Sesta no jardim: a borboleta me acorda. Coça o meu nariz.
Menino amuado quem te deu tamanho bico foi o tico-tico?
Dançando a quadrilha lembrei de aulas de francês. Onde a professora?
Regato tranquilo: uma libélula chega e mergulha os pés.
Céu de primavera. Nas açucenas floridas dura mais o orvalho.
Partitura alegre: cai a chuva sobre o charco no ritmo dos sapos.
Na caixa postal a mão sente a queimadura: taturana presa.
Abre o camponês sulcos de arado na terra: no seu rosto rugas.
Hora do recreio: periquitos tagarelas brigam pelas mangas.
Açougue nas águas: piranhas esquartejam o boi no meio do rio.
Folhas do ciclame ao vento pra lá e pra cá - um coração pulsa.
Gaiola se abrindo e o haijin livre de amarras: sabiá cantando.
Morcego em surdina morde e sopra o velho gato. Não contava o pulo...
Na casca amarela se esconde em vão a goiaba: tantos bem-te-vis...
Entre o capim seco uma surpresa rajada: ovos de codorna.
A chuva já vem? Não vem. É o marcador cantando a quadrilha.
Brilha mais ereto o penhasco sob o sol: ah o verão fértil.
Sozinho na casa. Lá fora o canto das cigarras. Ah se não fossem elas...
Um pombo no mar traz ao bico verde ramo: terra à vista?
A flor do ipê-roxo cai deixando saudades. Ah, a moça da tarde...
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.