E depois de longas voltas pelo quarto,... Twoany R

E depois de longas voltas pelo quarto, andando para lá e para cá como se estivesse procurando uma saída de emergência; depois de várias doses de café amargo; depois de várias tragadas enquanto andava e goleava o café, descobri a origem do nosso problema.
Descobri o que nos trouxe até aqui. O que nos fez chegar aonde chegamos. Não sei bem onde estás nesse exato momento, mas sei onde estou, e é bem longe de ti. Sinto essa distancia dentro de mim, seu valor não é muito preciso, mas algo me diz que são muitas as milhas que nos separam.
Olho para a janela, e por um misero minuto te vejo na calçada, sentada no banco de ferro pintado de madeira. Por um misero minuto penso que tu voltaste para mim… Engano meu.
Um dia me disseram que nada é para sempre. Disseram-me que com o tempo as coisas vão perdendo a cor; o sol vai se pondo, o dia amarelado vai se tornando cinza, branco… Preto. Olhe para mim! Sou a prova disso. — posso sentir meu sangue em preto e branco. A falta das cores me corta por dentro. Minhas mãos me cortam por fora.
Isso tudo por causa do nosso problema. Pequeno detalhe que separou nossas vidas. Que a fez parecer um café quente esquecido sobre uma cabeceira fria; a cabeceira esfriou o nosso amor. Qual o nosso problema? — você deve estar se perguntando agora, do mesmo jeito que me perguntei durante todos os dias que ficamos separados. A diferença é que eu achei a resposta.
Ela estava bem em baixo do meu nariz e talvez seja por isso que não a conseguia ver. Coisas desse tipo não são vistas, são sentidas. Eu senti, você não. A sua insignificância para comigo me destruiu por dentro. Picou-me em pedaços que foram jogados em um roseiro cheio de espinhos.
Afastei-me. Sumi. Tranquei-me em um quarto. Comecei a viver a minha realidade. Comecei a me relacionar com as pessoas que criei em meu mundo. Eu te troquei por um quarto escuro e opressivo e mesmo assim senti a sua falta lá, senti falta da cor que você costumava me trazer. Do café forte que costumava fazer… Do sorriso que você dava assim que me via. Senti falta das tardes amarelas das quais costumávamos sair para tomar um sorvete enquanto olhávamos os pombos comendo as migalhas de pão caídas do chão.
Mas eu sei. Você não irá voltar. Não irá sentir a minha ausência se eu não anuncia-la. Esse é o nosso problema. Eu fiquei esperando você sentir a minha falta. Esperei você me procurar, me chamar, me gritar… Mas sua boca continua fechada. Não escuto sua voz desde que parti. Eu sinto a sua falta, amor, mas como sempre estou esperando você sentir a minha.