Textos de Gabito Nunes
"E nada aconteceu. Eu meio que sabia onde as coisas iam dar – foi quase, mas não deram. Não deu. Não dei. Valeu a tentativa, o empenho, o interesse. Eu não estava prestando muita atenção, mas posso sentir em algum lugar aqui dentro de mim que foi bonito. A gente ainda vai se falar por aí, essa não é a conversa final, eu sei como você é." -Gabito Nunes (via partedopercurso)
Eu preciso pensar. Na verdade, eu preciso não pensar. Tenho medo de descobrir coisas que não quero. E não dá outra, no trajeto eu me dou conta que eu sou sim uma garota inflável. Sempre quando eu acabo vindo, no dia seguinte eu me sinto flácida, murcha, vazia, embrulhada e guardada numa gaveta. (Um idiota pra chamar de meu)
Não tenho tempo pra isso. Estou sentindo em mim um raro momento de maturidade e pretendo segurar essa sensação mais horas e dias e semanas possíveis. Não é como se nós dois estivéssemos tomados por uma paixão impossível de controlar. (…) E não é isso que eu pretendo fazer, tudo tem limite e eu já cruzei o meu há milênios, tanto que não consigo ver a demarcação ao olhar pra trás.
"Se me calo, fico emburrado ou me encontro distante, não pense que é por falta de amor ou desejo. Às vezes, me sinto meio sem rumo num mundo tão hostil, complicado e descolorido. O pior remédio é você fazer o mesmo. Ignore minha apatia. Só peço que chegues e instale a beleza que me falta, venha sorridente, regue as flores na sacada, ative minha respiração, massageie meus ombros, tire minha roupa ou me abrace, simplesmente. Vai passar."
Agora fui. Porque comecei isso querendo ser sua companheira, passei a cúmplice das suas maldades, e ficar dessa vez vai me fazer sua comparsa. Não é um ‘até amanhã’ nem ‘até breve’ e nem ‘até mais’. É um ‘até você mudar’ ou ‘até você não ser mais quem você é’. Até nunca, então.
Às vezes simplesmente não dá pra delimitar quem somos. Lúcidos ou não, estamos todos atrás daquilo que nos pertence, e que todo dia nos escapa um pouco: nossas próprias vidas. Cada um de nós acha mais ou menos que sabe onde ela fica, e é pra lá que vamos sem pensar muito. Se por vezes acabamos meio parecidos com moscas cortejando a merda, bem, isso pode ser apenas um tremendo erro de julgamento. Para as moscas, que só vivem uma ou duas semanas, a merda é o máximo.
"Não sou mulher de rosas. Já disse de saída, no primeiro encontro, nem recordo a razão. Mas disse, naquele meu velho estilo metralhador de moços com olhos de promessa. Sei que disse, com meus reflexos ariscos de cão sem dono sempre buscando receosa a moeda de troca para qualquer elogio, a vigésima quarta intenção por trás de um rosto abandonado. Eu não queria ser mais uma na sua cama, por isso disse não gostar de rosas, tampouco das vermelhas, pra me afastar da obviedade do amor. Não sabia como, mas queria que você me notasse diferente de todas as outras."
Garota, sabe, tenho uma saudade do cheiro da sua pele, tanta, que às vezes me dá uma vontade ridícula de chorar. Não só pelas vezes que minha memória olfática retroativa seu perfume de talco e amêndoas. Mas porque me vem uma certeza que eu ainda tinha mais pra amar, muita coisa pra admirar, outros pontos epidérmicos pra jamais esquecer. Você tinha alguma coisa, um segredo, uma receita que as outras não têm, não sei.
"E, fatalmente, vão se cruzar por aí. São tantas as esquinas. Vocês vão beber um café quente juntos, falar amenidades, sobre novos cortes de cabelo, você está bonita, e você mais maduro, como está sua mãe e tudo mais. Nos momentos de silêncio, baixarão o queixo, com medo de amarrar olhares e, talvez, voltar tudo aquilo outra vez. Mas vai ser só isso."
