Frio
[…] Mas não importa o quão frio você e seu coração esteja, um dia ou outro sempre chega alguém com o poder de aquecer esse iceberg em que seu coração se tornou, um alguém que sempre que você olhar para o lado estará lá, de pé, sorrindo pra você. Um alguém que nunca vai te deixar.
Quanto mais alto mais frio, por isso temos que carregar conosco mais formas de nos aquecer. Assim funciona a vida, o nosso dia a dia, ou você se prepara ou morre de frio.
"Sua voz serena e carinhosa, seus lábios trêmulos talvez de frio, de alegria ou de um susto – nós gemíamos e não há como lhes dizer a dor que nos doía: doía levemente e o bastante para manter-nos vivos."
Um dia decide sentar-me só a beira do lago em um fim de tarde, o vento soprava forte e frio naquele dia, e as folhas secas me fizeram entender que o fim é na verdade uma vida nova que nasce da morte, vou continuar aqui por um tempo depois disso outros virão.
Manhã quente. Banho frio, roupa leve, chegando à cozinha servi-me um pouco de chá gelado, sentei-me à mesa, e contemplava pela janela meu intangível modo de vida. Os jasmins orvalhados já perfumavam aquele primeiro momento do meu dia, e seu aroma já se afinava num acorde perfeito junto com os cheiros do banho e com o perfume do amaciante de roupas, fazendo uma serenata à solidão, que já invadia meu dia afim.
O que eu menos queria era sair dali, quem sabe, quisera naquele momento apenas voltar ao meu leito, e debruçar-me sobre minhas doces lembranças, e viajar no mundo dos meus pensamentos, tão belos, tão cheio de amor, de paz, felicidade. Nesta manhã, por um momento, eu desejei que tudo fosse diferente, tive vontade de correr, vontade de fugir da minha vida, que se concretizou nesse vazio tão profundo.
Tive vontade de fugir, levando comigo apenas poucas coisas, e a mulher que amo. Queria sair pela porta dos fundos, passar o dia tomando sol, à noite pegar o sereno, e depois juntar-me com ela aos outros casais românticos que se beijam no coreto da praça do centro da cidade. Queria fazer-lhe todas as juras de amor eterno que tenho em minha mente, para poder cumprí-las depois, sentir as luzes da cidade nos iluminando, e respirar como se fosse a última vez que inspirava o ar serenado da noite amena.
Hoje eu tive vontade de fazer tudo diferente, ao menos por hoje, nada de drama. Hoje eu só desejei que a minha vida fosse suave, tal qual a água fria que me banhou, tal qual o aroma dos jasmins que enfeitam a minha janela. Mas tudo não passou de um sonho de uma manhã de verão, acabou-se junto com o chá que me refrescava antes de sair pra trabalhar. Ficou a vontade de me sentir gente, humano, que erra, tropeça e cai e sabe se reerguer; ficou a certeza de que não sei mais me erguer sozinho.
Eu fui a flor de alguma primavera eu fui o frio de algum inverno , fui o calor de algum verão e hoje eu sou só vento de alguma estação ...
O novo
Sábado, 17 de Março de 2012
E o outono anuncia sua chegada. Dia nublado, vento frio, fina garoa. Moletom, meias, edredom, chá. Ele ainda nem acabou e já sinto saudades dele: o verão.
A mudança das estações é algo natural e que temos que aceitar. Embora não goste muito, tenho que me adaptar a nova estação. Na vida também é assim. As mudanças são naturais e inevitáveis. Sinto que o outono se aproxima, não só pelo arrepio causado pelo vento, pelas janelas fechadas ao entardecer, mas sinto o outono se aproximar na minha vida também. O outono é uma oportunidade da natureza para chegarmos ao inverno de maneira gradual. Mas só de pensar que tenho que enfrentar o inverno em breve, fico desejando pular as estações e chegar logo à primavera. Mas isso é impossível e antinatural.
As plantas e os animais vivem seus ciclos. Nós também.
Sentir o coração mais acelerado pode ser um sinal do corpo tentando se aquecer, mas também pode ser um sinal de que uma grande e irremediável mudança está porvir.
O outono anuncia: “O inverno logo vem... aproveite a oportunidade para se preparar. Se esconder embaixo do edredom não vai evitar sua chegada”.
Então é isso. Vou levantar do sofá, esquecer o chocolate, abrir a janela e enfrentar o outono. E que venham as mudanças. E que venha o inverno.
Então começo a entrar em colapso. Me sinto frio, trancado.
Ouço barulhos, rumores, parecem pessoas orando em um tom bem baixo.
Dizendo como deve ser, como tem que ser tudo ao meu redor.
São milhares de pensamentos, todos em minha direção.
Começo a entender a minha angústia.
Como as pessoas fazem ela ficar cada vez mais próxima de mim.
Me sinto rodeado de emoções distintas.
Escrevo mais uma frase, e então paro, e penso que alguém está digitando cada palavra do que estou vivendo. E quando percebo, entro em colapso.
Quando tudo está perdido,
Que diferença faz frio ou calor, amor...
Nada, absolutamente nada, apenas observo...
Impune, imune, descrente, desacelerada...NADA!
Vislumbres
No balanço das ondas
No frio das águas
Na poeira da areia
A luz da lua
O brilho das estrelas
O sussurro do vento
O cheiro das algas
O esconderijo dos corais
O vaivém dos passantes
O esconde-esconde dos caranguejos
O amor dos amantes
A risada dos viajantes
E lá de longe, o navio mais brilhante.
[Maceió-AL, 15 dezembro de 2012]
Não deixe seu relacionamento ser frio como única estação. Deve ter a leveza da primavera,o fervor do verão, a calma do outono, e o calor aconchegante do inverno!