Se fico alegre, rio, mas não passo por... Clara Furtado
Se fico alegre, rio, mas não passo por cima de ninguém para ser feliz, sei o meu lugar; se sinto raiva, grito, bato, mas nada em vão e com toda classe do mundo; se sinto ansiedade, não paro quieta, mas isso só para tentar matar a ansiedade; se sinto medo, mesmo que seja do escuro, fico quieta e peço proteção, eu realmente não sou a Mulher Maravilha.
Se sinto saudade, falo ou vou mesmo, assim eu ache que devo, afinal, se não prejudicamos nem a nós e nem a ninguém, no fim das contas o que importa mesmo é ser feliz. O pior erro é se consumir sendo que podemos falar ou ir; se me sinto carente, peço carinho, principalmente quando tenho certeza que o terei, afinal, carinho é tão bom, não é mesmo?
Se amo é pra valer, pois amar vale a pena, mas só se for O Amor, eu preciso entender que é Amor com todo o seu encanto e força, até e principalmente nas crises e turbulências; se eu perceber que na verdade não era Amor verdadeiro, aquele que queremos envelhecer junto, vendo e tendo ruga feliz na nossa face e na face do outro, porque nos sentimos bem ao lado, porque nos sentimos protegidos e seguros como se o nosso querido Amor fosse de ferro, porque não queremos nem sair de perto e se saímos contamos os segundos para estar de volta, pois nos faz chorar de saudade, que nos completa pois a ausência nos faz sentir pela metade, que enxergamos naquele ser as nossas vidinhas ainda nem geradas, que dizemos que 'vai dar certo' e não 'se der certo', sem traição, mentiras, falsidades; se não for assim, deixo no esquecimento, porque se não é O Amor, não é nada e definitivamente não vale a pena. Não se diz "Eu Te Amo" para qualquer um, só para quem amamos de verdade e se não é Amor, logo notaremos e os 'eu te amos' infelizmente terão sido em vão e engano, mas o bom é que decepção não mata, ensina a viver. Apenas se odeio procuro esquecer, porque odiar dá rugas, ninguém merece.
Não sei viver de mentiras, não sou hipócrita, se for preciso digo na cara, entendendo que nem toda verdade precisa ser dita e quando for, temos que saber como, onde, para quem e quando dizê-la. Não aceito injustiças nem comigo e nem com os outros. Não engulo calada e nem parada, não sou de ferro e nem tenho sangue de barata. Não levo desaforo para casa, senão não consigo dormir direito e detesto insônia e olheiras, mas não faço nada se aquilo não me convém ou não compense nenhum segundo da minha atenção. Não me exponho em vão e não sirvo de palhaça para ninguém. Só uso as minhas emoções se realmente valer a pena, senão ignoro usando todo o meu desprezo, viro as costas, saio e deixo falando só. Me poupo de certas coisas pequenas que além de não se igualarem a mim e não serem dignas de minha atenção, podem causar cabelos precocemente brancos estragando minhas nuances loiras que completam minha personalidade e tudo sem perder a classe, porque cair do salto, não dá.
Não entrego o que é meu de bandeja, corro atrás dos meus objetivos e entre os meus projetos de vida não incluo desistir, além do mais, o que é para ser nosso ninguém tira e se não for para ser, o sábio tempo dirá. Só paro se vir que minha luta possa estar abalando o meu amor próprio, que sempre virá antes. Não confundo obstinação e objetivo com teimosia e burrice. Existe uma linha tênue entre os dois que não pretendo quebrar jamais, sabendo priorizar na vida as coisas que realmente importam e valorizando o que realmente tem valor, colocando sempre Deus em primeiro lugar e depois eu e eu de novo e de novo, amando os que nasceram para eu amar: família, amigos verdadeiros e o resto, se fizer por merecer.
Não desisto dos meus sonhos, pois tenho muita Fé em Deus, acima de tudo e desistir não combina comigo. Eu poderia correr atrás de algo, achar não ter conseguido e em um belo dia dizer que desisti pois já tentei demais e cansei ou simplesmente porque me acomodar e cruzar os braços seria bem mais fácil, mas eu prefiro não fugir da raia e tentar, mesmo que nem sempre alcance o sucesso pleno, então, visualizo minha meta, traço uma linha reta até ela, passo por cima de todos os obstáculos como um tratorzinho sem desviar ou ser desonesta com ninguém (honesta, sim; boba, nunca) e no fim tudo dá certo, de um jeito ou de outro.
Não sou inabalável, de jeito nenhum. Quem disse? Sou humana, erro e erram comigo. Caio sim, pois estamos todos sujeitos à queda, mas não sou do tipo que fica no chão, me lamentando pelos arranhões, eles saram e das cicatrizes, as lições. Sou do tipo que cai sim, mas que não desanima, reconhecendo com toda a humildade do mundo que caiu, aprendendo e tirando lições daquilo, mas, como diz a letra, levantando com certeza, sacudindo a poeira e dando a volta por cima refeita.