É proibido. É um tabu social. É uma contravenção. É contra o mundo. Tudo, nossas afinidades, nossos passeios distraídos, nossos telefonemas escondidos, nossos pequenos encontros em ruas desertas, nossas canções dedicadas, nossos beijos no escuro do cinema depois de comprarmos os ingressos e enfrentarmos a fila estrategicamente separados, paranoicos e suarentos de nervoso. Putz, o que a gente vai fazer agora?
(Contra o mundo)
Existiu, talvez, um tempo em que era tarefa fácil não ser babaca - ou não tínhamos tanto acesso à babaquice. Hoje é diferente. Para não virar sócio desse clube cada vez mais numeroso, você precisa de manutenções diárias, de precauções permanentes, cuidados especiais, de testes, análises e relatórios, talvez um aplicativo no seu celular babaca da moda. Enfim, você precisa realmente trabalhar isso.
(2011 foi um ano ruim)
Esses dias eu me peguei tentando
ser uma pessoa melhor, veja só.
Quem precisa engolfar-se fundo no
próprio ego quando está nem aí pra
nada e pra ninguém?
Recentemente tudo indica que
ando ameaçado a me reinventar,
me converter, me variar, me
disfarçar, enfim, me tornar uma
coisa que nem sei se sou, para
agradar quem eu ainda nem sei
quem é.
"Na hora, eu quis perguntar se tinha algo a ver com outra pessoa, mas quando estão nos abandonando ninguém nunca menciona nome de terceiros, sempre dizem nada ter a ver com outras pessoas, como se não existisse mais ninguém na cidade. E três semanas depois já estão num relacionamento sério, segundo alguma rede social que você precisará suicidar seu perfil se quiser passar os dias como um cidadão com os batimentos cardíacos moderados e operacionais."
- Gabito Nunes
O que você quer? Absolvição? Aplausos? Ver nos meus olhos uma ponta de dor? Que eu desague um rio de lágrimas? Correção? Desculpa entrar na brincadeira sem julgar seu acontecimento como uma mera molecagem credora de castigo. Nunca fui sua mãe e você já não é mais criança, posso afirmar, apesar da sua ingenuidade em pensar que assim a coisa soaria mais honesta. A pior ingenuidade é achar-se esperto.
(Nada a perder)
"Bom, sei lá o que me dá, se é medo do futuro, preguiça de regar nosso convívio ou alguma crise existencial que vai vêm. Mas preciso ficar só. O que eu menos queria era ver você aborrecido e temido quanto às coisas que sinto. Só vai fazer me sentir pior e mais impotente. No duro, pediria sua ajuda se soubesse o motivo, mas sou uma mulher que não vê necessidade de divagar sentimentalismos e fraquezas.
É que eu mesmo, preciso ficar só, por um dia, uma semana, um mês, um ano ou mesmo dois. Eu gosto de ser livre.
Eu nunca quis as coisas assim, mas meio que sabia onde iam dar – foi quase, mas não deram. Não deu. Não dei. Valeu a tentativa, o empenho, o interesse. Eu não estava prestando muita atenção, mas posso sentir em algum lugar aqui dentro de mim que foi muito bonito. A gente ainda vai se falar por aí, essa aqui não é a conversa final.
Eu não vou pedir que você seja meu amigo, que você me dê seu perdão se te fiz sofrer ou afins. Não agora. Por quê um dia você vai entender tudo isso, eu nunca fui e serei a mulher certa pra você. Não adianta adiar o inevitável. Eu não sou o "teu alguém" e a reciprocidade nesse caso é tão verídica, que nem precisa argumentar. Você também deve sentir, não foi como deveria ser. Eu sinto que não bateu as expectativas, e a culpa é minha.
Pode ficar aí, na tua, quieto, não se faz necessário reunir forças para mover lábios e cordas vocais para responder qualquer coisa que seja. Não quero incomodar, mas quando estiver pronto me fale qualquer coisa. Me xinga, se abra comigo (como eu o faço agora). Só não me peça pra ficar. Não crie expectativas, me deixe ir sem rancor ou mágoa. Eu não voltarei mais à tua vida pra ser o teu amor.
Você me ensinou muitas coisas, e eu sou muito grata por tudo isso. A melhor delas, me ensinou que o amor verdadeiro sempre espera um pouco mais pelos beijos atrasados. E isso é tão lindo ...
