,
Agiganta-se quem recebeu a pena.
As pedras nos caminhos e
Os espinhos das jornadas,
São gotas de roda moinhos,
Das lutas desesperadas.
A pena recebida no limiar da vida,
É pesada e às vezes atrevida.
Os desvios são raros e dolorosos,
Só se salvam os dons mais amorosos.
É preciso aprender a compreender,
Aceitar que deslizes vão acontecer.
Nem severo, muito menos masoquista,
Aceitar que é mais um na grande lista.
Respeitar a igualdade e a lealdade,
Rejubila a dignidade e a felicidade.
Condena-te de seus atos de maldade,
Encarcera os ditames da vaidade.
Construa alicerces de humildade,
Faça laços com os tecidos da caridade.
Busque afeto e o sustento da amizade,
Veja em Cristo o que é ter simplicidade.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
MINHA RAINHA
Abraçá-la-ei com a ternura de meu abraço,
Beijarei seu retrato na pintura de Picasso.
Confortá-la-ei na candura de meus braços,
Amá-la-ei no orvalho do terraço.
Farei de ti moldura na parede,
Pintá-la-ei de azul e verde,
Repousá-la-ei no trançar da rede.
Temperá-la-ei com mel e azeite verde.
Costurá-la-ei com linho raro,
Dar-te-ei o zap do baralho,
Fechá-la-ei em copas e ouro,
Presenteá-la-ei com a ilha do tesouro.
Dar-te ei a estrela mais brilhante,
Ofuscarei a lua dos amantes,
Enfeitá-la-ei com pérolas e diamantes,
Exibirás com o seu charme provocante.
Farei conhecê-la o mundo inteiro,
Dar-te-ei a tranquilidade dos mistérios do mosteiro.
Dar-te-ei o luxo dos palácios de reis e rainhas,
Escolherei as estrelas mais belas como madrinhas,
Enfim,
Pedirei ao céu
Para cobri-la com o seu véu,
Élcio José Martins
Élcio José Martins
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Chegou sem dizer nada,
Não podia ser porta errada.
De mansinho conquistou,
Um coração flechou.
Duas almas de juntaram,
Dois corações se apaixonaram.
Abraços e beijos trocados,
Eternos namorados.
Das duas, uma só alma,
Sem estresse, tudo se acalma.
Dos dois, um só coração,
Sem regra, sem razão,
Só o pulsar da emoção.
É suor de malhação,
É o esfregar da dança de salão.
É o roçar de mão,
É o beijo de supetão.
E ainda mais se amaram...
Embebedaram-se do mel,
Com volúpia gargamel,
De êxtase sobiram ao céu,
Pernas e braços, o escarcéu.
Com o amor e o desejo se casaram,
E desse amor louco se encontraram.
E ainda mais se amaram,
Dos desejos soltos novamente se embriagaram.
E ainda mais se amaram...
Cúmplice cama dos pecados,
Cálidos beijos molhados,
Lençóis esparramados,
Vertigem de lustres dourados.
No chão, na lareira, na esteira,
No bico da mamadeira.
Suor, corpos molhados insaciados,
Sussurros de versos inacabados.
E ainda mais se amaram...
Élcio José Martins
Élcio José Martins
CEM POR CENTO AMOR
Não quero mais nem menos
Quero na medida certa
Nada que conserta
Quero tudo que é inteiro
Não quero nada por dinheiro
Nem por último nem primeiro
Quero justo e derradeiro
Vou pro mar eu sou praeiro
O amor só vale por inteiro
Se cortar vira parceiro
Mais um corte é pipoqueiro
Cortou tudo é baladeiro
Sem mentira sem assanho
Assim me lasco, assim me ranho
To na luta to no banho
Acabou, ficou estranho
Amo a vida que ganhei
A família que entrei
Os amigos que encontrei
O amor que apaixonei
Se reclamo do sapato velho
Vejo outro sem sapato.
Vejo outro sem o pé
na quentura do asfalto
Acorde, levante, abra a janela
E dê bom dia ao sol.
Este, sempre bate a sua porta.
É só deixa-lo entrar.
Iluminará sua alma,
Aquecerá seu coração.
Se não vier o sol, virá a chuva em canção,
trazendo a água benta da chegada do verão.
Lava a alma das nódoas dá vida atribulada,
Transforma a tristeza no perfume da relva molhada.
Saúda a beleza da manhã mais esperada,
Faz cantar alto os passarinhos na palhada.
A natureza tem seus encantos,
De brilhos, cores e pirilampos.
Ungida pelo sagrado sacrossanto,
Rega a vida e lava o pranto.
Alô Natureza!
Traga sua beleza,
Alegra quem tem tristeza,
Levanta quem tem moleza.
