Céu de coração, coração de céu.... Clarissa Brunholo

Céu de coração, coração de céu.

Meu coração é vintage.

Ele nunca mudou. As pessoas que estiveram nele jamais saíram. Os desejos dele apenas se acumulam desde os primórdios da minha existência. Sua intensidade vai aumentando.

E dizem que envelhecer diminui o ritmo das coisas.

Para mim, acumula.

É o coração de anteontem, com o de ontem, com o de hoje e com o que será amanhã. É um peso grande ter coração vintage. Mas, fato: não consigo reciclar o meu.

Ainda fico sonhando com as coisas que já se passaram nele e com as que eu gostaria muito de vivenciar. É bastante intenso.

Pessoas como eu não costumam morrer de infarto. O coração é forte, robusto, aguenta carga sanguinea que for.

É quase como a atmosfera: tem um quê de volúvel mas é previsível. Sabe, tem aqueles dias em que o céu está tão diferente do usual que nem se consegue reconhecer como um “céu”.

Tem os dias que ele brilha, azul, azulzinho, quase sem nuvens, parece o infinito mesmo. Tem os dias cinzas, com as nuvens baixas e carregadas, você vê claramente - vai chover. E não é que, sol e chuva dá casamento de viúva? Não é que nuvens negras são sopradas para outro canto desaparecendo, de repente, para chover sob outras cabeças? Não é que aquele sol quentíssimo fica encoberto como se fosse um dia de inverno, em plena primavera, por questão de minutos?

Atmosfera imprevisivelmente previsível. Como o coração vintage.

Então se você vir aquele lindo e colorido céu, que se fica abobado olhando e pensando como foi possível formarem-se tantas coisas ali, no céu, aquele que você vê todo dia, coisa simples, que faz parte da rotina - nessas horas, aproveite. É o momento mais especial do céu, do coração. Quando ele se entrega e se abre para todos e mostra suas memórias antigas e tudo de melhor que está junto delas. Uma explosão de sonhos e memórias positivas submersas naquela atmosfera.

Pois é que o coração vintage tem suas vantagens. Eu tenho muito para dar. Muito mesmo. Assim como o céu.