Frases Maria da Penha
O nada
Se acha que lhe devo algum dinheiro,
envia a cobrança que eu pago.
Se me disser que lhe devo a sua vida
peço que coloque o seu preço.
Se me falar que a sua vida não tem preço e sim valor,
Sinto muitíssimo,
não haverá resgate.
Liberdade
Tiraram-me as algemas da alma
Sinto-me em total liberdade
Como uma gaivota que alça voo
Ao mais alto dos ares.
Janela
Ei tu... que fica aí me observando
da janela à minha janela
Dá pra dizer o que está achando
do quê observas?
Fica o dia inteiro aí prostrado
me vendo, me lendo...
Colocou insulfilme nos vidros
como senha?
Não funciona,
tem baixa qualidade criptográfica
Estou te vendo.
Visitou um corpo
como quem mergulha num mar revolto
Sobe até o espelho d'água, inspira e desce
com a sensação de afogamento
Permanece por algum tempo
no recursivo procedimento
Sentindo-se satisfeito, já esgotado
abandona o corpo nu.
Suplício
O seu pensamento me apavora
Paralisa o coração
Cabisbaixa vou passando
De soslaio miro os cantos
Com os nervos contraídos
Pulsa o pulso por clemência
Insuportável malevolência.
Infrassom
Se existe silêncio?
Sim, existe à boca fechada
na taciturnidade dos atos
E quanto ao silêncio da alma?
Quem pode responder?
O vento, no sutil movimento
desnudando a mudez
ao eriçar os pelos
da sua cútis rosada.
Reflexão
Não deixou vestígio
os olhares não se encontram
e o íntimo se manifesta
através da melodia e composição
O manifesto sensibiliza
o pensamento oscila
parece afeto
mas, é só ostentação
É o coringa
é a cartada
é o jogo da cilada
vivificada vexação.
Na primeira oportunidade que tive em ter
segurei e tive
Tivesse tido antes, teria tido ainda mais que tive
Cultive o que sobrou daquilo que não obtive
me contive.
Pira
Pirado pela pira, suspira
Olhos fitos na pira
Deslumbrado, alucinado
pelo brilho da pira, pira
nem a pira na verga
verga o caipira
desvairado, deu o pira.
Astúcia 2001
O meu sentimento acabou
quando arremessei o cinzeiro de vidro
com veemência ao chão, estilhaçado
os cacos resvalaram em direção à janela
abrindo uma larga fenda
por onde escapou a minha dor.
Carnaval 2016
Carnaval, eita! como é bom
Samba no pé, pele suada
a rua, um cabaré
Eita!... como é bom
de um lado um beijo molhado
do outro, um desejo danado
e o coração zabumba bumba
no ritmo da canção
Eita! carnaval
overdose de pulsação.
Frio de Outono
Está uma tarde fria
sinto pelos pés
termômetro infalível
Já é hora para um longo banho quente
repudiar os edredons e cobertores
que abrigam a cama
esquecer o pijama de flanela
e sem lamentos
o corpo agasalhar
calçar as botas e luvas
e sair pra labuta.
Desgarrada
Observa como ela passa desatenta
sem pressa, sem lugar
vai, segue indo
É tudo lindo?
Já não vê
está sem rumo
não sente a vida
não tem destino.
Início do fim
Ah! Se você soubesse
se tivesse consciência
se entendesse
e não se fechasse à realidade
compreenderia que se abrisse a sua porta
encontraria a relva verde
veria a delicada flor orvalhada
exalando o puro perfume
no amanhecer do dia
do resto da sua vida.
Poesia-me,
mesmo sendo xucro
ludibriado pelo sonho roto
transcreva, que seja escroto
abduzido e saudoso
meio vivo, meio fogoso
poesia-me.
Entrave
Por que tenho essa ansiedade?
Por que a espera me consome?
Já é madrugada
e continuo com esperança
que o tempo adiante
o que está com a hora marcada.
O vazio do Jeca
Vai lá neguinha
esquentar os pezinhos
é a estação mais propícia
para tomar chá e tirar a cortiça
Vai lá neguinha
seja ao menos coadjuvante
para esse triste cenário
solitário, invernal
leve o seu calor no abraço
nem só de outono
vivem os palhaços.
É triste lembrar da quantidade de idiotas que existem no mundo. Mais triste ainda é saber que do nosso lado existe alguém que não faz parte da exceção.
Aconchego
Que belo o que ousas proclamar,
Mesmo que seja em nome alheio
De ti, nunca vou me separar
Pois um grande amor é sempre verdadeiro.
Se sou rosa e tenho espinhos
És um cravo macio em que posso me aconchegar.