Fugaz
CREPÚSCULO DO TEMPO (soneto)
Vê-se no espelho, e vê, pelo tempo fugaz
Uma desconhecida face que ali se ilumina
Decaída, expira a mocidade, e aí! termina
A juventude mais pasmada, que agora jaz
Outra ruína mais funda se revela... sagaz
As marcas do andamento... uma heroína?
Não... Furtou-me a idade, pérfida chacina
Mais que ter beleza, foi-se o ânimo audaz
Os fios brancos, e o amarrotado desgosto
Abarrotado de opaco, o intrépido se ver
Pondo no olhar, o luzidio de um sol posto
Chora, o dispor, que não faz então esquecer
Trêmulo no viver, de lágrima triste no rosto
Põe a confidenciar... que estou a envelhecer.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 de janeiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO DE ANIVERSÁRIO
O tempo passa, fugaz os anos
Numa poesia de trova da vida
Chegada, prossiga ela, partida
Em seus versos bons ou tiranos
Passa-se a rima, envelhecida
Nos agrados e nos desenganos
Dos novos e dos velhos planos
Os sonhos e, da ilusão nascida
Nas venturas, pouco se figura
A quimera... se cabelo branco
No amor, mais vale a candura
Se antes ficção, agora franco
O dizer: - louco é essa loucura
O viver. E duro o seu tamanco!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
AFORA
Passaste como a flor do ipê fugaz
que se desprende na sua aurora
do desvelo só tiveste àquela hora
em que do afeto o emotivo traz
Ter-te e perder-te! sensação voraz
que inunda o peito, e a dor piora
sem ver-te, o poetar por ti chora
em tristes versos, saudade tenaz
Demorou essa presença em mim
minha alma ainda adora, e flora
emoção num sentimento marfim
Neste querer, o querer é outrora
se sonhei contigo, calou o clarim
dessa estória, o amor vai afora!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro de 2020, 02 – Triângulo Mineiro
CARQUILHA ...
Fugaz, é que o tempo célere venha
pra devorar a quimera alquebrada
e no rosário de feitos, vária jornada
ide nós, afoitos, na vetustez grenha
E, que outra quimera nos mantenha
a não ser da força, que seja morada
de amores, e sensação apaixonada
o poder que sustenta: - laço tenha!
Ó efêmero, ó breve, ó dor extrema
com o seu encanecer, assim, aliado
louco, que corrói a vaidade da gente
Só tu és patada, ó ligeireza suprema
que traz saudade ao momento tirado
e carquilha ao fado, dantes recente! ...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
17/04/2021, 13’24” – Araguari, MG
APRESSA-TE
Basta-te depressa, o tempo é fugaz
A vida passa num piscar, sem temor
Que hoje é viveza e desejo lhe traz
Amanhã, já não mais lhe terá amor
Gostemo-nos agora, o viver é fugaz
Dando laços, vamos, ofertando flor
Agrado leve que ao coração satisfaz
E um querer manso, feliz e sedutor
Vagando serenamente por um olhar
Estar, e no coração sentir a pulsação
Sem que a desdita venha perturbar
Existamos hoje, na sede, na paixão
Mantendo acesa a chama de amar
Que flama, divina, na viva sensação
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21, junho, 2021, 14’25” – Araguari, MG
Primavera
Florescem os lírios com o branco da paz
Brotam gardênias com o seu colorido fugaz
Em cada rosa transfigura o perfume do beijo
No movimento das margaridas o aceno do desejo
É o romantismo brindado na tulipa vermelha do amor
São os caminhos tapetado com violetas, delicada flor
As camélias perfumando com seu aroma inebriador
Raro como a papoula a vida se faz com poético teor
É a natureza oferecendo sorrisos com boca de leão
São as horas marcadas pelos girassóis em posição
Com copos de leite branco, a pureza, doce perfeição
Um azul hortência que tinge a primaveril estação
É época primeira anunciada pelas trombetas de anjo
São sacadas e floreiras vestidas das cores do gerânio
Aveludada como as begônias amanhece cada aurora
A solitária vitória régia desfaz a nostalgia de outrora
Sempre vivas bradando a temporada em anunciação
De manacá em manacá se orna a serra em floração
Em cada pingo de ouro a densa natureza persevera
Assim, bela como a orquídea é toda a primavera...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/09/2008, domingo, 07’00” – Rio de Janeiro, RJ
RECÔNDITO
Falei tanto de solidão, de devaneio
De sonhos, galanteios e desgraça
Em tudo fugaz, que vem e passa
No piscar de olhos, com que veio
Tal desventura e ventura e graça
Choro e riso, a liberdade e o freio
Tão pouca a sorte tive no sorteio
Tudo agridoce tal fogo e fumaça
O autêntico senso, é de mansinho
Penetra na alma, no amor orgulho
Tem olhar manso e melhor carinho
Se vem e devassa, é um engulho
Silencia, no doce poetar, definho
Suspiro, perfurando sem barulho
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2018, 06 de outubro - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO PARA OS 90 ANOS
A vida quando aos 90 anos
Avante, fugaz se faz revelar
Surgindo saberes soberanos
No encanto que faz sonhar...
