Certo dia eu estava dentro do ônibus em... Bruna Paterlini Marques
Certo dia eu estava dentro do ônibus em um engarrafamento causado por causa do sinal com defeito, olhando para tudo, pedindo para que algo me tirasse do tédio. Existem momentos em que estamos tão entediados que começamos a reparar até mesmo no fio de cabelo dançando no chão por causa da leve brisa. Eu estava assim, até que olhando para os prédios ao meu redor, pude perceber um casal simpático de idosos repousando na varanda. Ela, uma senhorinha simpática com rugas causadas por causa da velhice, sentava em uma cadeira de balanço (sim, daquelas de vovó mesmo) e tomava seu chimarrão. Ele, com brancos e poucos cabelos, sentava em direção à porta da varanda e via algum programa que passava na televisão. Fiquei o tempo inteiro olhando para eles com um sorriso estonteante, imaginando se algum dia eu estaria ali, no lugar dela, sendo paparicada por alguém como ele, que quando a olhava, fazia refletir um tanto de amor. Nossas ações de hoje não passam de reflexos do futuro: às vezes perfeitos, mas muitas vezes sofrendo desvios. Planejamos tudo do modo em que queremos que seja, mas o futuro se encarrega se levar-nos para estradas alternativas, das quais nunca pensamos seguir, e por mais incrível que pareça, ao olharmos para trás, vemos que muitas coisas foram apenas devaneios, outras valeram ou não seguir, e outras precisávamos ver que não dariam certo, mesmo que na hora tenhamos brigado por não ter sido o que esperávamos. É a vida... Muitas vezes o errado, supérfluo, nos parece irresistível, mas acabamos seguindo pelo certo sem ao menos perceber. O vento se encarrega de levar-nos segundo os corações que nos atraem, que nos tem por inteiro. Nos leva para o coração que cuidará como nenhum outro cuidou. Onde o silêncio reina enquanto as almas descansam sem pesar sobre os corpos quase desnudos relaxados sobre as cama. Caminhos... Apenas fios emaranhados que um dia voltarão às suas origens.