Deus criou os animais,
O Universo, as flores e os matagais.
Nos criou como os mais iguais,
Pediu que nos amemos sempre mais.
Acorde, levante, abra a janela
E dê bom dia ao sol.
Se não vier o sol, virá a chuva em canção,
trazendo a água benta da chegada do verão.
Alegra a alma irrigando o coração.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O VÁCUO DA VIDA
O que sou, são sei,
Não sei se acertei ou se errei.
Só sei que semeei,
Sementes e amores pelos caminhos que caminhei.
Construí trilhos e atalhos,
Costurei vestes de retalhos.
Já fui Rei e espantalho,
Já comi carne assada no borralho.
De onde vim não sei,
Pra onde vou ainda não pensei.
Corri, corri, um dia parei,
Pensei. Esse mundo não é justo como um dia imaginei.
Tem guerra e intolerância,
O veículo é ambulância.
Os donos do mundo não se entendem,
Só fazem o que pretendem
Hoje os lares são hospitais,
Triste sina dos mortais.
À mercê desses marginais,
A paz e o amor ficaram pra trás.
É um vazio de solidão,
No vasto mundo, imensidão.
As casas se transformaram em prisão,
No vácuo do medo, a espera pelo ladrão.
Nesse mundo inconsciente,
O jovem livre e impaciente,
Busca a calma do oriente,
Pra matar o leão e assar com brasa quente.
Qual futuro o espera,
Nesse tempo que acelera,
Víscera que dilacera,
Corpo drogado, na sede sem espera.
Do nascer ao morrer Deus nos deu a ponte da vida,
Cada um tem seu tempo, sem leme, sem bússola e sem rota definida.
Uns trafegam por cima, outros por baixo, seguem o destino,
Nascer, viver e morrer. Morte e vida, o desatino.
Nossa riqueza não é nossa riqueza,
O que fica é o nome e a nobreza.
Só tem jantar, não espere sobremesa,
O céu não precisa de riqueza pra manter sua beleza.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O EXPIRAR DA NATUREZA
Nervoso ficou o servo quando
Um malvado caçador
Fez ferir com dor
O inocente coxo cervo
Foi cassada a caçada
Na mata da serra alta
Depois da calda quente
Na cauda de um inocente
O homem céptico ainda duvidou
Que aquele cervo coxo
Tivesse sido ferido
De morte por tiro séptico
A cerração fechou de branco
Serrando a visão da dor
Do sangue empoçado
Do cervo sacrificado
Há cerca de décadas
Discute-se acerca da caça
Apressa-se a conversa
No consílio reservado.
No reservado do concílio comentou-se
Sobre a caçada na mata alta
Vai se assando com fogo brando
O bom senso do comando
No censo realizado
Dos defensores da natureza
Os espectadores de plantão
Somam-se aos expectadores da solução
É preciso espirar
O vento da proteção
É preciso expirar rapidamente
O celeiro da serpente
O mal da maldade
Vem da ira do homem mau
É preciso consertar o erro
E a caçada o seu descerro
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O EXPIRAR DA NATUREZA
Nervoso ficou o servo quando
Um malvado caçador
Fez ferir com dor
O inocente coxo cervo
Foi cassada a caçada
Na mata da serra alta
Depois da calda quente
Na cauda de um inocente
O homem céptico ainda duvidou
Que aquele cervo coxo
Tivesse sido ferido
De morte por tiro séptico
A cerração fechou de branco
Serrando a visão da dor
Do sangue empoçado
Do cervo sacrificado
Há cerca de décadas
Discute-se acerca da caça
Apressa-se a conversa
No consílio reservado.
No reservado do concílio comentou-se
Sobre a caçada na mata alta
Vai se assando com fogo brando
O bom senso do comando
No censo realizado
Dos defensores da natureza
Os espectadores de plantão
Somam-se aos expectadores da solução
É preciso espirar
O vento da proteção
É preciso expirar rapidamente
O celeiro da serpente
O mal da maldade
Vem da ira do homem mau
É preciso consertar o erro
E a caçada o seu descerro
Élcio José Martins
Élcio José Martins
A ILUSÃO DOS SONHOS
Na madrugada
Despertei pra vida
No novo amanhecer
Um novo nascer
A alvorada
Canta entusiasmada
Na manhã com certa manha
Entrego-me à façanha.
Ao meio dia da vida
Sem receio e atrevida
Embaralha nas cartas da incerteza
Cheiros e sabores relembra a mesa
À tarde o cansaço
Na rédea do baião
Na fita com laço doce
Embrulha o presente
A noite pede passagem
O sol já está distante
É a calma em calmaria
Descansar do ardo dia
No escuro o sono chega
A alma que benfazejas
São rios de belezas
Dos tropeços e proezas
Élcio José Martins
Élcio José Martins
ALÔ NATUREZA
Acorde, levante, abra a janela
E dê bom dia ao sol.
