Gente Mimada
É, a vida vai nos endurecendo. A gente nasce livre, puro, ingênuo, acreditando. Tomamos uma, duas, três, vamos colocando um capuz, um escudo, uma armadura. E salve-se quem puder. E consegue chegar quem deixarmos. O fato é que estou com medo. Medo da gente. Pânico da capacidade que as pessoas têm de andar lado a lado com a maldade. Medo de viver num mundo imundo como o nosso. Pobre de valores. Pobre de espírito. Podre de coração!
Chega um momento em que a gente se dá conta de que, às vezes, para sermos verdadeiros com nós mesmos, precisamos ter o desprendimento para abençoar as tentativas sem êxito, agradecer pelo o que cada uma nos ensinou, e seguir. De que, às vezes, para se reconstruir, é preciso demolir construções que, por mais atraentes que sejam, não são coerentes com a ideia da nossa vida. A gente se dá conta do quanto somos protegidos quando estamos em harmonia com o nosso coração. De que o nosso coração é essencialmente puro. Essencialmente, amoroso, o bordador capaz de tecer as belezas que se manifestam no território das formas. De que, sabedores ou não, é ele que tem as chaves para as portas que dão acesso aos jardins de Deus. E, vez ou outra, quando em plena comunhão criativa, entra lá, pega uma muda de planta e traz para fazê-la florescer no canteiro do mundo.
Se der errado, a gente dá um jeito. Se quebrar, a gente conserta. Se bagunçar, a gente arruma. E se tudo acabar, a gente recomeça.
A gente nunca é como quer! No fundo é gente um bocado de tudo que a gente já passou, de tudo que a gente já errou e aprendeu. Vai lá, dizer que não sabes quantos tapas que a vida já te deu!? De quanto a gente andou com calma, e quantos dias o tempo correu! Eu sei que sou hoje as decisões que tive que tomar a muito tempo atrás: entre fazer ou não, entre ir ou ficar, entre ter medo ou arriscar, entre viver ou ficar a sonhar. Também sou os conselhos que ganhei, os dias em que sentei e chorei, os amores que me deixaram... e principalmente os amores que deixei. Meu coração tem muito dos dias de chuva em que me molhei, tem lugares que passei, tem os sonhos que nunca realizei. Por um instante gostaria de ser quem eu realmente gostaria, e acho que todo mundo gostaria de poder ser assim também, mas depois eu vejo que podem achar ser loucura, pois ninguém tem tanta gana de viver tanto! Que ser humano, em sã consciência, viveria tudo que imagina ? É triste, como a grande maioria das verdades. E a verdade que é bonita, parece ser esquisita nesse mundão a fora. Todo mundo anda olhando pro lado, mas vez em quando eu ouso ir olhando pro céu. Catando nuvens. Desenhando figuras. Procurando Deus.
Só que chega um ponto que a gente cansa, que não quer mais saber de aventuras ou de procuras, entende?
A vida se aprende nas perdas. É perdendo a liberdade que a gente descobre que não se encaixa, é perdendo alguém que a gente descobre que não vale a pena lutar por futilidades, é perdendo o apoio que a gente descobre que o resto do mundo não para só porque nosso mundo parou. A gente vai aprendendo a viver assim, na marra, no grito, no sufoco, no impulso. Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser reconhecido. Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do que planejar um futuro incerto.
Que a gente aprenda a valorizar o abraço antes da ausência. O sorriso antes da lágrima. O momento que antecede a despedida. A luz de dias calmos. O amor sem nada em troca. Que a vida nos ensine à tempo o que é precioso cultivar. A demonstração de afeto antes da partida. A alegria anterior aos tempos difíceis. A presença antes da falta. Que tenhamos sabedoria à tempo para termos tempo de realizar. É verdade que a vida voa, mas também recomeça a cada dia, nos dando a infinita chance de recomeçar.
Algumas coisas a gente ouve com os ouvidos.Outras ouvimos com o coração.
(Chaol Westfall - "Trono de Vidro")
Existem pessoas para as quais a gente diz bom dia, boa tarde, como vai, feliz natal, feliz isso, feliz aquilo, mas por obrigatoriedade. Porém, há pessoas para as quais a gente diz tudo isso e muito mais, pelo seu valor como ser humano.
A gente fica nessa de "liga o foda-se e seja feliz" mas o "foda-se" não resolve nada. A irresponsabilidade é um abismo que te faz achar que podes voar, até se esborrachar no chão... E na boa, dói pra caramba!
Muita gente acha que política é uma coisa e cidadania é outra, como garfo e faca, e não é. Política e cidadania significam a mesma coisa.
Toda a gente se arranja como pode e, de todos, aquele que melhor vive é o que melhor sabe iludir-se a si próprio.
(Crime e Castigo)