Quando sair de casa e chegar onde seja meu paradeiro , vou sentir saudade. Uma saudade forte, com a mesma intensidade da saudade que eu sentia de você antes de ter te conhecido. Só que diferente, uma saudade alegre. Por te deixar ir atrás de quem realmente te faça feliz, como eu, mesmo que tentasse, nunca conseguiria.
Algumas pessoas apenas não nascem para ficar juntas, digo juntas-juntas, embora seus encontros físicos sejam bem românticos e inesquecíveis. Digo isso sobre nós. Vai ver é isso que querem dizer quando dizem que tudo isso é um jogo, e nós perdemos. Para nós mesmos, para quem eu sou.
O amor é inseguro. A qualquer momento ele pode sumir de vista da mesma forma como apareceu do nada. O nosso está sumindo agora.
Você será sempre um privilégio.
" Não sei quantas vezes te deixei bem triste
Não sei se comigo foi feliz, ou não
Não sou exatamente o cara (a mulher) mais fácil que existe
Mas posso te dizer que para sempre
Te trarei dentro do meu coração "
Amar é mandar, achar que manda, obedecer, fingir que obedece. Amar é fazer vitamina de banana com nescau, é dar bom dia espreguiçando as vértebras com os braços esticados, sorrindo envergonhado de remela nos olhos. Amar é dizer “vem cá”, ter os pés aquecidos sem pedir, comemorar o dia do primeiro beijo, chegar da festa e comer pizza gelada. Só ama aquele que começa a falar pelo fim, que diz sim sem saber a pergunta, que discute o namoro sem lugar-comum. Ama quem sai na rua pra tirar fotos, pra ver estrela riscar o céu, pra pisar na grama descalço, pra pegar um cineminha na terça. Amar é perguntar “tá dormindo?”, é descer do ônibus com o outro à espera, é cantar “she loves you yeah yeah yeah”, é morder queixo, orelha, cotovelo, panturrilha, lábio. Amar é comer uma coisa diferente e lembrar o outro, é ficar de mal, é arrumar tempo pra pensar no outro na correria do dia."
Parece exagero, mas é que você, poxa vida, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que levantei em volta de mim quando as palavras dor, saudade, ausência, falta e despedida fizeram de mim uma menina de lata. Você e seus cabelos escuros e sempre meio ensebados de vir da rua, seu abraço com cheiro de confiança e seus sorrisos nada comerciais. Eu, menina com os pés no chão e sem teto, acabei de decidir que vou levar um choque térmico, atravessando bruscamente pro lado quente da calçada. Conto contigo.
E, fatalmente, vão se cruzar por aí. São tantas as esquinas. Vocês vão beber um café quente juntos, falar amenidades, sobre novos cortes de cabelo, você está bonita e você mais maduro, como está sua mãe e tudo mais. Nos momentos de silêncio, baixarão o queixo, com medo de amarrar olhares.
Eu sei, fui egoísta. Larguei tudo pra trás, quem eu penso que sou pra sonhar que tudo é como foi? Ninguém. Sei enxergar isso. A gente tem fome de vida, de tudo, luta contra a morte o tempo inteiro e esquece que provavelmente o amor é maior que as duas coisas juntas. Mas isso você se dá conta quando pisa os tênis sujos de mundo no seu velho lugar, e a pessoa que você em momento algum se esqueceu de lembrar não está lá pra te receber. Eu quis manter todas as minhas opções abertas e agora estou pedindo perdão pela minha incapacidade de me prender, de ficar. Não é irônico? Bem, eu estou sozinho. Eu andei sozinho. Eu queria me encontrar, achei que lendo Nick Hornby em Holloway ou pegando algum trem noturno escutando Ian Curtis, tudo isso aconteceria naturalmente. A gente dá as costas para as emoções fortes em nome do êxtase, porque consideramos que o êxtase é o melhor. Não sabemos sentir o que é realmente importante e bom. Essa vontade estúpida de sair por aí querendo não perder nada acabou me fazendo perder tudo.
Todas essas alternativas, essas opções de caminho é que dão segurança de andar. Pois algo sempre pode muito bem dar errado, e é bom saber que existem desvios de rota, bifurcações, rótulas, pistas livres, placas e pontes. Quem sabe andar acompanhado da certeza cega de que está no caminho certo não é um jeito de estar espetacularmente perdido?