SURREALISMO MANUAL DE UM POETA E SUAS... Alex Sakai
SURREALISMO MANUAL DE UM POETA E SUAS LETRAS.
As letras solícitas se curvavam
à direita e a esquerda
em clássica reverência à mirada do poeta.
As vogais abertas clamavam.
Agitavam.
Ululavam.
As consoantes conspícuas posavam com discrição a sua incrível erudição sonora,
de tradição surda e muda.
Com a mão pousada sobre o papel,
o poeta jogava com a caneta entre os dedos,
Enquanto cumprimentava, com a direita, um sonzinho recém-chegado.
Com a terceira mão limpava os olhos.
Com a quarta semeava pássaros sobre as cinzas do poema,
Cujas raízes alimentavam sua outra mão,
de onde borboletas silenciosas brotavam
e iam pousar em forma de letras na sexta mão,
que as recolhia e metia no bolso esquerdo.
Enquanto a sétima mão
coçava as orelhas
em forma de lira.