O amorticida Sem forças ele tenta... Rodrigo Leonardo
O amorticida
Sem forças ele tenta seguir pela a avenida. Ameça levantar o pé esquerdo e quando levanta, nem imagina ele que atrás dele tudo para, mal percebe que adiante tudo também para. Para-se o transito, o ruído dos motores, os ciclistas também param. Para-se o beijo mais apaixonado, do mais novo casal da cidade. No meio da cidade, no meio da praça, no meio da gente ele passa e no meio tempo do seu passo cambaleante que mais lembra um bêbado sem graça, tudo que está por perto, todo ser que o avista de longe, tudo para. Quase se ouve ao fundo alguma melodia triste, mas misteriosamente, na metade do primeiro compasso, toda vontade de canção passa. Concluindo o movimento quase falso e totalmente inseguro do seu passo, o mundo tenta mais um giro, alguém ensaia um discurso, outro alguém bate palmas, copiosamente toda cidade, de forma discreta enxuga ao menos uma lágrima. Tudo volta ao normal e a banda fúnebre da cidade ensaia mais uma canção bonita. Amanhã de tarde, mais um homem, com aquele mesmo nome de sempre, com aquela mesma cara, quase morrerá de amor.