Frases de Olga
Se tivesse examinado nas Efemérides o que acontecia no céu naquela noite, nem me deitaria para dormir.
Precisei me sentar e repetir algumas vezes para mim mesma: estou em casa, é noite, alguém está batendo na porta, e só então é que consegui controlar os nervos.
Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?
Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos,
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta.
Não sendo bicho nem deus
nem da raiz tendo a força
ou a eternidade da pedra,
o poeta nas palavras
põe essa força de nada:
sua funda é o poema.
Iraruca
Destino é o nome que damos
à nossa comodidade,
à covardia do não-risco,
do não-pegar-as-coisas-com-os-dentes.
Quanto a mim,
pátria é o que eu chamo poesia
e todas as sensualidades: vida.
Amor é o que eu chamo mar,
é o que eu chamo água.
Os jornais precisam nos manter em constante estado de ansiedade, desviar nossas emoções das coisas que realmente importam para nós. Por que eu deveria me submeter ao poder deles e permitir que me digam o que pensar?
Minhas raízes sempre foram superficiais; a mais leve brisa sempre poderia me derrubar. Não sei como germinar, simplesmente não possuo essa capacidade vegetal. (...) Minha energia é derivada do movimento.
Quem já tentou escrever um romance sabe que a tarefa é árdua. Sem dúvida é uma das piores maneiras de se ocupar.
Tenho a crença inabalável e angustiante de que é nas aberrações que o Ser penetra na superfície e revela sua verdadeira natureza.
Descrever algo é como usá-lo – destrói; as cores vão perdendo a nitidez, os cantos se embotam e, por fim, tudo que foi descrito começa a desbotar, a desvanecer.
Muitas pessoas acreditam que existe no sistema de coordenadas do mundo um ponto perfeito onde tempo e espaço chegam a um acordo.
"Eu gosto de ser completamente eu para apenas uma pessoa. Esse negócio de ter mais de um amor pode ser traidor para o nosso bel-prazer, pelo fato que quando tu ama dois tu nunca sera inteiro só para um, sempre estará apenas com uma de suas metades.
O sofrimento
Calando o sofrimento,
Camuflando o desgosto,
Que se instala
E não se cala.
Esse descontentamento
Do meu espírito.
Esse frete que deambula
Na minha alma
Pelas ruas vagueando,
Sem percalço,
Infiltrando-se em agonia,
Tornando-se fofia.
Carta à Olga n°2
Porque choras, menina?
O sol nem bem se pôs no japão
Pode ainda em breve aquecer suas ideias
Posso ainda dizer, se me permites
Que tu é quem renega o que dizes teu coração
E qual touro em torneio
Tu tens chifrado o teu próprio destino
Óh pobre menina,
Não te rotules , que este rotulo
É quem te finda.
março de 1966...Em setembro, minha filha Olga seguiu para a França, com bolsa de estudos. A solidão começava a tornar-se acentuada. Vivíamos, agora, num país triste, agoniado, com a população passando privações e sob ambiente tenso"
A FÚRIA DE CALIBÃ
Saímos de casa e, imediatamente, nos envolveu esse ar muito familiar — frio e úmido — que nos relembra todos os invernos que o mundo não fora criado para a humanidade, e durante pelo menos a metade do ano nos demonstra a sua hostilidade. O frio atacou brutalmente as nossas bochechas, e emergiram nuvens brancas de vapor de nossas bocas.