Gratidão a cada primavera
Na sequência a prosseguir
Enflora a cada novata era
A florear a fase do existir
Ah, tempo, se adivinhasse
Se pudesse sentir o andar
Sentiria a poesia pra valer...
Da existência, veterana face
Do tempo, então, a versejar!
É vida longeva, viva o viver!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/08/2022, 18’00” – Araguari, MG
*soneto para os 90 anos de Daisy Lemos Dorazio
Nossa vida é fugaz, por isso, estude, conheça, duvide, faça contestações, pois, o conhecimento é algo que jamais poderão tirar de você!
Só quem prova a insensatez momentânea, consegue o discernimento fugaz, aquele que surge em momentos oportunos de lucidez , resta saber aproveitá-lo .
A DAMA CANDIDA:
Ela virá tal qual trem
Que as paralelas trilha
Fugaz, viril como sempre vem
Insana, em sua palidez marmórea brilha
A lápide seu refugio
Epitáfio a própria identidade
Anoite indumentária... Negra qual Vesúvio
Hostil, sem carisma ou piedade
De semblante pálido, olhar galhardo
Ela brada e rir, sem sentir-se vai
E consigo leva seu maior finório sem deixar recado
Qual vento se vai sem deixar vestígios
De volta ao seu “Paraíso” fúnebre
Como se frenesi, te chama ao verdadeiro equilíbrio.
SONHO FUGAZ:
Um varal de farpas finas
De toalhas incolor
Um negro e a dama filha
Um cão que nunca ladrou.
Um terno de goma fina
Na lapela seu amor
Vestiu-se de sonho a sina
E nunca aqui voltou
AMOR PELO NÃO
O amor?
Ah, o amor!
Amar sob o gesto de dizer
Não.
O amor sem o não é fugaz e mortal
Quando sim, contrapõe-se à razão.
Logo, é pragmático dizer sim.
Gesticula suposta indulgência
O sim é elementar e mascara
A incoerência, insensatez...
O amor é volúvel quando se atem
Ao sim.
Na sensatez do ser
Não é simplório dizer não
Entretanto, quem ama com razão
Diz não.
O sim remete à compaixão
E segrega as nuances do coração.
SONHO GRENÁ
Hoje, olhando para trás, vejo tudo tão pouco e fugaz.
Só mesmo o relógio na parede, o sonho grená
Serão capazes de parar o tempo.
Porque o tempo não pára, não pára não.
Seu sonho que pára o tempo!
Para se fazer franzino meu sonho grená.
Dentro de mim estradas sem volta
Dentro de mim caminhos sem fim
Dentro de mim seus deuses de nanquim.
A vida é uma sublime força fugaz escrita pela natureza, interpretada pelos humildes e divinizada pelos esotéricos
Ri efêmero que seja fugaz, não vão confrontar o meu amor na subida nem vão alcançar na descida, tua decadência não soma nada já nasceu em decomposição, como pode ter audácia tão mesquinha, quanto a mim, vou voltar para a felicidade lá está o meu regresso.
