Era assim... ele não a conhecia, mas a... Jean Douglas Pereira

Era assim... ele não a conhecia, mas a olhava de longe. Ela já sabia quem ele era, mas desviava o olhar. Ele sabia que ela era intocável, inatingível e talvez por isso a desejava tanto. Ela sabia que ele era popular e havia tido provas suficientes para apenas um dia. Ele ansiava saber seu nome. Ela teimava em manter-se “invisível”. Ele era persistente. Ela era reticente. E por mais que ambos ao seu peculiar modo evitassem, de alguma forma qualquer tipo de contato mais pessoal, nenhum dos dois conseguia esconder o que realmente esperavam um do outro. Ela esperava que ele parasse de ser tão chamativo. Ele esperava que ela visse nele o que todos viam. Ela via nele o que todos viam, mas talvez ele não entendesse realmente o que ela via nele. Ele esperava que ela se mostrasse um pouco mais, assim ele não teria receio de lhe tocar o rosto. Ela tinha um rosto de boneca, daquelas produzida sob o mais fino trato. Ele tinha aquela barba por fazer e carregava sempre um sorriso sacana em seu rosto. Ela, mesmo contrária a suas pretensões, amava a forma como ele não se preocupava com o mundo a sua volta e isso a fazia sorrir de forma boba. Ele amava o fato de como ela se mantinha firme, sempre sendo detalhista em cada passo, cada suspiro. Ela tinha medo de tudo que poderia acontecer. Ele tinha medo do que poderia acontecer, se outro chegasse antes dele. Eles eram diferentes em tudo. Ela retraída. Ele extrovertido. Ela simpática com quem achava que devia ser. Ele simpático com todos os a sua volta. Mesmo com essas diferenças todas, os dois se tornavam cada vez mais próximos, apesar de nenhum deles ter conhecimento do sentimento do outro, era um amor quieto, calado, ingênuo e por que não avassalador de sua única e singela forma? Não tinha explicação! Ela pedia para suas amigas, o que deveria fazer. Ele evitava comentar seus sentimentos aos seus amigos. Ela sempre obtinha a mesma resposta: - Fica do jeito que tá e deixa-o vir que um dia ele virá. Ele não sentia vergonha do que sentia e sim medo de que chegassem ao ouvido dela e tudo se perdesse. Ela sabia que ele não era perfeito, mas isso não importava muito pra ela. Ele sabia que ela era perfeita demais pra ele, ao seu modo, e isso o deixava inquieto. Ela o amava. Ele a amava. Isso bastava, em silêncio começou só que agora o silêncio não mais bastava. Ele tomou coragem e se aproximou, pediu seu nome. Ela corou, com as mãos trêmulas, pronunciou. Ele então a convidou para um passeio no final da tarde, que ela de prontidão aceitou, então não se teve mais pontos, não teve mais “Ela” e não teve mais “Ele”. Havia agora duas pessoas, dois tipos de pessoas que não se completavam e sim agora se somavam, juntos até que nada mais precisasse ser explicado, nada mais precisasse ser dito e que se um dia acabasse que terminasse da mesma forma, em silêncio e de forma pura e ingênua.