Gente Mimada

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Às vezes a gente vai deitar com aquela sensação de que poderíamos ter feito algo a mais no dia. Pela manhã poderíamos ter tomando um café especial e, ao sair de casa, ter dito às pessoas que convivem conosco que a amamos. No trabalho, usaríamos a arma do sorriso no rosto para afastar aquela pessoa que, com sua energia carregada de inveja, vinha nos desestabilizar. E seriamos agradáveis com ela, a deixando sem espaço para fazer ou pensar o mal.

Almoçaríamos coisas saudáveis, mesclando um prato colorido e saboroso, como dizem por aí. Ao terminar, ligaríamos pra alguém que a gente goste muito e não falamos há muito tempo. Ficaríamos de prosa, rindo ao saber das novidades e, ao desligar, teríamos a certeza de que, mesmo longe, temos alguém que podemos contar. Sempre.

Na volta ao trabalho, quem sabe, compraríamos um sorvete para aquela pessoa que trabalha ao nosso lado e que nem imagina que pensamos nela com carinho quando estamos de férias, atestado ou, simplesmente, num final de semana de folga.
Quando voltássemos pra casa, também levaríamos algo simples, mas significativo, para quem nos espera. Quantas vezes alguém nos esperou em casa, de coração aberto, e a única coisa que conseguimos dizer é que o dia foi cansativo e terrível? Seria uma surpresa pra essa pessoa receber uma rosa, um chocolate ou, apenas, a alegria de estar em casa – de chegar em casa – bem, em segurança e com saúde.

Ligaríamos o som no volume máximo que nos fosse permitido e dançaríamos.
Ao deitar, talvez ainda teríamos a sensação de ter feito algo mais. Porém, estaríamos satisfeitos por termos feito da melhor forma o que estava ao alcance da nossa vida simples e faríamos uma oração pra agradecer.

Porque, muitas vezes, o que falta na vida da gente é só gratidão.

Às vezes, só às vezes, a gente dá a sorte de esbarrar com alguém legal.

Não se pode esquecer quem precisa da gente.

Que coisa misteriosa o sono!... Só aproxima a gente da morte para nos estabelecer melhor dentro da vida...

Mário de Andrade
ANDRADE, M., Amar, Verbo Intransitivo, 1927

Porque a vida é assim: quando o outro vai embora é que a gente descobre o tamanho do espaço que ele ocupava.

empatia (s.f.)

não é sentir pelo outro, mas sentir com o outro. é quando a gente lê o roteiro de outra vida. é ser ator em outro palco. é compreender. é não dizer "eu sei como você se sente". é quando a gente não diminui a dor do outro. é descer até o fundo do poço e fazer companhia para quem precisa. não é ser herói, é ser amigo.

é saber abraçar a alma.

Se meu sorriso mostrasse o fundo de minha alma, muita gente, ao me ver sorrir, choraria comigo.

São nos pequenos (mas grandiosos) gestos que a gente descobre quem gosta da gente de verdade.

O certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas

Se quiser ir, que vá. Só não me venha com essa conversa decorada me dizendo que qualquer dia a gente vai se encontrar em uma dessas curvas da vida, até porque, eu jamais irei te visitar na esquina do arrependimento. E se eu for, irei muito bem acompanhado.

Aprendi que não se deve expor felicidade em vitrine. É muita gente olhando e sempre tem um desgraçado pra jogar uma pedra.

Quando um certo alguém aparece em nossa vida, muda rotina, tira a calma, ocupa a mente, a gente esquece...

Esquece que em alguns momentos, tudo parece ser contra, tudo apenas parece...
momentos felizes são frações de segundos intensos e a todo instante algo pode ser...

Os dias e momentos seus passam, eles não voltam e eles não vão.

Mágoas, saudades, amores, angústias, culpas, medos e receios... até a letra.
Quando se deixa esquecer, um dia a gente esquece.

A gente sempre esquece que esquecer, é uma questão de querer.
Até lições que não deveríamos esquecer.

Mas um dia se esquece...

Mesmo o que agora pensamos, sentimos ser impossível esquecer
é, a gente sempre esquece...
(que queria esquecer)

Esqueça...

De algo em algo, a gente vai levando

Nem todo mundo sofrerá da "maldição de amor", como diziam os medievais. Muita gente morre sem saber o que é essa doença.

Luiz Felipe Pondé
PONDÉ, Luiz F. Heloisa. Folha de S.Paulo, 2010.

Nota: Trecho do artigo Heloisa, publicado em maio de 2010.

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A gente cuida de quem a gente quer ao nosso lado, simples assim.

A gente vive perdendo coisa. Perde a paciência, perde o ânimo, perde as chaves, perde cabelo, perde o sono, perde o emprego, perde amigo, perde saúde, perde memória, perde festa, perde a novela, perde brinco, perde ônibus, perde sangue, perde dinheiro, perde oportunidade, perde a hora, e até rim. Depois de perder tanta coisa, a gente já não devia ter aprendido a perder? Vou fazer com homem, a mesma coisa que faço com os ônibus, com a certeza de que daqui 20 minutos aparece outro, com a esperança de que seja mais bonito, mais confortável, e me leve até onde eu quero.

Muita gente passa a vida reclamando de coisas que não gosta. Isso dá poder a essas coisas, dá “chi” pra elas. Deveríamos focar nossa energia nas coisas que queremos conquistar, e não nas ruins.

Não é que o amor acabou. Não, ele continua aqui, guardadinho, quietinho. É que a gente cansa sabe, de correr atrás, de baixar a guarda, de pedir perdão (como se só a gente estivesse errado). A gente cansa de se humilhar puxando assunto no WhatsApp, curtinho as postagens no face, mandando mensagem e não tendo retorno em nada. A gente cansa de correr atrás de quem não para nem um segundo para ao menos nos dar um oi, pra saber como a gente está. A gente cansa porque de tanto buscar a atenção do outro acaba se perdendo. E se perdendo, a gente descobre que o outro nunca nos quis por perto de verdade, afinal, quem nos gosta tem medo de nos perder.A gente vai se cansando da indiferença, do descaso, da ingratidão do outro. A gente vai se cansando daqueles que não souberam respeitar o coração da gente, o amor, o carinho, o cuidado da gente.
O amor? Ah, ele continua aqui guardadinho e quietinho... porque a gente cansa sabe, de amar só quem nos desprezou...

A vida é como uma rampa de skate. Sobe e desce, mas é quando a gente tá lá em baixo que pegamos impulso!

Disfarça, tem gente olhando,
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.
Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.