Frases de Álvaro de Campos

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De tão interessante que a vida é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas, e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.

Álvaro de Campos

Nota: Trecho adaptado do poema "A Passagem das Horas"

Caem folhas no chão regularmente, mas o fato é que é sempre outono no outono, e o inverno vem depois fatalmente, e há só um caminho para a vida, que é a vida...

Quero partir e encontrar-me,
Quero voltar a saber de mim,
Como quem volta ao lar, como quem torna a ser recebido,
Como quem ainda é amado na aldeia antiga,
Como quem roça pela infância morta em cada pedra de muro,

Ama-se por memória.

E tudo isto, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

O que é feito dos propósitos perdidos, e dos sonhos impossíveis?
E porque é que há propósitos mortos e sonhos sem razão?

A arte é, como toda a actividade, um indício de força e energia.

Que inquietação profunda, que desejo de outras coisas,
Que nem são países, nem momentos, nem vidas,
Que desejo talvez de outros modos de estados de alma...

Nada me prende a nada. Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.

E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.

Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis, que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou.

Saber onde estar para poder estar em toda a parte.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram.

Álvaro de Campos
Poesias de Álvaro de Campos

Nota: Trecho do poema "Começo a conhecer-me" de Álvaro de Campos

...Mais

O meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta...

Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

Sempre falta alguma coisa

Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu. Senti demais para poder continuar a sentir. Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas? Que longe estou do que fui há uns momentos!