Na soleira do sítio a graúna canta ao silêncio do sol.
Além do quentão, só a orelha da companheira me salva do frio.
Sobe a piracema - ano que vem outros peixes nadarão de novo.
Tempo de uiaúa: o rio onde os peixes nascem é o mesmo que os mata.
Teus olhos formam das ázimas lágrimas rios que retornam ao mar
Abro o armário e vejo nos sapatos meus caminhos. Qual virá no séquito?
Com jeito voyeur da soleira da janela um pombo me espia.
No ocaso do outono só o carrapicho gruda na velha calça...
Maria-fecha-a-porta ao toque do meu dedo: ah plantinha tímida...
Jogando a tarrafa caboclo desfaz a lua. Pesca estrelas de escama.
Em câmera lenta preguiça na imbaubeira passa a outro galho.
Grito de agonia: periquito na jaqueira preso na resina.
Quase desperdício. Moscas sobre caquis podres Só o sapo come.
No embalo do vento palmeiras se abraçam: dois amantes?
Já é quase dia e a lua brilha no lago. Ainda é primavera!
Doceira na noite a negra sorriu: canteiro de estrelas?
Silêncio de outono. Nem o grito do carteiro... cochicho de folhas.
Se deu mal na praia: menino distraído pisa numa arraia.
Coruja na cumeeira arrepia no seu canto - a viúva reza.
Susto na colheita: em vez do cupuaçu cai a casa de vespas.
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.