Ao longo da estrada:
"A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!"
Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
"Quantas flores amarelas!"
Acordo molhado de suor -
O sonho do banho
No tanque do quintal!
Sempre do mesmo lado,
O dia todo e a noite inteira,
O vento da montanha.
Mesmo o velho eucalipto
Parece feliz -
Névoa da manhã.
Casebres todos pintados
Na fazenda Cambuí -
Como é bom estar aqui!
Em Cuiabá
Suando e matando mosquitos,
Que cruel zazen!
O chofer de táxi -
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.
Entre as antenas
E as casas todas iguais -
Quaresmeiras!
No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!
Até os pernilongos
Vão ficando silenciosos -
Como os anos passam...
Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar -
Mangueiras da minha infância!
Às dez da manhã
O cheiro de eucalipto
Atravessa a estrada
Mesmo molhado
Resplandece ao pôr-do-sol
O campo de algodão.
A igreja branca
Sufocada entre eucaliptos -
Aldeia de minha mãe...
De uma casa branca
No meio da encosta da montanha
Sobe um fio de fumaça.
Pelo espelho do carro,
Os campos que outrora foram
A casa do avô.
Sob a névoa fria,
O cemitério da vila
Cercado de ciprestes
Não há comida
E as moscas se ocupam
Em fazer mais moscas.
Na casa do avô
Havia tantos pernilongos
Em noites como esta!