Frases de Nélida Piñon

Só envelhece quem vive.

...às vezes, tem ciência de acertar, de atingir por momentos o ápice da narrativa. O raro instante em que, ao atingir a corda sensível do enredo, não lhe cabe recuar ou abdicar dos ingredientes que, apaixonadamente enlaçados, determinam seu desfecho.

Se a imaginação edifica enredos de amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos.

Se a memória simula esquecer os mortos, o amor, albergado no coração e sempre à espreita, a qualquer sinal açoita quem sobrevive às lembranças.

Quando os direitos humanos são desrespeitados em casa, tornam-se públicos.

O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia.

Os sentimentos nascem e morrem encarcerados na mesma concha, raramento indo ao encontro do sol.

O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil.

Se vive e se escreve sem rede de segurança.

Eu não confio no Estado.
Eu confio na vigilância da sociedade.

Aprendo a amar. Uma arte difícil, nenhuma norma me orienta.

Nós nascemos pobres, mas com ilusões.

O afeto é uma espada no peito.

A memória é frágil. Consulto suas fontes no afã de defender meus haveres.

A suprema perdição de não conceber o universo além das dimensões da realidade.

Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez, do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a minha salvaguarda.

Não tenho filhos, mas leitores, capazes por si sós de defenderem a civilização contra os avanços da barbárie. A eles nomeio sucessores de uma linguagem irrenunciável. E, embora duvide às vezes se vale defender alguns princípios hoje contestados, persisto em inscrever certas normas no código dos direitos humanos.

⁠Alijado assim o homem da aventura do universo, expulso de um paraíso onde outrora reinara a sombra de Deus, não lhe restou senão a iniciativa de inventar. De descrever a vastidão do mundo, sob o amparo da arte e da ilusão. De atribuir-lhe inesgotável gama de mistérios por meio dos escassos recursos do seu precário verbo.