SOMBRA Quem, entre todos que a mim... Naeno Rocha

SOMBRA

Quem, entre todos que a mim olham,
me veem como sou de fato, um assombro.
Que encorajado sem ver nada, bate o meu ombro,
e diz tratar-se das minhas invenções.
O fato de eu estar perdido, pesa,
mas não sou eu quem não se encontra,
não esse que ao seus olhos conta,
como matéria pura, que faz sombra,
existe, ou por aqui já esteve
outro igual a mim, que não era eu,
um vestígio, talvez uma ilusão dos olhos,
pois nestes terrenos nunca pisei meus pés.
Sou este ausente, o que se sente, miserável e mentiroso,
tambem sou, o que desvia os olhares bem inencionados das pessoas,
que se viram a procurarem em mim,
marcas de outro passado, de onde não vim,
e afirmo ser, tudo como eu, enfim,
um nada que se mostra agora,
e ninguém percebe, ou se dar conta,
de que fui invandido por uma grande onda,
também de um oceano inexistente.
Sofro de um mal recorrente,
e de saber, tudo sobre essa criatura,
que não é uma caricatura,
sou eu em pele e ossos,
que deixa sombra por onde passa,
mas fica só um rastro,
o do que não vejo e é minha companhia,
aonde eu vou, até se eu entrar o céu.