Este, sempre bate a sua porta.
É só deixa-lo entrar.
Iluminará sua alma,
Aquecerá seu coração.
Se não vier o sol, virá a chuva em canção,
trazendo a água benta da chegada do verão.
Lava a alma das nódoas dá vida atribulada,
Transforma a tristeza no perfume da relva molhada.
Saúda a beleza da manhã mais esperada,
Faz cantar alto os passarinhos na palhada.
A natureza tem seus encantos,
De brilhos, cores e pirilampos.
Ungida pelo sagrado sacrossanto,
Rega a vida e lava o pranto.
Alô Natureza!
Traga sua beleza,
Alegra quem tem tristeza,
Levanta quem tem moleza.
Deus criou os animais,
O Universo, as flores e os matagais.
Nos criou como os mais iguais,
Pediu que nos amemos sempre mais.
Acorde, levante, abra a janela
E dê bom dia ao sol.
Se não vier o sol, virá a chuva em canção,
trazendo a água benta da chegada do verão.
Alegra a alma irrigando o coração.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O MILAGRE ENVERNHONHADO
No discurso venceu batalhas,
Venceu exércitos, escudos e muralhas.
Prometeu cortar com lâminas e navalhas,
Disfarçadamente transformou liberdades em cangalhas.
A contra ditadura,
Sempre cuspiu doçura.
Jogou fora a formosura,
Feriu a história da postura.
O recado que era dado,
Da lamúria e do humilhado,
Escondeu que tinha lado,
Quando o poder foi conquistado.
A nação pediu clemência,
Pediu o banho da decência.
O contra ponto é a inocência,
Dos que defendem a violência.
Jogou fora a oportunidade,
De ficar bem na posteridade.
Destruiu a propriedade,
Todo bem da sociedade.
Descarrilou o bonde da história,
Na algibeira o dinheiro da memória.
O tempo da meia volta,
Mais uma vez, sofre o filho da derrota.
Nas linhas em branco foram escritas,
Frases de efeito, ditas e reditas.
Falam os verbos nos discursos que palpitas,
Defender o caos soam coisas esquisitas.
A verdade se consome na mentira,
A aceitação se transforma em ira.
No balão o cidadão ainda respira,
A gastrite da nação bebe chá de sucupira.
Hoje o enredo só mete medo,
São Thomé não acredita no que é segredo.
Somos filhos de um passado de degredo,
Foram fortes as palavras de Figueiredo.
Envenenou o rio das ilusões,
Tropeçou no trotar dos alazões.
Vendeu caro as promessas nos fundões,
A mudança se dará bem distante dos canhões.
A mudança não tardará,
A fome da certeza acabará.
A banda novamente vai tocar,
O hino da vitória numa noite de luar.
A alegria da cantiga se ouvirá,
O coração tristonho alegrará.
O sorriso ainda mais se abrirá,
Desistir jamais. Temos um Brasil pra reconquistar.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
DESEJO DA MULHER
Ah! Se soubesse os desejos da mulher,
Embebedaria de seu licor e comeria com colher.
Amaria todas, não sobraria uma sequer,
Daria a rosa mais bonita, não seria uma rosa qualquer.
Dom Juan não quis ensinar,
Como fez pra conquistar.
Amou as mulheres mais belas,
E como foi amado por elas!
Será que era o traje que usava?
Ou será que era o chapéu que portava?
Será que era o dinheiro na poupança?
Ou será que eram seu charme e sua elegância?
O que a mulher deseja talvez seja pouco,
Um punhado de carinho e um beijo rouco.
Um abraço apertado e um sussurro louco,
Nada é demais, que não seja tão pouco.
Presentinhos quando ela menos espera,
Elogiar sempre é a pimenta que tempera.
Ao acordar sentir o cheiro do café na cama,
Feito de forma especial por quem à ama.
Escrever nas estrelas que ela é a mais brilhante,
Que entre as pedras preciosas, ela é o diamante.
Enche-la de joias, pérolas e ouro,
Gritar ao mundo que essa mulher é o seu maior tesouro.
Magra, corpo violão,
Cortejada de montão.
Deixa babando o marmanjão,
Que não aprendeu como amar um mulherão.
Casa na praia,
Cavalo na raia,
Barco no mar,
Ainda sobra tempo para amar.
Viagem à Europa no dia do aniversário,
Jantar a luz de velas e show universitário.
