Frases de Álvaro de Campos

Cerca de 63 frases de Álvaro de Campos

Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Quero partir e encontrar-me,
Quero voltar a saber de mim,
Como quem volta ao lar, como quem torna a ser recebido,
Como quem ainda é amado na aldeia antiga,
Como quem roça pela infância morta em cada pedra de muro,

Caem folhas no chão regularmente, mas o fato é que é sempre outono no outono, e o inverno vem depois fatalmente, e há só um caminho para a vida, que é a vida...

Ama-se por memória.

A arte é, como toda a actividade, um indício de força e energia.

E tudo isto, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

O que é feito dos propósitos perdidos, e dos sonhos impossíveis?
E porque é que há propósitos mortos e sonhos sem razão?

Que inquietação profunda, que desejo de outras coisas,
Que nem são países, nem momentos, nem vidas,
Que desejo talvez de outros modos de estados de alma...

Nada me prende a nada. Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.

E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.

Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis, que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou.

Saber onde estar para poder estar em toda a parte.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram.

Álvaro de Campos
Poesias de Álvaro de Campos

Nota: Trecho do poema "Começo a conhecer-me" de Álvaro de Campos

...Mais

O meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.

Sempre falta alguma coisa

Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta...

Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu. Senti demais para poder continuar a sentir. Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas? Que longe estou do que fui há uns momentos!