Universo em Sintonia
Em universo teu e meu,
Onde estrelas bailam em véu,
Galáxias em abraço eterno,
Somos grãos de um sopro, breve e terno.
Um só instante, um só fluir,
Do tempo que tece o existir.
Um de cada, alma a bailar,
Milagre que a vida faz brotar.
Fugaz instante, breve e veloz,
Façamos valer, sob a luz feroz.
Com amor, alegria e risos leves,
Pintando o tempo com cores breves.
Em universo teu e meu,
Universo onde sonhos se entrelaçam,
Deixemos nossa marca, um rastro fugaz,
De um amor que a tudo sobrepuja e jamais se desfaz.
Estou aqui sozinha.
Fecho os olhos e sinto desabrocharem na alma lembranças de tempos que passaram e deixaram suas marcas .
Uma brisa toca-me o rosto e, como num toque de mágica, conduz-me a recordar preciosos momentos.
Sinto o cheiro da infância com os brinquedos simples, as folias com meus irmãos, a chuva caindo no quintal de terra, o cheiro da geleia de goiaba caseira e do doce de leite apurando no fogão de lenha .
Lembrei-me das brincadeiras de rua, das cantigas de roda,do patinete, do esconde- esconde, das bonecas de louças, do catavento, do pulo com saco, da peteca, da bola, do pular corda, do bambolê, dos carrinhos de madeira, da gangorra de pneu no quintal e das lindas pipas sem cortantes colorindo nossos dias.
E as mães sentadas nas varandas conversando sobre os acontecimentos na cidade.
Sinto também o cheiro do leite fervendo no caldeirão e que fiquei de vigiar, mas que com tantas brincadeiras só me lembrei quando a fumaça se espalhou e me apavorei, porque ia ter que me explicar.
Recordo as serenatas dos admiradores que pelas madrugadas vinham com seus violões tímidos, vozes trêmulas e canções românticas, na esperança de ganhar minha atenção.
Lembranças doces dos recadinhos de amor que recebia em papel perfumado, deixados ao lado de meus cadernos.
E que eu, sempre tímida,nunca respondia .
Sinto saudade de meus pais, e só agora tenho noção de quanto os amei. Já não os tenho mais e percebo que uma parte de mim já não existe, também se foi com eles.
Com tristeza me lembro de pessoas amadas que não fui me despedir e talvez por fraqueza ou medo, preferi suas lembranças.
Sinto o calor de minha cachorrinha, encostada aos meus pés enquanto eu estudava e que se contentava só por estar por perto. Muitas vezes eu nem a percebia e que agora sua fidelidade, falta me faz.
Sinto o cheiro das cartilhas novinhas do primário que eu gostava de encapar, dos mestres que se aprimoraram em me ensinar e até da sopa deliciosa na cantina do Grupo Escolar, onde minha mãe como servente, que ia preparar.
Fui sempre o orgulho para minha mãe, pessoa simples que na sua singeleza mostrava nobreza de caráter e talento. Trabalhou muito para nada faltar e me formar.
Em todas estas recordações, agora sei o que faltou.
Momentos que deixei passar, que não falei, que desprezei, que não valorizei mas, que foram tão marcantes que nunca os esqueci.
Essas lembranças são a força que preciso agora e estão nesse exato momento me acalentando, mostrando ao meu coração que nada acontece sem ter uma razão.
Ao abrir meus olhos percebi que a mesma brisa que trouxe tudo isso à minha mente, agora, num sopro angelical, seca as lágrimas que choro com saudade e emoção.
Agradeço a Deus por ter vivido tantos momentos preciosos, ter podido ajudar pessoas e ser ajudada por tantas outras,
pelos amigos e tudo que vivenciamos juntos,por minha família que me ensinou os valores essenciais para a vida e, por cultivar um amor bonito em meu coração.
É bom sonhar...eles impulsionam nosso viver.
Os sonhos constroem nossos castelos.
Os sonhos trazem as recordações e as levam de volta para nossa caixinha mágica,onde só serão lembradas quando o coração apertar, novamente.
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