De manhã, a brisa
encrespa o igarapé
e penteia as águas.
Rio na piracema,
peixes pulam nas canoas:
mendigos alegres.
Vento de verão
vem com bafo de mormaço -
garoa ameniza.
Rapsódia incômoda:
ao redor do bóia-fria
moscas do canavial.
A cigarra canta
o anúncio de sua morte -
formigas na contra-dança.
Se deu mal na praia:
menino distraído
pisa numa arraia.
Coruja na cumeeira
arrepia no seu canto -
a viúva reza.
Susto na colheita:
em vez do cupuaçu
cai a casa de vespas.
Sesta no jardim:
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.
Menino amuado
quem te deu tamanho bico
foi o tico-tico?
Dançando a quadrilha
lembrei de aulas de francês.
Onde a professora?
Regato tranquilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.
Céu de primavera.
Nas açucenas floridas
dura mais o orvalho.
Partitura alegre:
cai a chuva sobre o charco
no ritmo dos sapos.
Na caixa postal
a mão sente a queimadura:
taturana presa.
Abre o camponês
sulcos de arado na terra:
no seu rosto rugas.
Hora do recreio:
periquitos tagarelas
brigam pelas mangas.
Açougue nas águas:
piranhas esquartejam o boi
no meio do rio.
Folhas do ciclame
ao vento pra lá e pra cá -
um coração pulsa.
Gaiola se abrindo
e o haijin livre de amarras:
sabiá cantando.