Gente Futil
Nada acontece como a gente acha que vai acontecer.
(Quentin Jacobsen - Cidades de Papel)
"Todos os amores são conchas vazias, todos os corações um dia são partidos. Mas quando a gente encontra alguém pra deitar do nosso lado e contar estrelas com a gente, é como se uma pérola só nossa brotasse dentro da concha e fizesse a gente esquecer o escuro e a solidão. Eu sei que você tem medo e eu também tenho, mas a vida veio pra ser vivida e, se um dia roubarem a sua pérola tenha apenas uma certeza: você não vai morrer e quando menos esperar outra pérola nasce. O nosso amor é burro, mas é bom. Quem escolhe se esconder dele por segurança não se machuca, é fato, mas também nunca conta estrelas de madrugada e nem, no final da vida, tem um colar de lembranças para contar."
Cadê Você?
Me dê notícia de você
Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê
Me deu vontade de lembrar
Me leve um pouco com você
Eu gosto de qualquer lugar
A gente pode se entender
E não saber o que falar
Seria um acontecimento
Mas lógico que você some
No dia em que o seu pensamento
Me chamou
Eu chamo seu apartamento
Não mora ninguém com esse nome
Que linda cantiga do vento
Já passou
A gente quase não se vê
Eu só queria me lembrar
Me dê notícia de você
Me deu vontade de voltar
SIMONE
EU SEI, MAS NÃO DEVIA
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora, a tomar café correndo porque está atrasado.
A gente se acostuma a ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo na viagem, a comer sanduíches porque não tem tempo para almoçar.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios, a ligar a televisão e assistir comerciais.
A gente se acostuma a lutar para ganhar dinheiro, a ganhar menos do que precisa e a pagar mais do que as coisas valem.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não a das janelas ao redor.
A gente se acostuma a não abrir de todo as cortinas, e a medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, a amplidão.
A gente se acostuma à poluição, à luz artificial de ligeiro tremor, ao choque que os olhos levam com a luz natural.
A gente se acostuma às bactérias da água potável, à morte lenta dos rios, à contaminação da água do mar.
A gente se acostuma à violência, e aceitando a violência, que haja número para os mortos. E, aceitando os números, aceita não haver a paz.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza para preservar a pele.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto se acostumar, se perde por si mesma.
A gente se acostuma, eu sei, mas não devia.
Aviso da Lua que Menstrua
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofia
cozinhando, costurando
e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
Gosto de Gente do tipo engraçado que sorri por nada e por nada dá gargalhadas, gente simples que anda de bicicleta, toma café em copo, e se diverte comendo macarronada. Gosto de gente decente que fala o que pensa, mas nem sempre pensa, gosto de gente alegre que não tá nem aí pra tristeza, mas vive o que sente. Gosto de gente educada que pede licença, diz bom dia, muito obrigada. Gosto de gente que se aventura por aí e não tem medo de nada, gente ousada, intrépida e que sabe o quer. Gosto de gente que ama, que tropeça e levanta, que chora quando tem vontade, que me olha nos olhos pra dizer verdades, e tem no coração sinceridade. Gosto de gente humilde que reconhece erros, e busca seus acertos. Gosto de gente que põe guarda em seu coração que não se alimenta de ódio, não vive pelo que vê, mas que exala amor.
Gosto de gente que me faz dançar em dias de chuva, que me faz sentir a tal quando estou por baixo, e que segura minha mão quando percebe que estou com medo. Gosto de gente que gosta de gente que vive como a gente... Gosto de gente igual a gente.
Toda pessoa é sempre as marcas de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. É tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense que está.
Eu considero masoquismo aturar sem queixa uma porção de pessoas, eu detesto gente burra e vivo me encontrando com elas.
Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer.
Às vezes a gente não precisa de nada, só de compreensão, só de um colo, de um ombro amigo. De saber que tem alguém lá apoiando você. A pessoa não precisa dizer nada, ou fazer nada, somente estar lá, ficar lá, paciente, escutando, deixando você desabafar, deixando você colocar tudo para fora sem te sentenciar, sem te julgar. Às vezes a gente não precisa de muita coisa, só precisa de alguém, que dê um aconchego, dê uma demonstração de carinho, dê um sinal de afeto. Nem sempre queremos palavras ou promessas, às vezes as palavras são necessárias, às vezes elas são insuficientes, às vezes são incapazes de descrever ou consolar o que estamos sentindo em certos momentos. E às vezes só uma demonstração, só um gesto, só uma pequena atitude, tem a capacidade de expressar, de acalmar e de consolar que as palavras nem sempre tem. Por isso é que sempre dizem: uma atitude, um gesto valem mais que mil palavras. Não fale, demonstre. Atitudes provam tudo o que as palavras deixam a duvidar.
Tem gente que eu sei que fala mal de mim, mas trato na maior normalidade do mundo. Uns chamam de falsidade, eu chamo de maturidade! Na boca de quem não presta, até quem é bom não vale nada.