Genuíno

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Contrariamente ao que crêem os chorões, todo o erro é uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convém apressar-se em aproveitá-lo.

É na idade da ambição que se prova a têmpera dos homens.

A ciência consiste em substituir o saber que parecia seguro por uma teoria, ou seja, por algo problemático.

O hábito cria a aparência de lei; o progresso não tem inimigo maior que o hábito.

Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.

José Saramago
O homem duplicado. Lisboa: Editorial Caminho. 2002

Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago
Os Poemas Possíveis. Lisboa: Ed. Caminho. 1999

O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.

José Saramago

Nota: Epígrafe do "Ensaio sobre a cegueira", citando o "Livro dos Conselhos" de El-Rei D. Duarte.

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Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.

Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida.

José Saramago
Ensaio Sobre a Cegueira

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.

José Saramago
Todos os nomes. Lisboa: Editorial Caminho. 1997

Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo.

José Saramago
O homem duplicado. Lisboa: Editorial Caminho. 2002

O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.

José Saramago
O Evangelho segundo Jesus Cristo. Lisboa: Editorial Caminho. 1992

Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago
Os Poemas Possíveis, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª ediçã

Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.

Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.

José Saramago
Ensaio sobre a lucidez. Lisboa: Editorial Caminho. 2004

Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.

Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa.

O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las.