Sentado à beira-mar Sentado à... Fernando Luiz de Souza Silva
Sentado à beira-mar
Sentado à beira-mar,
Com o corpo levemente curvado
Braços apoiados em suas pernas
Com o livro da vida nas mãos
Olhar perdido por trás das lentes
Alheio ao vai e vem dos pedestres
Que vez ou outra param para fitá-lo.
Sentado à beira-mar,
Alheio ao vai e vem das ondas em sua retaguarda,
A aurora e o arrebol,
A noite enluarada acendendo as estrelas,
O orvalho e a chuva,
A brisa suave e a ventania.
Sentado à beira-mar,
Inerte, dia após dia, integrado ao seu silêncio
Divagando em sua própria quietude
Sem preocupação com o tempo
Seu tempo agora é eterno.
E agora Carlos?
Que não há mais pedra em teu caminho...
Drummond e agora?
E agora que você se foi
Poesia não escreve mais...
Carlos... E agora?
E agora você?
(homenagem póstuma ao grande poeta Carlos Drummond de Andrade)