Colar de brilhantes e brinco de esmeralda,
Curtir o luar na madrugada, sentados na calçada.
Nada disso tem valor se faltar o amor,
Falta de amor rima com rancor e dor.
Dê à sua mulher o seu devido valor,
Seja seu poeta, seu músico, seu cantor e seu maior admirador.
Conquiste-a de noite e de dia,
De manhã ao raiar do dia.
Seja seu brilho, seja sua luminosa luz,
Seja espelho, seja sua brisa, seja o seu cristal que reluz.
Ame as mulheres, a família depende delas,
Lute por seus direitos e faça tudo por elas.
Não importa se são bonitas ou se são belas,
Sempre alegrarão todas as cores em aquarelas.
A mulher não quer muito, quer apenas o seu amor,
Dê a ela seu jardim e a mais bela flor.
Nada que ela faz, pede algo em pagamento,
Faz tudo pelo amor e por seu contentamento.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O PARAÍSO ENVERGONHADO
De tanto ver seu nome no lamaçal da corrupção,
Nosso País esconde a face com vergonha de ser Nação.
As lágrimas derramadas escorrem pelas calçadas sem fama,
Lubrificam as engrenagens da justiça sob os auspícios de Dalai-Lama.
As turbulências não são passageiras não,
Viajam em nosso País desde o reinado de Dom João.
Cada dia uma nova decepção,
Cada estrume de vaca que se vira, tem alguém metendo a mão.
Políticos desonestos camuflam nas folhas da impunidade,
Fazem Leis que escancaram a desonestidade.
Não envergonham se massacram a sociedade,
São sem limites, perderam o brio e a dignidade.
Os bandidos com e sem colarinhos diferenciam-se nos ninhos,
Por necessidade ou opção seguem os desvios dos caminhos.
Os eleitos pela sociedade massacram e matam de mansinho,
Desrespeitam os cidadãos tratam todos por povinho.
Envergonhamos frente ao mundo da ética,
Pela exposição dessa classe doente e patética.
Não importam as enormes filas nos hospitais,
Não importam as crianças famintas nas capas dos jornais.
O tempero tá sem sal,
Já nem se sabe o que bem e o que é mal.
O Paraíso envergonhado pede perdão,
De fazer seu povo como escudo e paredão.
A Justiça como grãos de milho no galinheiro,
Apena um ou outro, busca agulha no palheiro.
As Leis covardes e protetoras,
Tiram o mel e o favo das classes trabalhadoras.
Com seus direitos surreais e especiais,
Surrupiam do cidadão o pão, a dignidade, seus bens materiais e emocionais.
A população ta triste, mas espera solução,
Só não sabemos quem poderá nos salvar da atual situação.
A sociedade repele a corrupção, mas comete os mesmos deslizes,
Precisa ser vigiada para não mostrar suas raízes.
Surrupiar os bens alheios saqueando o que é de outro,
Não pode ser normal numa sociedade que pede decoro
A desonestidade está alinhada ao outro, sem semelhança,
Mas o que difere é a oportunidade e a vigilância.
Não percamos a esperança, vale à pena acreditar,
Ensinar a criança é o caminho para o futuro melhorar.
O verde da floresta carioca pede respostas,
O Cristo Redentor se pudesse ficaria de costas.
Brasília nem a amarela dá aquarela,
Nossa Minas do ouro e pedras preciosas, tão bela ficou ridicurela.
O norte e nordeste do povo sofrido e esmarrido,
Sempre foi cabo eleitoral do candidato de nariz comprido.
Mas a fé em oração faz esse povo sabido, muito unido,
Não há desgraça que destrua esse amor construído
Da tapioca ao queijo mineiro,
Do arado, do jegue e do carreiro,
Das mansões, dos casebres e dos veleiros,
Não importa crenças e diferenças, ainda somos brasileiros.
Precisamos de coragem e decisão,
Levar a Bandeira verde e amarela numa só direção.
Arregaçar as mangas e gritar bem alto com a voz do coração,
Somos donos desse país e não vamos tolerar enganação.
Como brasileiro estou morrendo de vergonha,
Para o mundo somos frouxos acreditando na cegonha.
São promessas de ressacas num dia de curtição,
Somos sugados, sem dó, até sangrar o coração.
Logo chegará a hora da eleição,
Na telinha da TV pra tudo tem solução.
O discurso é o mesmo, mas com muita embromação,
Pra conquistar o voto na época de eleição,
O candidato é travestido de bondade, amor e compaixão.
Se os partidos fossem bons não seriam fatiados,
Como são partidos nunca serão inteiros e apropriados.
Ainda temos voto, a maior arma que temos,
Façamos dele o justo, o perfeito e tudo que queremos.
Élcio José Martins