Fundo
"Eu não preciso ter conhecido alguém a fundo para, diante de um infortúnio, me compadecer. A maior virtude do ser humano é se pôr no lugar do outro".
Às vezes, nem nós mesmos nos conhecemos a fundo. Desconhecemos o poder das nossas palavras, seja para o bem ou para o mal, a nossa capacidade de magoar ou despertar alegria, o potencial das nossas ações e o reflexo de tudo isso na influência das reações à nossa volta até que nos depararmos com alguém igual a gente e aí então nos damos conta de quem realmente somos e do que somos capazes, seja para expandir as nossas boas energias ou limitar as nossas ousadias.
Quando deixamos fluir o que somos corremos riscos, mas ainda assim vale à pena, e àqueles que, iguais ou não a nós, estiverem atentos saberão identificar o propósito de sermos como somos e como podem aproveitar o melhor do nosso ser.
E tu vinhas andando, pisando fundo com passos fortes, certo de que aquele caminho que seguia seria o melhor pra si mesmo. Eu, no meu canto, te admirava e a cada passo forte dado por ti, em mim crescia a fome de teu ser; transbordava o desejo por seu corpo; aumentava a vontade de que mesmo que só por um segundo - ou milésimo que fosse - este chão por onde andastes, te levasse a um caminho que seguisse rumo a minha vida e por aqui ficasse. Teus passos a partir de então, seriam nossos. E por mais que eu quisesse e pudesse me distanciar, nossos caminhos se tornavam cada dia mais um só e nossos corpos se aqueciam mesmo longe. A lágrima que caía e borrava tua maquiagem pálida era uma resposta ao que eu estava sentindo naquele exato momento, mas que por algumas coisas que talvez eu nem sabia dizer ao certo quais eram, eu não podia lhe dizer. Só podia sentir. E lhe ter em pensamento.
Eu me tranquei no banheiro. Respirei fundo. Dei meia volta e olhei fixo no espelho. Maldita seja, eu disse a mim mesma. Maldita minha aparência, maldita minha cabeça com esses pensamentos auto-destrutivos, malditas as pessoas que falam dos demais como se suas palavras fossem armas de brinquedo, que não ferem. Malditas as garotas, lindas, magras, carismáticas e livres que se permitem ser tudo e fazer o mundo crer que elas são a melhor escolha. Malditos os homens que não entendem que muitas dessas mulheres são um frasco vazio, enquanto por aí, existem tantas mulheres lindas por dentro, esperando florescer como os lírios, esperando ser descobertas, esperando ser observadas. Maldito o momento em que decidi ancorar novamente minha vida, em vez de usá-la como um meio para conseguir o que quero. Maldita minha confiança que me faz pensar que nada vai querer me prejudicar e ao final, sempre tem alguém disposto a fazer isso. Maldita a hora em que me apaixonei por homens de lixo que me deixaram quebrada em mil pedaços outra vez, como se não se importassem, como se eu não fosse humana. Maldita hora que paramos de amar a nós mesmas, e não apenas o que vemos refletido no espelho, mas também quem somos quando estamos sozinhas. Maldito o relógio que está correndo e eu aqui trancada, sabendo que tenho que voltar e não chorar, sabendo que não devo falar sobre minha vida, pois ninguém quer saber. Apenas sorrir, isso devo fazer, sorrir com essa maldita máscara que escolhi. Silêncio. Tudo está aqui, em meus olhos, esses que olho todos e ninguém, absolutamente ninguém. Ninguém vê nada.
Sob a face serena
E o olhar tranquilo
No fundo do peito
Acima de qualquer suspeita
Há sempre um vulcão
Louco para entrar em erupção
Talvez, lá no fundo, nós só quiséssemos ser amados de verdade. Mas não um amor de distâncias, que machuca com a ausência e faz sangrar um coração tão maltratado; mas, sim, um amor presente, forte e que tem a capacidade de curar.
Quando pensar em desistir da caminhada, respire fundo e veja que o sol nasce todos os dias, a tempestade apenas nos dias quentes de verão.
Zelando, cuidando e protegendo
a nossa amizade...
Porque lá no fundo o que a gente
precisa é disso:
Carinho, amor e atenção.
Dizem que com o tempo a amizade esfria...
Que é impossível durar para sempre...
Eu olho no fundo dos seus olhos todo dia...
E vejo esta menina sorridente...
Que sempre está aqui para a minha alegria.
Olho-te fundo a alma.
Olho na ânsia de te
Alcançar. De poder te
Abraçar entre olhares.
Quem dera te tocar,
Sentir tua pureza,
Despida de qualquer
Malicia e te amar.
Dir-te-ia tanta coisa
E silenciaria para
Ouvir-te pulsando
Docemente.
Far-te-ia sol em noite
De lua crescente
E iluminaria esse breu,
Lacuna vazia.
Não choro esse mergulho,
Essa lágrima abranda
Essa tempestade e afaga
O coração ainda alagado.
RENÚNCIA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Essa tua expressão de que o poço está fundo
e não queres a luz nem a volta pra margem,
faz o mundo pesado pra tua preguiça
de buscar os desníveis da felicidade...
Deixo a minha intenção de viver um momento
que valesse uma vida só por ser contigo,
teço asas de vento e viajo pra longe
desse abrigo soturno que te faz cativa...
Em teus ares estreitos de quem não tem ar,
teu olhar sem olhar pra nenhum horizonte
não achei o que achava que tinhas de sobra...
Tua luz foi cortada e já me rendo ao fato,
não há gato que possa repor energia,
porque dias e noites morreram pra ti...
Uma energia me suga
ao fundo do teu olhar.
O brilho vermelho
disfarça as cinzas, os restos.
Planetas e estrelas engolidos,
amores extintos e poeira cósmica.
Uma arma tão simples,
uma gravidade tão grande.
Concluo que é impossível
frear meu corpo ou
escapar do teu olhar radioativo.
Roney Rodrigues em "Quasar"
Sentado lá naquele fundo de quintal algo tirou-me de meu conforto, uma sensação que pra explicar seria necessário sentir novamente, mas já sabia que era por conta daquela gaivota que voava plena em seu planar. Como eu queria voar!
Mas será que minha admiração por tal fato seria válida ao ponto de querer aquilo pra mim?
Acho que não! Quem sabe aquela gaivota lá do alto não me olhava pensando em o quanto me via correr velozmente pelo quintal e subir e descer das árvores agarrado em seus troncos, quem sabe ela não queria ser eu, conseguir articular sua mandíbula e produzir com suas cordas vocais e língua tantos gritos e cantos das minhas brincadeiras de rodas?!
E ali ficávamos eu e a gaivota nos admirando... Talvez é claro!
Ajeito o teu alforge
Verifico o que esquecemos
Por fim, ajeito o capacete.
Respiro fundo, aguço os meus sentidos. Quero perceber o som do motor.
Você me aperta, me alerta, e saímos. Devagar e felizes.
Ivan Madeira